Aos 32 anos, Inês Gonçalves é cientista , mãe e uma otimista por natureza. Mas é também um exemplo para as mulheres que cuja profissão se centra na investigação científica. Ou assim se pode ler a presença desta investigadora do Instituto de Engenharia Biomédica (INEBentre as vencedoras da 10ª edição das prestigiadas “Medalhas de Honra L‟Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência”, com um trabalho que promete abrir novos horizontes na prevenção e tratamento do cancro gástrico.

Licenciada em Microbiologia pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto em 2003, Inês doutorou-se em Engenharia Biomédica pela Faculdade de Engenharia na U.Porto (FEUP) em 2009. Começava também aí a paixão pelos biomateriais (a tese baseou-se no desenvolvimento e  modificação de materiais nanoestruturados e na sua interação com proteínas e células do sangue de forma a prevenir a formação de trombos associados à utilização de implantes cardiovasculares) que viria a reforçar no INEB (pós-doutoramento), com passagem por Seattle (Estados Unidos), onde esteve durante cinco meses.

Foi também no INEB que Inês Gonçalves começou a explorar a aplicação de biomateriais  no combate à bactéria  Helicobacter pylori, cuja infecção – que atinge mais de metade da população mundial – está associada ao cancro gástrico. Através desta proposta de tratamento inovadora, substanciada no projeto – “Biomedical Engineering for Regenerative Therapies and Cancer” –  premiado agora pela L’Oreal com 20 mil euros, a investigadora pretende estabelecer uma alternativa ao tratamento convencional por antibióticos, que se mostra ineficaz em 20% dos casos de infecção por Helicobacter pylor.

–  Naturalidade?

Porto

– Idade?

32 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da excelência do ensino.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Dos complexos desportivos. A U.Porto devia ter instalações dignas da sua dimensão e incentivar o desporto universitário profissional (como se faz em tantos outros países).


– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Apoiar carreiras de investigação nos Institutos associados à Universidade. A contratação de investigadores está maioritariamente a cargo dos Institutos de Investigação. A Universidade deveria contribuir mais para a estabilidade dos investigadores, uma vez que grande parte dos doutorados dos Institutos são também docentes (“de mobilidade interna”), permitindo aos estudantes das faculdades o contacto com tecnologias e procedimentos de ponta desenvolvidos nos laboratórios.

– Como prefere passar os tempos livres?

No cinema, na praia, a jogar ténis, a andar a pé, e, claro, em festas com muitos amigos…

– Um livro preferido?

“Criando filhos gémeos”, de P. M. Malmstrom (foi-me muito útil numa fase da minha vida… )

– Um disco/músico preferido?

O album “Vampire Weekend”, dos Vampire Weekend.

– Um prato preferido?

Salmão fumado com batatas cozidas e maionese.

– Um filme preferido?

“Message in a bottle”

– Uma viagem de sonho?

Disneyworld.

– Um objetivo de vida? Fazer ciência aplicada com impacto social e transmitir à população (público em geral e indústria) a realidade da vida dos investigadores para que reconheçam o nosso esforço, importância e valência.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

Bernardo Almada Lobo. Pela qualidade do trabalho que faz, pela visão e capacidade de liderança que revela com a equipa dele, pelas discussões de estratégia científica que temos todos os dias, por me incentivar a ser cada vez melhor, e ainda assim, ser um fantástico amigo, marido e pai dos nossos filhos.

– Como é ser cientista e mãe de três filhos pequenos?

É obviamente cansativo, mas com muita dedicação e alguns serões consigo conciliar estas duas paixões e dar o meu máximo em ambas. Tento “descomplicar” e confiar em pleno no local que escolhi para deixar os meus filhos (um bom infantário aberto até tarde faz milagres) para conseguir “desligar” da vida pessoal quando chego ao trabalho. No entanto, confesso que um grande trunfo é ter a ajuda das pessoas mais próximas (marido, pais, sogros, irmãos,…) na azáfama do dia-a-dia e nos momentos de aperto (que inevitavelmente são muitos!).