Aos 43 anos, Emília Pinto Miquidade está prestes a doutorar-se pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), com um projeto que permitiu a integração da área de Cuidados Paliativos no sistema de saúde de Moçambique, o seu país natal. Este trabalho, que resultou na implementação do Serviço de Cuidados Paliativos na Unidade de Dor do Hospital Central de Maputo, já lhe valeu a conquista do Prémio Maria das Neves Rebelo de Sousa, no valor de 7.500 euros, atribuído pela Câmara de Comércio Portugal Moçambique. Mas, para a médica moçambicana e nova doutora pela FMUP, este é apenas o começo.
Nascida em Nampula, numa família de seis irmãos, Emília Pinto Miquidade quis ser astronauta ou jornalista, mas, graças às suas notas e aos conselhos do pai, acabou por fazer Medicina na Universidade Eduardo Mondlane. em Maputo. Especializou-se em Anestesia e Reanimação e trabalhou em Cuidados Intensivos até assumir a direção da Unidade de Dor do Hospital Central de Maputo.
Em Portugal, fez estágio em bloqueios ecoguiados, no Hospital Garcia de Orta, com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, e passou pelos Serviços de Dor do Hospital de Santa Maria, Cuidados Paliativos do IPO do Porto, Centro Hospitalar do Porto e Centro Hospitalar Universitário de São João. Em 2016, ingressou no Programa Doutoral em Cuidados Paliativos da FMUP, sob a orientação de Guilhermina Rego. A família acompanhou-a, incluindo os filhos com 14 e 17 anos. O mais velho quer seguir as suas pisadas e entrar em Medicina, na FMUP.
Atualmente, Emília Pinto Miquidade está a realizar um estágio no CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, Unidade de I&D sediada na FMUP, como bolseira ENVOLVE Ciência PALOP, com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, integrando-se na equipa de Alberto Freitas (CINTESIS/FMUP). O seu objetivo é desenvolver e avaliar indicadores para o Serviço de Cuidados Paliativos já existente em Moçambique e para o Serviço de Cuidados Paliativos Pediátricos, que pretende implementar.
“Há muita morte em Pediatria com dor oncológica e sofrimento”, lamenta. Dos nove bolseiros, apenas três poderão vencer, mas garante que, mesmo que isso não aconteça, o projeto é para seguir em frente e dar mais vida aos dias de quem mais precisa.
Naturalidade? Nampula, Moçambique
Idade? 43 anos
– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Gosto da abertura e da simplicidade. Tive sempre muito apoio dos professores. Conheci pessoas fantásticas.
– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Nunca senti barreiras. No princípio, houve um choque porque vinha de um tipo de ensino, em Moçambique, e passei para outro tipo de ensino.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Espero que continue assim, aberta. Temos alguns benefícios por fazermos parte dos PALOP. Sentimo-nos acarinhados.
– Como prefere passar os tempos livres?
A passear. Gosto de ver o mar e o pôr do sol. Por estar com os doentes oncológicos, aprendi a valorizar algumas coisas que não valorizava antes.
– Um livro preferido?
O Código Da Vinci, de Dan Brown.
– Um disco/músico preferido?
Gosto de música Gospel, independentemente de quem estiver a cantar.
– Um prato preferido?
Matapa com caranguejo, um prato típico de moçambique, à base de folhas de mandioca, amendoim, coco e camarão. É mesmo bom!
– Um filme preferido?
Gosto de ver os filmes do Mr. Bean. Gosto de comédia.
– Uma viagem de sonho?
Gostava de conhecer as Ilhas Gregas com a minha família (o meu marido e os meus dois filhos).
– Um objetivo de vida?
Usar as valências que Deus me deu para poder ajudar os outros, impactar a vida das pessoas.
– Uma inspiração?
O mar.