Saiu do anonimato há poucas semanas, depois de garantir o primeiro lugar no Fraunhofer Portugal Challenge 2020, com um projeto de investigação que propõe a criação de um sistema de rede neuronal convolucional capaz de detetar o cancro através da análise de imagens. Mas, para Isabel Rio-Torto, este foi apenas o início de um percurso que se prevê de sucesso, ou não tivesse sido uma das melhores estudantes do Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores (MIEEC) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que concluiu com média final de 18 valores.
Com 24 anos, Isabel Rio-Torto define-se como “bastante competitiva”, embora considere esta competição saudável, uma vez que a leva “a trabalhar mais e melhor”. Foi, de resto, com esse espírito que, em 2018, quando estava a entrar na fase decisiva do curso, se deixou fascinar pela área de Inteligência Artificial, sobretudo pelo potencial que pode vir a ter no setor da saúde. Dois anos mais tarde, o prémio Fraunhofer Portugal Challenge veio confirmar essa aposta.
Já este ano letivo, Isabel abraçou um novo desafio no Doutoramento em Ciência de Computadores na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). O objetivo passa por dedicar parte do trabalho a uma aplicação de inteligência artificial (deep learning) à saúde, “mais concretamente no cancro do colo do útero”, vaticina a também investigadora no INESC TEC e bolseira FCT.
Filha de professores universitários (o pai é antigo estudante da FEUP, também de Engenharia eletrotécnica), Isabel Rio-Torto acredita que o gosto por ensinar a acompanha desde muito nova. Também por isso, tem ainda tempo para dar uma “perninha” como assistente convidada na FEUP, onde dá aulas nas cadeiras de Programação 1 e 2 do MIEEC.
Desengane-se, porém, quem pense que esta jovem estudante, investigadora e professora não tem outros interesses para além da carreira académica. “Desde que estive à beira de um burnout durante o curso que levo a saúde mental (e a física também) muito a sério e encontrei na prática de exercício físico uma forma de lidar com o stress e manter o equilíbrio entre o trabalho e o lazer”, assume.
Praticante de várias modalidades, “desde as mais ligadas à correção postural (como passo o dia inteiro ao computador sinto necessidade de corrigir as más posturas e manter as dores de costas/ombros bem longe), à mente, como yoga, pilates e abdominais hipopressivos, ou até modalidades mais tradicionais como a natação. (…), Isabel Rio-Torto não hesita na hora de dar a receita: “O importante é manter-me ativa e ir praticando diferentes modalidades, aproveitando os benefícios de cada uma e a sua complementaridade”.
Entre o doutoramento, as aulas e as sessões de exercício físico, Isabel tem ainda tempo de imaginar o que o futuro lhe reserva: “Concluir o doutoramento com sucesso e continuar a lecionar na FEUP, tentando cada vez mais despertar o interesse dos nossos estudantes para as várias áreas de investigação existentes na Universidade do Porto”.

Isabel Rio-Torto divide o tempo entre o Doutoramento em Ciência de Computadores na FCUP e as aulas na FEUP. (Foto: DR)
– Naturalidade? Nascida em Coimbra, mas vivi em Águeda até ao início da faculdade.
– Idade? 24 anos
– De que mais gosta na Universidade do Porto?
A primeira vez que estive na Universidade do Porto foi no âmbito do projeto Universidade Júnior, quando ainda era aluna do ensino secundário. Lembro-me de ficar positivamente impressionada pela quantidade e diversidade de pessoas que circulavam nos corredores, algo que ainda hoje me fascina e que é prova do reconhecimento internacional da instituição.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Renovar os currículos de forma mais expedita para melhor acompanhar a rápida evolução das diferentes temáticas e integrar massa crítica mais jovem no corpo docente.
– Como prefere passar os tempos livres?
Com a família, a passear a nossa cadela, a ver séries, a ler e a praticar exercício físico.
– Um livro preferido?
“Intermitências da Morte” de José Saramago. Atualmente estou a ler algo um pouco mais técnico, “The Book of Why: The New Science of Cause and Effect” de Judea Pearl.
– Um disco/músico preferido?
Difícil escolher, gosto de quase todo o espetro musical, desde heavy metal a música clássica. Neste momento, ando numa fase de música portuguesa, Miguel Araújo, António Zambujo, Luísa Sobral.
– Um prato preferido?
Leitão à bairrada ou arroz de pato…não consigo decidir de qual gosto mais.
– Um filme preferido?
Qualquer filme com a Meryl Streep, mas talvez destaque “The Devil Wears Prada”.
– Uma viagem de sonho?
Gostava muito de visitar a Grécia, pela sua história e cultura e, claro, pelas ilhas paradisíacas.
– Um objetivo de vida?
Para já, terminar o doutoramento e conseguir um emprego estável, possivelmente continuando na área da investigação e na docência. Se possível, conseguir contribuir para o avanço do conhecimento científico, por mais pequena que seja a contribuição. Em termos mais pessoais, conseguir um equilíbrio saudável entre as várias vertentes da vida.
– Uma inspiração?
Alan Turing, pelo seu génio como pai da ciência da computação e pela sua dedicação à ciência em geral.