Ela tem 22 anos e, até ao ano letivo passado, frequentava o último ano da licenciatura da Ciências da Comunicação da Universidade do Porto. Ele tem 24 anos e está a quatro cadeiras de concluir o curso de Ciências do Desporto na Faculdade do Desporto (FADEUP). Mas, para além da ligação à U.Porto, há (pelo menos) mais três coisas que unem Leonor e Tomás Bessa. Partilham o mesmo sangue, são fãs incondicionais de Tiger Woods e, recentemente, entraram para a historia no desporto português ao serem os primeiros irmãos a vencerem no mesmo ano os dois títulos principais do golfe nacional.

Foi em julho passado, em Chaves, que os “manos” Bessa alcançaram o que nunca antes se tinha visto nos 30 anos de história do Solverde Campeonato Nacional PGA. Para Leonor, tratou-se da repetição do feito obtido em 2018, quando se sagrou pela primeira vez campeã nacional a nível profissional. Já Tomás venceu pela primeira vez um campeonato nacional a nível individual, deixando pelo caminho nomes como Ricardo Santos, um dos melhores golfistas portugueses de todos os tempos e atual n.º1 nacional no ranking mundial.

Para além dos dois títulos profissionais, Leonor Bessa foi campeão nacional amadora de golfe durante oito anos. (Foto: DR)

Para os dois irmãos, esta vitória em família “foi a cereja no topo do bolo” numa fase em que ambos se dedicam inteiramente ao golfe profissional. Uma modalidade que abraçaram desde muito cedo, por influência do pai, também ele um ex-jogador.

Não é um desporto fácil de se gostar à primeira porque é muito difícil e os resultados demoram a aparecer, mas é sem dúvida o desporto mais desafiante e técnico que conheço!”, reconhece Leonor, cujo percurso inclui a conquista de vários títulos de campeã nacional nos escalões juvenis, como amadora de alto rendimento e em representação da U.Porto. Quanto a Tomás, é um “habitué” nas seleções nacionais de golfe e conta no currículo com várias vitórias a nível nacional e internacional, para além de várias medalhas nos Campeonatos Nacionais Universitários (CNUs).

Leonor e Tomás Bessa (ao centro) já tinham celebrado uma vitória conjunta nos Campeonatos Nacionais Universitários 2017, competição em que ambos conquistaram a medalha de ouro com as cores da U.Porto. (Foto: CDUP-UP)

Foi, de resto, a decisão de enveredar por um percurso profissional no golfe que, há dois anos, levou Tomás e – já no ano passado – Leonor a mudarem-se para o Algarve, onde vivem e treinam. Para trás, ficaram as salas  da Universidade, mas não o objetivo de terminar as respetivas licenciaturas. “Não consegui terminar as cinco cadeiras que me faltam, mas tenho como objetivo tentar terminar o curso online”, confessa Leonor.

Concluir o curso é também objetivo de Tomás, ainda que reconheça que “é muito difícil conciliar a alta competição com os estudos. São muito torneios, muitos treinos , muitas viagens. Faltava muito às aulas e muitas vezes excedia o limite de faltas e nem era admitido a exame ou a ser avaliado. A partir do momento que me profissionalizei, adquiri o estatuto estudante-trabalhador e consegui ter acesso a um regime mais flexível de faltas e avaliações”.

No futuro imediato, a prioridade dos irmãos Bessa passa, contudo, por continuar a brilhar nos greens por esse mundo fora. “As perspetivas para o futuro são entrar no principal circuito europeu feminino (ladies European tour) e poder viver do golfe”, projeta Leonor. Quanto a Tomás, promete novas pancadas vitoriosas para “chegar ao top mundial do golfe profissional!”.

Tomás Bessa é golfista profissional desde 2018. (Foto: DR)

Naturalidade? Porto

Idade? 22 anos (Leonor) e 24 anos (Tomás)

– De que mais gostam na Universidade do Porto?

Leonor Bessa (LB): O que eu mais gosto na U.Porto  é a possibilidade de haver uma interação entre vários cursos e poder ter acesso a outros polos universitários, o que alarga o leque de possibilidade de interação com outros colegas e mais conhecimento!

Tomás Bessa (TB): O que mais gosto é do ambiente que existe entre todos os estudantes, mesmo de faculdades diferentes.

 – De que menos gostam na Universidade do Porto?

LB: No meu caso, o que menos gosto é da impessoalidade para com os estudantes “ditos especiais”. Por exemplo, eu, que pratiquei golfe a minha vida toda e sou a melhor jogadora do país, os benefícios e reconhecimento que tenho são nulos!

TB: Nada a assinalar.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

LB: A universidade devia procurar inteirar-se de programas já existentes noutros países que permitem conciliar o desporto com a faculdade e formar atletas!

TB: Melhorar a qualidade do atendimento online para esclarecimento de dúvidas aos estudantes.

– Como preferem passar os tempos livres?

LB: Tenho poucos tempos livres mas gosto de ir ao teatro , cinema , cozinhar e jantar com a família ou amigos.

TB: Quando tenho tempo livre, gosto de ler , ver filmes e séries.

– Um livro preferido?

LB: Focus, de Daniel Goleman

TB: Um que li recentemente: O Espião Israelita, de Don Alfon.

– Um disco/músico preferido?

LB: Mariza

TB: Gosto muito de Red Hot Chilli Peppers.

– Um prato preferido?

LB:

TB: Lasanha de espinafres

– Um filme preferido?

LB: A vida é Bela, de Roberto Benigni.

TB: Shutter Island, de Martin Scorcese.

– Uma viagem de sonho?

LB: Nova Iorque.

TB: Gostava de conhecer alguns países à volta do Mar das Caraíbas, como a Jamaica, Republica Dominicana etc.

– Um objetivo de vida?

LB: Chegar ao circuito americano de golfe LPGA.

TB: Chegar ao top mundial do golfe profissional.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

LB: Tiger Woods e Cristiano Ronaldo.

TB: Tiger Woods. Para mim, e para muitos, é o maior desportista de todos os tempos. O impacto que ele tem e teve quando surgiu na ribalta do golfe mundial foi e continua a ser incrível. A maioria das pessoas conhece ou já ouviu falar no Tiger Woods, mas não fazem a mínima ideia de quantos buracos tem um campo de golfe .

Uma ideia para promover o golfe junto da comunidade académica?

LB: O golfe é um desporto ainda muito reconhecido como elitista, o que está errado. Acho que, por exemplo, a Faculdade de Desporto, juntamente com a de Letras (na área dos media), podiam desmistificar esse preconceito e divulgar o desporto com workshops, notícias ou divulgação de eventos…

TB: Acho que se podiam dinamizar workshops para dar a conhecer a modalidade. Não conheço ninguém que tenha experimentado golfe e que não tenha gostado. Acho que é um desporto mais interessante depois de perceber bem o objetivo e alguns aspetos básicos.