Fernando Magro, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), foi eleito para a presidência da ECCO – European Crohn’s and Colitis Organisation neste mês de março. Um feito que fica para a história. Foi a primeira vez que um português conquistou a liderança desta organização de referência na área da Doença Inflamatória Intestinal (DII). A vitória representa o reconhecimento do trabalho que o especialista vem desenvolvendo nas últimas décadas.

Nascido há 58 anos, em Vinhais, Fernando Magro fez o curso de Medicina e doutorou-se pela FMUP, onde é Professor Associado Convidado com Agregação, dando aulas de Farmacologia e Terapêutica. É também investigador integrado do CINTESIS@RISE, além de diretor da Farmacologia Clínica e médico gastrenterologista do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).

Fundador, membro honorário e coordenador da comissão científica do Grupo de Estudos da Doença Inflamatória Intestinal (GEDII), e membro da  International Organisation for the Study of Inflammatory Bowel Disease  (IOIBD), dedicou-se desde sempre à doença inflamatória intestinal. O seu grande foco está na gestão, tratamento e prognóstico da doença de Crohn e da colite ulcerosa, duas patologias sem cura que afetam cerca de 30 mil pessoas em Portugal.

Do extenso contributo do gastroenterologista, destacam-se a definição de novos “endpoints” em ensaios clínicos, a harmonização dos processos histológicos de avaliação dos doentes, a descoberta de novos biomarcadores e o doseamento de fármacos e anticorpos como estratégia de maximização terapêutica. Em rede com investigadores de diversas áreas, desde biólogos a matemáticos, tem participado ativamente na criação de modelos preditivos de diagnóstico e de tratamento.

Movimentando-se entre a ciência fundamental e a medicina de translação, entre o laboratório de Farmacologia e as consultas de Gastrenterologia, Fernando Magro tem explorado conceitos novos (por exemplo, o tratamento pré-clínico, que precede a lesão estrutural do intestino) e tem coordenado projetos promissores. Neste momento, está a estudar novos biomarcadores na doença de Crohn.

Em mãos tem igualmente um grande projeto sobre o papel do microbioma fecal na resposta ao tratamento e preditor de doença inflamatória intestinal. O objetivo é transformar o entendimento e a abordagem da Doença Inflamatória Intestinal, alterando o seu curso e dando mais qualidade de vida aos doentes.

Naturalidade? Vinhais

Idade? 58 anos

– Do que mais gosta na Universidade do Porto?

Gosto da capacidade de juntar pessoas com vários focos de “expertise” e de permitir ligá-las, formando um network de investigação de qualidade.

– Do que menos gosta na Universidade do Porto?

Não gosto da precariedade da investigação, que é comum a outras Universidades. Não gosto da dispersão.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Uma maior interligação entre os grupos que fazem ciência. Devia haver mais reuniões conjuntas entre os vários grupos de investigação para que possam conhecer de forma mais efetiva aquilo que cada um faz.

– Como prefere passar os tempos livres?

Não tenho muito tempo livre. Gosto de ver filmes, de ler livros e de dedicar o tempo à família. Gosto muito de poesia.

– Um livro preferido?

O “Equador”, de Miguel Sousa Tavares

– Um disco/músico preferido?

Gosto de música clássica, de Chopin.

– Um prato preferido?

Cozido à portuguesa.

– Um filme preferido?

“África Minha”, de Sydney Pollack.

– Uma viagem de sonho?

Gostaria de fazer uma viagem à África profunda.

– Um objetivo de vida?

Que aquilo que já desenvolvi na doença inflamatória intestinal seja continuado e que não acabe quando eu acabar o meu percurso.

– Uma inspiração?

A busca constante da incerteza.

– O projeto da sua vida…

Colocar Portugal no mapa de desenvolvimento da doença inflamatória intestinal.

– Uma ideia para promover a investigação da U.Porto a nível internacional?

Temos de criar foco.  Atualmente, não se pode fazer boa investigação fundamental, de translação ou clínica sem perseguir consecutivamente um objetivo. Tem de haver financiamento e vontade da estrutura decisora de incentivar a especialização. É preciso estimular e promover a ciência centrada no doente, que seja a ponte entre a ciência fundamental e as necessidades do doente, que não são necessariamente a prioridade do medico ou do cientista. A envolvência de todos os intervenientes, Universidade, cientistas, indústria e doentes é fulcral.