A frequentar atualmente o 1.º ano do Programa Doutoral em Ciências Médicas do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, Leonardo Moço é o vencedor da Bolsa de Doutoramento Nuno Grande (BDNG) 2024, com um projeto que procura encontrar uma terapêutica eficaz para a Doença do Enxerto Contra Hospedeiro (DECH).
A DECH é uma patologia resultante da transplantação de medula óssea, a que muitos doentes com cancros hematológicos (principalmente leucemias agudas) são submetidos. A proposta de Leonardo Moço visa garantir o bem-estar dos doentes sem necessidade de recorrer ao uso intensivo e prolongado de corticoides
Para o jovem cientista, “este prémio será essencial para a aquisição de ferramentas e para o desenvolvimento de missões de aprendizagem” que, acredita, o “farão crescer muito como médico-investigador”. Além disso, constitui um enorme reconhecimento por parte de uma casa “que me diz muito”.
A Bolsa de Doutoramento Nuno Grande é uma iniciativa da família do histórico médico, professor e fundador do ICBAS, do próprio Instituto e da Fundação BIAL, à qual Nuno Grande esteve ligado mais de 20 anos. A edição deste ano foi entregue no passado dia 23 de maio, na Sessão Solene do Dia do ICBAS, integrada nas comemorações dos 50 anos do Instituto.
Idade: 28 anos
Naturalidade: Vagos, Aveiro
– Do que mais gosta na Universidade do Porto?
O Porto, então! Numa cidade deste gabarito, a respetiva Universidade não poderia, nunca, ficar atrás! Uma cidade que sabe a casa, de gente cheia de autenticidade, reflete-se numa universidade bastante familiar. O que não é, de todo, uma limitação à sua excelência, mas antes uma adição.
– Do que menos gosta na Universidade do Porto?
Acredito que talvez haja espaço a um maior intercâmbio interfaculdades. E admito que estou a ser hipócrita, porque pouco frequento o que já existe e se faz (e que já é bastante). Mas talvez uma maior diversidade de eventos científicos e socio-culturais, comuns a toda a U.Porto, transversais às várias áreas do conhecimento, assim como uma maior estimulação à frequência de unidades curriculares de outras faculdades, ajudasse a tornar a Universidade mais convergente e unificadora.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Lá está, acredito que seria bastante enriquecedor para o percurso académico e pessoal dos estudantes frequentarem unidades curriculares de outras faculdades, à sua escolha.
– Como prefere passar os tempos livres?
Tocar piano; fazer babysitting do meu gato “Bemol”; usufruir de um fim de semana pachorrento, que passe por ir buscar pão à padaria e comer cabidela no restaurante familiar à frente de casa; em frente a uma lareira com a família; pelas ruas do Porto com os amigos; comigo próprio, um livro, sol, música e um copo de vinho.
– Um livro preferido?
Tenho mesmo de nomear três: porque tenho a cabeça muitas vezes perdida pelos astros – Crónicas Marcianas, de Ray Bradbury; porque tenho sangue materno, e um bocado de alma, brasileiros – Capitães de Areia, de Jorge Amado; e Vinhas da Ira, de John Steinbeck, porque lá está, um copo de vinho combina sempre bem.
– Um disco/músico preferido?
“Rumours”, de Fleetwood Mac. É fantástico, e nostálgico, dar conta de que tamanho carrossel de emoções e relações que esta banda atravessou culminou neste álbum extraordinário.
– Um prato preferido?
Arrozada de Mariscada! Sufixo “ada” é sempre bom prenúncio.
– Um filme preferido?
Gostava de ser melhor apreciador de cinema. Mas sem dúvida, um que me marcou particularmente pelo conteúdo, pela excecionalidade da história, pelo contexto em que o conheci e em que o decidi ver, e pela música, foi o filme Le Fabuleux Destin d’Amelie Poulain.
– Uma viagem de sonho?
Uma temporada no Brasil, para sugar o máximo possível daquela cultura, conhecer o Leonardo sul-americano frenado pela Europa, e terminar o dia, por mais difícil que seja, num churrasco, grato ao pôr-do-sol.
– Um objetivo de vida?
Otimizar-me constantemente, no sentido pleno da palavra, em todos os domínios. Parece extenuante…
– Uma inspiração?
Tenho uns tantos, felizmente muito palpáveis (no sentido figurativo, atenção!). Do saber “questionar” – o Delfim, meu orientador deste doutoramento. Do saber “ser mestre” – o professor Rui Henrique na ciência; e o professor Domingos Peixoto na música. Do saber “cuidar” – a Dra. Luísa Viterbo. Do saber “viver” – os meus pais. Do saber “servir” – a minha avó Perpétua.
– O projeto da sua vida?
Gostava de deixar uma marca importante na vida (e no seu fim) dos meus doentes, e de ser uma inspiração para os meus alunos. Ao mesmo tempo, também me vejo com um pé pelo mundo. Não sei! Estou disponível.
– O que significa vencer este prémio?
É sem dúvida uma motivação. Repito que esta ideia é total propriedade intelectual da minha equipa de orientação. Mas ainda assim, vejo este prémio como um reconhecimento pelo investimento que tenho colocado no meu crescimento como aprendiz de médico-cientista. E caramba, o simbolismo que é – o epónimo de “Nuno Grande”, uma figura mítica que apesar de infelizmente não ter tido o prazer de conhecer, nós, alunos do ICBAS, sentimos ainda assim que o conhecemos por toda a filosofia que nos chega logo desde o primeiro dia em que pomos os pés no ICBAS, e que felizmente vai atravessando as gerações; e ser entregue no 50.º aniversário desta escola guiada por tão bons valores, da qual tenho tantas boas memórias, e que me moldou na pessoa que sou hoje.
– Na sua ótica quais os grandes desafios da ciência atualmente a nível global?
Lembro-me de dois. A corrida pelo financiamento e a pressão para publicar. E, na sequência deste, as discrepâncias que se observam no investimento na ciência. Discrepâncias essas entre diferentes áreas de conhecimento, mas também, e tão ou mais gravoso, entre diferentes países e etnias, quer no acesso a oportunidades de fazer ciência própria, quer na sua representatividade e inclusão na ciência feita por outros.