Depois de quase quatro décadas, João Marques Teixeira despediu-se no início de maio da docência na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP). Para trás ficam “anos bastante gratificantes” de “uma vida dedicada ao ensino e à investigação, onde dei muito de mim, mas recebi muito mais dos outros. Onde aprendi que todas as opiniões são válidas, desde que bem argumentadas”, resume o psiquiatra, psicólogo e figura de relevo na área da Saúde Mental em Portugal.

Mas recuemos na história. Foi em 1984 que João Eduardo Marques Teixeira chegou à FPCEUP para assumir o cargo de assistente convidado, deixando para trás a docência na Faculdade de Medicina, pela qual se licenciou em 1974. E não tardou a deixar a sua marca, ao abraçar a “possibilidade de desenvolver uma área importante na Faculdade – a área da Biologia do Comportamento – para o ciclo básico e de aplicar estes conhecimentos na área do comportamento desviante, criada pelo Prof Cândido da Agra”.

Doutorado em Psicologia pela FPCEUP em 1991, assumiu então a regência da disciplina de Psicofisiologia que manteve – como Professor Auxiliar, até 1997, e Professor Associado – até à sua jubilação. Pelo meio, participou na criação do Mestrado em Criminologia, “onde pude aplicar os meus conhecimentos ao mundo do crime”. Momentos, entre muitos, que alimentaram “o prazer da docência,  facilitando aos estudantes de psicologia o contacto com a determina ao biológica do comportamento.  Tenho saudades das aulas para mais de 80 estudantes, em grande anfiteatro, onde era possível, apesar do numero, um contacto docente-discente com discussões de alto nível”, recorda.

Em paralelo com as aulas, João Marques Teixeira desenvolveu também uma intensa atividade científica, grandemente ligada ao Centro de Ciências do Comportamento Desviante e ao Laboratório de Neuropsicofisiologia, uma estrutura pioneira em Portugal que fundou, dirigiu e elevou juntamente com “uma equipa de investigadores de renome nacional e internacional”. Autor de mais de duas centenas de publicações, publicou 11 livros, sete capítulos de livros e mais de seis dezenas de artigos em revistas nacionais e internacionais com elevado fator de impacto, e foi investigador principal em mais de 35 projetos financiados.

“Considero-me um privilegiado neste mundo académico, tendo tido sempre o apoio dos órgãos diretivos para os meus projetos, tendo merecido sempre o respeito de todos e deixado fortes laços de amizade com muitos. Mas este sentimento de ser privilegiado também se prende com as relações com todo o pessoal não docente, todos com um espírito de colaboração extraordinário e tendo desenvolvido com muitos, laços fortes de amizade, que persistem mesmo após a jubilação”, frisa.

Também por isso, a despedida de João Marques Teixeira da docência não significa um «adeus» à FPCEUP. Antes pelo contrário. “Curiosamente, mesmo tendo terminado a carreira docente, mantenho uma forte ligação ao Laboratório que criei, colaborando nos projetos de investigação em curso e ajudando a criar novos projetos. Não me sinto desligado, mas mais livre de constrangimentos”, reconhece. O futuro? “Posso dedicar-me com mais tempo aos meus hobbies (pintar e andar de bicicleta), mantendo uma actividade clínica da qual nunca me afastei e sentindo-me, mesmo assim, fazendo parte da comunidade de investigação que ajudei a criar”.

João Marques Teixeira jubilou-se no passado dia 4 de maio após 35 anos ao serviço da FPCEUP

Naturalidade? Vila Nova de Gaia

Idade? 70 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Dos estudantes.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da burocracia.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Um melhor equilíbrio na relação de forças e responsabilidades entre corpo docente / corpo discente.

– Como prefere passar os tempos livres?

Pintando e andando de bicicleta.

– Um livro preferido?

O ensaio sobre a cegueira, de José Saramago.

– Um disco/músico preferido?

2ª Sinfonia de Mahler.

– Um prato preferido?

Arroz de pato.

– Um filme preferido?

Magnólia.

– Uma viagem de sonho?

Ushuaia, na Patagónia.

 – Um objetivo de vida?

Ajudar as pessoas a superar a doença.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

Henri Atlan (uma inspiração pelo pensar), “How to Create a Mind: The Secret of Human Thought Revealed (um livro para pensar o futuro).

– O projeto da sua vida…

Acabar de escrever o livro – em curso – sobre o cérebro.

– Uma ideia para promover a investigação jovem feita na U.Porto?

Investigar o futuro alicia os jovens. Uma ideia: como passar uma mente para um computador? Desafiante, mas o futuro.