A aventura de Inês Pádua na Universidade do Porto foi um amor de verão que veio para ficar. Descobriu a instituição na qual mais tarde viria a estudar durante um curso da Universidade Júnior e percebeu imediatamente que o seu futuro passaria pela Faculdade de Ciências da Nutrição. Já como estudante da FCNAUP, onde ingressou em 2010, começou a perceber os vários aspetos com os quais a nutrição se relaciona no nosso dia-a-dia e a influência que pode ter na nossa vida, mas foram as alergias alimentares – temática que viria a dar mote à sua tese de doutoramento – que a cativaram especialmente.

“Há uma confusão global sobre as alergias alimentares, sobre as suas delicadezas e, acima de tudo, sobre os seus perigos”, explica. Para acabar com estes mal-entendidos, Inês procurou desenvolver, já no seu doutoramento, ferramentas e estratégias que promovam a inclusão segura destes pacientes na sociedade, minimizando ao máximo as suas limitações. “Há pessoas com alergias alimentares tão graves que não se podem dar ao luxo de jantar fora ou de viajar. Gestos tão simples como abrir uma lata de amendoins dentro do avião podem desencadear uma reação alérgica fatal”, avisa.

Entre as iniciativas lançadas por Inês – com a ajuda da FCNAUP e da Faculdade Medicina da U.Porto (FMUP) – incluem-se dois cursos online direcionados a profissionais ligados às escolas e à restauração. “Percebemos que havia uma enorme falta de conhecimento e que as pessoas não sabiam que encostar o saco do gelo ao peixe congelado, por exemplo, pode ser um problema para estes pacientes”, justifica a investigadora. Para colamatar esta falha , os cursos de Alergia Alimentar na Escola e Alergia Alimentar na Restauração dão aos participantes a oportunidade de, através de conteúdos multimédia, aprenderem estratégias que lhes permitam lidar com os vários tipos de alergias que podem encontrar no exercício da sua profissão. E o roresultado não podia ter sido melhor. “O feedback da primeira edição do curso foi positivo e achamos que conseguimos contribuir para a criar uma comunidade mais informada”. A segunda edição vai decorrer na segunda quinzena de julho (16 a 30 de julho) e já tem inscrições abertas.

Entretanto, a missão de Inês de ajudar pessoas com alergias alimentares também chega diretamente aos pacientes. Desafiada pelo seu orientador do doutoramento – André Moreira, médico imunoalergologista e docente da FMUP —, colaborou na criação de um website de receitas que fosse “à prova de alergias”. Nesta plataforma, que também está disponível em versão e-book, podemos encontrar receitas nas quais, se assim o desejarmos, ingredientes como ovos e leite ficam de fora.

Para o futuro, Inês espera que a carreira de investigadora receba o merecido reconhecimento e que surjam oportunidades para continuar a desenvolver projetos de educação e de consciencialização na área da saúde alimentar. “Às vezes os pacientes de alergias alimentares precisam apenas de uma ajuda para começarem a ser criativos a contornar o problema. Quero continuar a ajudar a fazer essa diferença.”, finaliza.

Naturalidade?  Miragaia, Porto

Idade? 27 anos

 De que mais gosta na Universidade do Porto?

Das suas pessoas. Da sua excelência, resiliência, dinamismo e criatividade.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Penso que a minha resposta deve ser comum a tantas outras pessoas da Universidade do Porto: a separação geográfica entre os polos e, consequentemente, entre faculdades.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Maior cooperação e partilha entre faculdades. Recorrendo à máxima do Professor Abel Salazar, que dizia que alguém que sabe apenas do seu ofício, nem desse ofício sabe. Apesar de poder ser logisticamente complicado, acho que projetos conjuntos entre faculdades, que fossem integrados, desde cedo, na formação, seriam uma mais valia para construir novas linhas de pensamento, descobrir novas associações, valorizar e respeitar diferentes áreas e pensar um bocadinho “fora da caixa”.

– Como prefere passar os tempos livres?

Nos tempos livres gosto muito de “estar”; gosto muito de ter tempo para “estar”: estar em casa, estar com a minha família e estar com os meus amigos. Neste tempo incluem-se boas conversas, ler, ver filmes e séries, cozinhar, jogar jogos de tabuleiro e fazer puzzles.

 Um livro preferido? 

Intermitências da Morte, de José Saramago

– Um disco/músico preferido? 

Estrangeiro: (What’s the Story) Morning Glory? dos Oasis.

Português: Por este Rio Acima do Fausto Bordalo Dias, cujas músicas acho que sei de cor, desde a altura em que o meu pai me adormecia a cantá-las.

– Um prato preferido? 

Acho que sou um bom garfo e a minha cabeça começa já a divagar por todo um receituário.

Gosto muito de risotto e de sopa, mas não posso passar ao lado do bacalhau à moda da minha mãe e do arroz de frango da minha avó.

– Um filme preferido?

“A lista de Schindler”, de Steven Spielberg

9 – Uma viagem de sonho?

Realizada: Lapónia. Por realizar: Israel

– Um objetivo de vida? 

O maior e principal, por mais clichê que seja, é ser feliz e contribuir para que os meus também o sejam. No caso particular da minha profissão e investigação, o objetivo central é aprender sempre e sentir que fiz a diferença na vida de quem mais quero que beneficie com meu trabalho, neste caso, as pessoas com alergia alimentar e as suas famílias.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…) 

A minha família. Os que tenho comigo (de forma muito particular, os meus pais) e os que, com muita saudade, já não tenho são a minha inspiração para, todos os dias, tentar fazer mais e melhor.