Aos 33 anos, Gustavo Carona poderia ser um médico “normal”, ou não fossem os seus dias passados entre camas de hospital e salas de cirurgia. Mas o quotidiano deste antigo estudante da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) é tudo menos “normal”. Médico por vocação, voluntário de coração, tem percorrido o mundo para levar cuidados médicos a quem mais precisa. Sempre e só com uma motivação: “Sentir-me especial por salvar vidas, em zonas em que mais ninguém sabia fazer o que eu faço, e ver esse reconhecimento genuíno em pessoas que nasceram nos sítios mais complicados do planeta”.

Licenciado em Medicina pela FMUP (2004), com uma passagem pela República Checa no âmbito do programa Erasmus, Gustavo abraçou desde cedo o voluntariado. Primeiro em representação dos Médicos do Mundo Portugal, pelos quais viveu uma primeira experiência em Moçambique, em 2009. Gostou, mas queria mais. “Quando voltei a Portugal, fui de imediato, enviar o meu CV para os Médicos Sem Fronteiras [a maior ONG independente na área da saúde, que atua em todos os locais do planeta que precisam de apoio médico emergente]. Felizmente para mim, eles têm alguma dificuldade para encontrar pessoas com meu perfil, e quando dei por mim, estava em Bruxelas para o recrutamento e maravilhado com os MSF”, recorda.

Cinco anos depois, o bistouri de Gustavo Carona já passou pela República Democrática Congo (2009), Paquistão (2011), o Afeganistão (2012), e, recentemente, aventurou-se pela Síria, onde esteve perto da linha da frente do conflito. Em cada ponto, colheu as histórias que vai reunindo no blogue fotoscomhistorias, onde, através de “fotos e palavras honestas”, relata algumas das histórias que o ajudaram a “alargar os horizontes, quebrar preconceitos, compreender o mundo e pensar global”. A recompensa vai, contudo, mais além. “Dou o meu trabalho porque as necessidades me motivam, e sinto-me recompensado com “Obrigados”.

Entusiasta do seu trabalho, o até há muito recentemente médico Anestesista e Intensivista do Centro Hospitalar S. João não esquece a passagem pela Universidade de cada vez que abraça um novo desafio. “Sinto-me extremamente agradecido, por todos os que me ensinaram, por todos os que contribuíram para encher a minha bagagem, com aquilo que de mais importante tenho para oferecer, os meus conhecimentos médicos. E por isso, cá dentro, levo a U.Porto, a FMUP, e os que me fizeram médico”. E remata: “Ser voluntário é apenas a continuidade do que para mim é ser médico”.

– Idade? 33 anos.

– Naturalidade? Toronto, Canadá. Mas vivi toda a vida em Portugal, no Porto.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Universidade, um das etapas mais relevantes do mais importante que temos na vida, a educação. Porto, o meu mundo.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

A escassez de desporto.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Criar ligações com o mundo humanitário nacional e internacional.

– Como prefere passar os tempos livres?

A viajar, fazer desporto, a ler e a escrever.

– Um livro preferido?

“Três Chávenas de Chá”, de Greg Mortenson. Uma fantástica história humanitária passada no Paquistão.

– Um músico / disco preferido?

Emmanuel Jal ( Sul-Sudanês, que foi uma criança-soldado, que liberta a sua intensa historia de vida através da música)

– Um prato preferido?

Bacalhau com natas da minha mãe.

– Um filme preferido?

“Brave Heart” – “Coração de Guerreiro”.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Etiópia (realizada). E sonho com tudo o que me falta.

– Um objetivo de vida?

 Trazer os Médicos Sem Fronteiras para Portugal e pôr os Portugueses a pensar no Mundo.

– Uma inspiração?

Fernando Nobre.

– Uma mensagem que gostasse de enviar à comunidade U.Porto?

Lutem pelo que acreditam. Eu luto contra a Indiferença e a Intolerância.