Francisco Franco Pêgo terminou este ano o Mestrado Integrado de Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e já trocou a cadeira de estudante pela de docente. Para trás ficam seis anos de experiências enriquecedoras que nunca pensou ter concentradas em tão pouco tempo e que lhe permitiram reunir “pistas” sobre o que quer fazer para o resto da vida.

Nascido em Coimbra, sonhou ser futebolista, paleontólogo ou agricultor e até ponderou seguir Engenharia. Poucos meses antes da candidatura ao ensino superior, escolheu Medicina na FMUP. Queria “melhorar a saúde das pessoas” e “aplicar o conhecimento a bem da humanidade”. Trocou a “Cidade dos estudantes” pela “Invicta”, onde antevia mais oportunidades na investigação. Não se arrependeu. Apesar de não estar certo do que o futuro lhe reserva, sente que foi uma boa decisão, que lhe permitiu autonomizar-se e crescer como pessoa.

Foi voluntário e dirigente de voluntariado na VOU – Associação de Voluntariado Universitário, sediada no Porto, e dirigente associativo, tendo sido eleito presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), cargo que ocupa até ao final de 2022. No seu mandato, orgulha-se de ter conseguido que os estudantes de Medicina tivessem prioridade na vacinação contra a COVID-19  e que acedessem aos registos clínicos dos doentes através de um Perfil do Estudante de Medicina e ainda de alterar a lei que regula o acesso ao Internato Médico de acordo com a posição dos estudantes.

No próximo ano, vai fazer a formação geral, a primeira fase da formação pós-graduada, mas não sabe se fará a especialidade. “Cada vez é mais socialmente aceite que um grauado em Medicina não seja um médico especialista. Podemos servir as populações não só dentro de um consultório, com uma bata e um estetoscópio, mas também a influenciar organizações que “mandam” na saúde global.

Integrou uma delegação da Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina (International Federation of Medical Students’ Associations  – IFMSA) à Assembleia Mundial de Saúde, um evento da Organização Mundial de Saúde (OMS), o que lhe abriu portas para que seja agora Assistente da Liason Officer da IFMSA junto da OMS. As suas principais reivindicações passam por garantir que os jovens têm voz nas delegações de cada país aos órgãos decisores em saúde a nível internacional. “Hoje sei que os jovens podem, com o seu trabalho, fazer grandes coisas”, garante, com uma grande determinação e um otimismo contagiante de quem sonha fazer a diferença.

Idade? 24 anos

Naturalidade? Coimbra

De que mais gosta na U.Porto?

Da diversidade de oportunidades que tem dentro dela. Sinto que, para uma determinada direção que alguém queira percorrer no âmbito do ensino superior, ela terá um qualquer departamento, organização ou pessoa que lhe conseguirá dar resposta.

É-me impressionante olhar para os seis anos até agora e perceber a quantidade de vidas que já passei. Fui estudante, fui docente, fui investigador, fui voluntário em contexto universitário e coordenador nessa mesma organização de voluntariado e fui dirigente associativo.

Este tipo de diversidade não é a forma com que quero viver a minha vida no futuro. Mas é algo que sinto ter valido a pena para me conhecer a mim próprio e é um luxo a Universidade do Porto me ter permitido “tocar” nisto tudo.

De que menos gosta na U.Porto?

Sinto que vou fazer um apontamento que encaixará a muitas universidades portuguesas, que é o que se descreve como endogamia. Sinto que ainda é privilegiada, em Portugal, uma pessoa ter no currículo uma linhagem sempre entre as mesmas paredes. Eu sinto que teria gostado de estudar entre pessoas com “panos de fundo” mais diversos e deve haver certamente maneira de a Universidade fomentar cada vez mais isso.

Uma ideia para melhorar a U.Porto?

Internacionalizar mais seria bom. Tenho de colocar aqui um cunho de estudante de Medicina na resposta porque é onde me é mais fácil fazer sugestões. Temos já os bons exemplos dos programas de Erasmus, temos também iniciativas de grande dimensão lideradas pelos estudantes, como os programas de intercâmbio (que também ganham mais peso quando as faculdades lhes dão o reconhecido valor) e depois temos a própria flexibilidade de gestão dos concursos que não o CNA, que poderiam levar a que algumas escolas médicas internacionalizassem a proveniência dos seus estudantes. Neste ponto, os cursos de medicina continuam a ser os únicos a que é vedado este passo da gestão de concursos também para estudantes internacionais, mas é algo pelo qual podemos lutar.

Como prefere passar os tempos livres?

Antes perante esta pergunta eu sentia-me perdido, mas a pressão que a extrema ocupação me deu nos últimos dois anos está a facilitar-me responder-lhe agora. Agora sei que a primeira coisa que faço quando consegui já entregar o trabalho que tinha previsto é procurar estar com as pessoas que me são importantes, seja a cinco minutos de distância, seja quando requeira uma viagem de longa distância de autocarro. Depois disso vem o preocupar-me comigo – a tríade de dormir, exercitar e cuidar da alimentação. E conto em breve voltar aos filmes e livros que antigamente tanto me preenchiam.

Um livro preferido?

Vou escolher um livro e um autor, para não ser redutor: Confissão, de Leo Tolstoi – por descrever um processo de encarar e decidir na relação com a religião; e José Saramago – pela forma como escreve. Tenho um ou outro favorito, mas a envolvência que consegue de mim em todos os livros é o que me impressiona.

Música preferida?

Em português, que é o que mais tenho valorizado: Samuel Úria e Zeca Afonso.

Prato preferido?

Aquele que um anfitrião num sítio novo me tiver a sugerir. É mesmo isso que prefiro.

Um filme preferido?

Léon: o Profissional; Jagten (A Caça, em dinamarquês)

Uma viagem de sonho?

Espero viajar muito mais do que fiz até agora. Quero ir a todos os lados a que ainda não fui e quero que o próprio ato de viajar seja desafiante em si: a pé, de bicicleta, ou simplesmente com a condicionante de não ter toda a viagem planeada a priori e deixarmo-nos levar o quanto possível pela espontaneidade do local e das pessoas.

Um objetivo por concretizar?

Tendo 24 anos, sinto que a maioria das coisas que gostava de fazer na vida estão por atingir. Muito genericamente, gostava de ter uma família e de proporcionar uma boa vida a outras pessoas, tal como a minha família me tem proporcionado. E gostava que a minha profissão me permitisse melhorar a vida dos outros ao melhorar a sua saúde. Nada específico, como pode perceber. Mas sinto que, se falarmos novamente em dez anos, conseguirei concretizar muito mais.

Uma inspiração?

O meu avô materno. Apesar de terem sido os meus pais a proporcionar-me diretamente a maioria do que tenho conseguido fazer, admiro que o meu avô materno, que nasceu nos anos 30 e não sabe ler ou escrever, tenha feito o raciocínio de como devia dar o possível para tirar os seus filhos do campo e pô-los a estudar, fazê-los entrar no elevador social, independentemente do desgaste que isto significasse para ele. Hoje em dia pode parecer óbvio, mas, na altura, quando o típico era ter muitos filhos como recursos humanos para os afazeres da casa e dos campos, aquela foi uma atitude visionária.

Um projeto de vida?

Ainda sou muito jovem. Tenho aquelas ideias gerais para coisas das quais dificilmente abrirei mão (ter uma família e melhorar a vida das pessoas através da saúde), mas ainda vou demorar um tempo a traduzir isso em projetos de vida.