Fátima Carvalho chegou ao CIIMAR em 2013. (Foto: CIIMAR)

O fascínio pelas aulas de ciência e as primeiras experiências laboratoriais que realizou na escola izeram com que Fátima Carvalho decidisse, desde muito cedo, para si própria: “eu quero ser cientista!”. Daí em diante, a paixão nunca esmoreceu e todas as suas escolhas académicas foram nesse sentido. Logo se apaixonou pelo mundo “invisível” dos microrganismos, e quando a oportunidade surge, ingressou na licenciatura em Microbiologia na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica onde viria a doutorar-se em Biotecnologia.

Esta combinação de experiências académicas, agregada à preocupação pelas questões ambientais, levou Fátima a interessar-se por uma carreira científica nesta área, tendo-se interessado mais concretamente pela capacidade de vários microrganismos em degradar poluentes ambientais. Desde então “ tenho focado grande parte da minha investigação na biodegradação de poluentes fluorados” conta.

E foi precisamente isso que, em 2013, a trouxe para o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), com um contrato de Investigador FCT pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. “Como investigadora do CIIMAR, desenvolvi nos últimos 3 anos um grande interesse pelo estudo de um grupo muito importante de microrganismos do ponto de vista biotecnológico, as Actinobactérias”, refere. Os estudos mais promissores que desenvolve focam-se sobretudo na descoberta de novas moléculas com aplicações biotecnológicas produzidas por estes microrganismos. Exemplo disso foi estudo de caráter inovador publicado recentemente pela revista Frontiers in Microbiology, no qual identificou compostos com potencial antimicrobiano e anticancerígeno produzidos pelas actinobacterias que habitam algas nativas da costa portuguesa.

“Esta área tem-se tornado uma verdadeira paixão para mim”, revela a investigadora, para quem o futuro continuará a passar pelos segredos escondidos nas profundezas dos oceanos. “Tenho já um projeto em curso, o ACTINODEEPSEA, financiado pela FCT, para explorar o potencial biotecnológico de Actinobactérias que habitam ambientes do mar profundo português.”

– Naturalidade? Porto

– Idade? 45 anos

– O que mais gosta na Universidade do Porto?

O facto de ser uma universidade de referência a nível nacional e, claro, do CIIMAR. Adoro o ambiente de trabalho que existe no CIIMAR, da proximidade e da grande interação entre as pessoas.

– O que menos gosta na Universidade do Porto?

O facto de os investigadores ainda não serem devidamente reconhecidos como peças fulcrais da Universidade.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Haver uma maior proximidade entre a Universidade e os seus Centros de Investigação e uma participação mais ativa desta nas atividades dos centros.

– Como prefere passar os tempos livres?

Gosto de passar os poucos tempos livres na Natureza. Gosto de a contemplar e ouvir os seus sons, faz-me sentir bem e em paz comigo mesma. Correr é também uma atividade que me dá prazer e sempre que posso faço umas corridas aos fins-de-semana.

– Um livro preferido?

Não tenho muito tempo livre para ler. Dos livros que li num passado já longínquo lembro-me de ter gostado particularmente do “O velho que lia romances de amor” de Luís Sepúlveda e “O deus das pequenas coisas” de Arundhati Roy. No entanto, se tiver mesmo de nomear um livro preferido talvez a minha escolha caia no “O Cavaleiro da Dinamarca” de Sophia de Mello Breyner Andresen.

– Um disco/músico preferido?

Adoro ouvir música e tenho vários grupos e álbuns de eleição. Posso destacar o álbum “Moon Safari” dos “Air” e “Mezzanine” dos “Massive Attack”.

– Um prato preferido?

É difícil dizer. Talvez um bom peixe grelhado ou um prato bem confecionado de comida vegetariana. Confesso também que sou uma apreciadora nata de comida alentejana. Adoro porco preto e coentros.

– Um filme preferido?

Gosto de filmes com fantasia, pelo que as trilogias “Senhor dos anéis” e “The Hobbit” estão entre os meus preferidos. Já a puxar mais para o dramático “As ponte de Madison County” foi um filme que considero fantástico.

– Uma viagem de sonho?

Já viajei bastante e é difícil eleger um destino preferido, mas se tiver de nomear um, escolheria o Japão. Adorei as pessoas, os templos, a gastronomia. Enfim, uma viagem a repetir.

– Um objetivo de vida?

Ser feliz e tentar também fazer felizes as pessoas à minha volta. Também gostava que a minha investigação pudesse contribuir de alguma forma para o bem-estar das pessoas.

– Uma inspiração? (pessoa, situação, livro, …)

A minha família. É tudo para mim e a essência do meu ser.

– O projeto da sua vida?

Saber viver e tirar o melhor partido desta experiência única de passagem pela Terra.

– Um conselho para a Fátima Carvalho prestes a iniciar o seu trabalho em investigação científica?

O conselho que eu teria para dar seria, no fundo, o que instintivamente fui seguindo ao longo da minha carreira, mas que considero muito importante para quem está a iniciar-se no mundo da investigação científica: muita paciência e dedicação ao trabalho científico, pois na ciência é frequente haverem vários momentos frustrantes, principalmente quando as experiências falham ou não dão resultados coerentes/consistentes. É também importante ter sempre um grande espírito crítico e uma curiosidade aguçada e, claro, querer sempre ir mais longe nas respostas às questões que a ciência nos levanta.