Antes de ser engenheiro, João Pedro Ramos, 26 anos, quis ser piloto de aviões. Tanto que foi entre as aulas de voo do Curso de Piloto Comercial de Aviões (que havia de concluir em 2016) que decidiu candidatar-se, em 2014, ao Mestrado Integrado de Engenharia Eletrotécnica e Computadores na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Durante o curso escolheu o ramo de energia e especializou-se em estabilidade da rede elétrica, tendo também demonstrado curiosidade por eletrónica de potência, incutida pelo seu professor e futuro orientador de tese, Rui Esteves Araújo. Fazendo a ponte entre estes dois campos, surgiu assim a dissertação final de curso – intitulada “Conversão de Energia de Geração Fotovoltaica com Inércia Sintética” – , que implementa uma solução de inércia sintética num inversor fotovoltaico usando energia armazenada num condensador DC Link.

“Este método com baixo custo e de alta eficiência pode melhorar a estabilidade da frequência do sistema e até proteger os consumidores de uma falha de fornecimento de energia”, explica João Pedro Ramos. E foi com esta tese de mestrado, apresentada em 2019, que conquistou o 1º lugar do Prémio REN 2020, um dos mais antigos prémios científicos em Portugal, destinado às melhores teses de mestrado (anualmente) e doutoramento (bianualmente) na área da energia desenvolvidas em universidades portuguesas.

No INESC TEC, João Pedro Ramos continuou a investigação nesta área, procurando novos métodos de inércia sintética e analisando estabilidade de redes reais com a entrada de geração renovável. Agora, o  futuro imediato passa pela investigação em contexto empresarial, já que irá abraçar um novo desafio profissional em 2021 numa empresa produtora de turbinas eólicas.

Naturalidade? Trofa, mas vivo em Vila do Conde desde os 9 anos.

Idade? 26 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Gosto do ambiente científico focado em fomentar o desenvolvimento das capacidades de investigação e pensamento crítico dos alunos, promovido pelo corpo docente da Universidade do Porto. Admiro, também, o esforço para a inclusão de estudantes estrangeiros de modo a promover a troca de culturas e realidades no ensino superior, dando reconhecimento mundial à Universidade do Porto.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Na FEUP tive acesso a um ensino de excelência. Apesar disso, penso que um aspeto negativo passa pela contratação do corpo docente baseada no currículo científico e não nas suas capacidades de ensino.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Conforme a minha resposta anterior, corpo docente deveria manter-se atualizado e mais jovem, de modo a renovar o plano curricular das diferentes áreas com uma maior frequência, consoante o ritmo da inovação científica.

– Como prefere passar os tempos livres?

Desde cedo que valorizo passar tempo de qualidade com as pessoas que me são mais próximas. Nos últimos 5 anos tenho-me dedicado ao trekking e, mais recentemente, aventurado pelo mundo dos jogos de tabuleiro e fabricação de cerveja artesanal.

– Um livro preferido?

Tenho preferência por policiais e thrillers como, por exemplo, os livros da saga Sherlock Holmes, ou fantasia, como Senhor dos Anéis.

– Um disco/músico preferido?

Sou fã de Rock dos anos 70 e 80, em específico de Queen e Led Zeppelin.

– Um prato preferido?

Carne guisada com massa ou Carnes grelhadas.

– Um filme preferido?

Devido ao meu interesse pela aviação, gosto especialmente do Top Gun.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Idealizo, desde há muito tempo, uma viagem à América Central, que provavelmente teria realizado neste ano, caso não houvesse a pandemia.

– Um objetivo de vida?

O meu objetivo é de vida passa por me superar. No meu ponto de vista, há uma necessidade de evolução de conhecimentos e de faculdades até conseguir, eventualmente, deixar um legado significativo no mundo da Engenharia.

– Uma inspiração?

Penso que a minha família, que sempre foi dedicada ao trabalho, me inspirou e incentivou a dar sempre o melhor de mim.

Na engenharia, tenho de salientar a influência dos meus professores da FEUP no meu percurso, em especial o meu Orientador, Professor Rui Esteves Araújo, que me orientou na elaboração de uma tese inovadora e me apresentou ao mundo da Eletrónica de Potência. Também o  Professor João Peças Lopes e a Professora Maria Helena Vasconcelos por me introduzirem a Dinâmica e Estabilidade do Sistema Elétrico.

– Qual o significado do prémio atribuído pela REN. Que impacto é que o trabalho poderá ter na área e na sociedade?

Foi com um enorme orgulho no reconhecimento deste trabalho que recebi a notícia de que teria sido distinguido com o 1º Prémio REN de 2020. A ideia do meu projeto passa pela aplicação da energia armazenada em condensadores existentes em inversores de geração fotovoltaica sob forma de inércia sintética, ajudando assim a estabilidade do sistema. Por outras palavras, esta ideia passa pela injeção de potência no sistema para garantir que haja uma compensação dada pela pequena geração fotovoltaica quando há uma falha na produção no sistema.

Em termos práticos, a falta de inércia no sistema elétrico cresce com a integração de parques eólicos e fotovoltaicos. Para responder a esta perda de estabilidade no sistema, poderá ser necessário garantir que estes parques possuam soluções de inércia sintética, sendo a solução que explorei na dissertação mais barata e eficiente.