Cristina Costa Santos protagonizou, recentemente, um debate nacional sobre os dados da COVID-19 disponibilizados pelas autoridades de saúde. Sem papas na língua, a investigadora do CINTESIS e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) denunciou falhas graves nos dados apresentados diariamente e deixou um apelo no sentido de uma maior colaboração entre as universidades e os decisores. Um apelo que já tinha lançado publicamente em março, juntamente com os colegas que, como ela, são especialistas em Bioestatística e Ciência de Dados e que conhecem os “problemas de integração dos sistemas de informação”.

“Ter dados de qualidade era fundamental para tomar decisões, técnicas e políticas, na gestão e na mitigação da pandemia. Não faz sentido dizer-se que os dados não têm mais qualidade porque são de vigilância epidemiológica e não de investigação. Essa é uma ideia que deve ser combatida”, diz.

A paixão de Cristina Costa Santos pelas ciências exatas manifestou-se muito cedo. Foi sem surpresa que optou por fazer a Licenciatura em Matemática na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) e depois o Mestrado em Estatística e Gestão de Informação pela Universidade Nova de Lisboa e o Doutoramento em Investigação Clínica e em Serviços de Saúde pela FMUP, instituição onde trabalha há mais de duas décadas e onde exerce atividade como Professora Auxiliar. Apaixonada por Matemática Aplicada, lidera o grupo de investigação BioData, do CINTESIS. Confessa que gosta muito da investigação e que esta atividade lhe dá “liberdade para pensar”.

Enquanto investigadora, participou no projeto NanoSTIMA – Macro-to-Nano Human Sensing: Towards Integrated Multimodal Health Monitoring and Analytics e na validação do SisPorto, usado na monitorização automática dos batimentos cardíacos de fetos e na identificação de traçados anormais ou patológicos durante o trabalho de parto, assim como no DigiNew-b, um projeto europeu que desenvolveu um sistema de monitorização em Neonatologia.

Com colaborações e artigos publicados em áreas tão variadas como a Gastroenterologia, Anestesiologia, Medicina Geral e Familiar, Educação Médica, Bioética, ou Farmacovigilância, Cristina Costa Santos tem-se dedicado igualmente ao desenvolvimento de métodos estatísticos para análise de dados de saúde e à utilização desses métodos para resolver problemas em Medicina, em particular em Obstetrícia. Tem ainda colaborado com diferentes grupos de investigação no desenho de estudos, recolha de dados e análise estatística dos mesmos.

Como mãe e como pessoa, faz questão de estar presente na vida dos seus dois filhos, distingue-se pelo seu sentido de humor “refinado”, por uma “curiosidade insaciável” e por uma “propensão natural para novos desafios”, com a ambição de fazer realmente a diferença na construção de uma sociedade melhor.

Naturalidade? Vila Nova de Gaia

Idade? 48 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Gosto do prestígio que a Universidade do Porto tem e que lhe é reconhecido. Gosto da qualidade do ensino e da investigação.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Não gosto, sobretudo, da separação física dos polos. Tenho participado em algumas atividades com pessoas de diferentes unidades orgânicas e acho sempre que são muito enriquecedoras. Penso que seria mais fácil se houvesse um único polo.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Era, exatamente, uma maior articulação entre as unidades orgânicas, de modo a fomentar mais atividades em colaboração, e, se calhar, uma ainda maior preocupação da Universidade em fazer algo pela comunidade e pela cidade que a acolhe. Seria interessante que essa abertura, que já existe, pudesse ser ainda maior.

– Como prefere passar os tempos livres?    

Tento aproveitar os tempos livres que tenho com os meus filhos e os meus animais de estimação, de forma a ter alguns momentos de qualidade com eles.

– Um livro preferido?

Gosto muito dos livros de José Saramago. Ultimamente, vem-me à ideia, frequentemente, o “Ensaio sobre a Cegueira”, porque nos obriga a refletir em questões da moral e da ética.

– Um disco/músico preferido?

Gosto muito de Freddy Mercury, de Ney Matogrosso e de Pedro Abrunhosa, por exemplo.

– Um filme preferido?

Não sei se tenho um filme preferido, até porque vou muito pouco ao cinema. Lembro-me de um filme da minha adolescência, uma biografia de uma zoóloga americana, a Dian Fossey, sobre o seu trabalho científico e de conservação dos gorilas das Montanhas Virunga. Ela deixou o conforto para se dedicar a uma causa.

– Um prato preferido?

Aprecio qualquer prato, desde que não tenha animais. Sou vegetariana. O prato que mais gosto de cozinhar e de comer é feijoada de cogumelos.

– Uma viagem de sonho?

Eu não gosto de andar de avião. Tirando esse pormenor [risos], gostava de ir a sítios pouco povoados do planeta, como a floresta Amazónica ou a Gronelândia.

– Um objetivo de vida?

Não sei se tenho um objetivo de vida a longo prazo. Vou tendo muitos objetivos… Se calhar, gostaria de sentir que, alguma vez na minha vida, fiz algo que melhore a sociedade no futuro.

– Uma inspiração?

Houve muitas pessoas que me inspiraram, com certeza. Uma frase que me inspirou e de que me recordo muitas vezes foi dita por Fernando Nobre, já há muito tempo. Ele dizia que “o pior pecado é a indiferença perante o sofrimento”. Nunca me esqueci. Acho que é, de facto, verdade.