CEO e fundadora da AgroGrIN Tech, uma startup incubada na UPTEC – Parque de Ciência e Tecnologia da U.Porto, Débora Campos está entre as mulheres mais inovadoras da Europa.
Esta distinção foi-lhe atribuída graças a uma ideia que surgiu no seu projeto de doutoramento e que deu origem à AgroGrIN Tech: valorizar resíduos de frutas e vegetais e transformá-los em novos ingredientes “naturais, clean label e multifuncionais”.
A startup especializa-se na extração de enzimas e vitaminas provenientes de resíduos alimentares produzidos pelas empresas de produção e processamento de frutas, como o ananás. Através de um processo verde e sem poluentes, é possível reutilizar todos estes resíduos na forma de novos ingredientes, que podem ser aproveitados na indústria alimentar, nutracêutica e cosmética.
O trabalho inovador valeu à CEO um Prémio Europeu para as Mulheres Inovadoras, atribuído pela Comissão Europeia, que em 2024 selecionou a startup para o EIT Food Accelerator Network, um programa de aceleração europeu focado na indústria agroalimentar.
Atualmente, Débora Campos lidera uma equipa de sete pessoas e os planos para o futuro da AgroGrIN Tech passam pela expansão da equipa e pelo aumento da presença no mercado. O grande objetivo para este ano é, contudo, a inauguração de uma planta piloto – pequena unidade fabril – com a capacidade de produzir até 30 toneladas de ingredientes por ano.

Equipa da AgrogrIN Tech. (Foto: DR)
Naturalidade? Silveiros, Barcelos
Idade? 36 anos
– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Gosto especialmente do acesso a espaços físicos e infraestruturas que apoiam as fases iniciais de empresas de base tecnológica. Estes recursos são fundamentais para transformar conhecimento em inovação com impacto real na sociedade.
– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Sinto que, por vezes, os processos administrativos são demasiado burocráticos e lentos, o que pode dificultar ou atrasar iniciativas empreendedoras e projetos de investigação aplicada.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
A Universidade do Porto tem tido um papel determinante no apoio à inovação e ao empreendedorismo, com forte componente na área digital. O acesso a espaços físicos e infraestruturas (como a UPTEC) de apoio à criação de empresas é uma mais-valia inegável que tem impulsionado ideias com potencial transformador. No entanto, se queremos realmente posicionar o Norte de Portugal como um polo de referência a nível mundial nas áreas da biotecnologia e da engenharia de alimentos, é urgente dar o próximo passo: criar um verdadeiro ecossistema colaborativo. Criar pontes efetivas e colaborativas entre as universidades públicas, privadas e os institutos politécnicos do distrito do Porto. Devemos promover uma cooperação efetiva entre estas entidades, cruzando competências, projetos e talento. A criação de valor será exponencial se conseguirmos eliminar barreiras institucionais e fomentar redes de inovação onde a ciência se transforma em soluções aplicadas para os desafios globais da alimentação, saúde e sustentabilidade.
A Universidade do Porto pode e deve continuar a potenciar este movimento, apoiando ideias de negócio com potencial de entrada no mercado. Mas é na articulação com os diversos atores que reside o verdadeiro poder de transformação.
O Norte tem tudo para ser um hub internacional de biotecnologia e engenharia alimentar. Agora, é tempo de unir forças e trabalhar com uma visão comum: inovar localmente para impactar globalmente.
– Como preferes passar os tempos livres?
Adoro estar na praia, sentir o sol, o mar e a brisa. São momentos que me trazem equilíbrio, inspiração e uma sensação de liberdade. Também valorizo momentos de qualidade com a família e amigos, e adoro explorar novos sabores e ingredientes, sobretudo quando posso cozinhar com consciência e criatividade.
– Um livro preferido?
“Start with Why” de Simon Sinek. Porque acredito que ter um propósito claro é o ponto de partida para qualquer transformação, seja pessoal ou profissional.
– Um disco/músico preferido?
Gosto muito de Ludovico Einaudi, utilizo a sua música para os meus momentos de reflexão, a sua música instrumental permite-me entrar em um estado profundo de foco e leveza.
– Um prato preferido?
Cozido à portuguesa. É um prato cheio de tradição, sabores ricos e que me liga às minhas raízes.
– Um filme preferido?
The Pursuit of Happiness. Inspira-me pela resiliência, coragem e fé num futuro melhor, mesmo em contextos desafiantes.
– Uma viagem de sonho?
Visitar o Japão em 2019 foi uma viagem de sonho concretizada. A cultura, a gastronomia e o respeito pelo detalhe e pela natureza foram profundamente marcantes.
– Um objetivo de vida?
Construir uma empresa global de ingredientes naturais e sustentáveis, com impacto real na saúde e no ambiente, e ao mesmo tempo garantir tempo e presença para criar uma família feliz.
– Uma inspiração?
A minha maior inspiração é a capacidade do ser humano se reinventar perante a adversidade. Acredito profundamente no poder da ciência e da vontade de mudar o mundo através de soluções com propósito.
– Uma ideia para promover o espírito empreendedor pela comunidade estudantil U.Porto?
Sabemos que já existem iniciativas valiosas nesse sentido, mas podemos ir mais longe: fomentar programas de “intraempreendedorismo” dentro dos próprios laboratórios e centros de investigação da Universidade, incentivando estudantes e investigadores a explorar o potencial comercial dos seus projetos científicos — com apoio direto na validação de mercado, propriedade intelectual e acesso a financiamento inicial. Além disso, reforçar a presença de empreendedores em contexto de sala de aula, com partilhas autênticas e desafiadoras, pode ser um poderoso catalisador.