Aos 5 anos dizia que queria ser “médica dos animais”. Aos 31, está perto de concretizar esse sonho no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), onde frequenta o 4.º ano do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária . Mas esse não é o único sonho que comanda a vida de Cláudia Alves Rodrigues, a nova bicampeã nacional universitária de Salto em Altura em pista coberta.

Foi no passado dia 7 de março, em Pombal, que a atleta brigantina voltou a impor-se, pelo segundo ano consecutivo, como a melhor saltadora em altura universitária do país, após o triunfo no Campeonato Nacional Universitário (CNU) de Atletismo de Pista Coberta. Um resultado que contribuiu também para aquele que foi o 12.º título coletivo consecutivo para a U.Porto na competição.

Com um percurso desde sempre ligado ao desporto, Cláudia Alves Rodrigues conta já com 30 medalhas de ouro, 30 de prata e 36 de bronze em várias modalidades do atletismo. Oito delas foram conquistadas em representação da U.Porto, a que se juntam ainda quatro internacionalizações com as cores de Portugal. Uma das últimas conquistas foi a medalha de bronze na edição 2020 do Campeonato de Portugal de Atletismo em Salto em Altura.

Um “voo” de 1,59 metros foi o suficiente para Cláudia Rodrigues revalidar o título nacional universitário de salto em altura, em pista coberta. (Foto: DR)

O feito alcançado em Pombal ganha, contudo, uma dimensão ainda maior, considerando que a atleta – que representa atualmente a Associação Desportiva Recreativa Água de Pena (ADRAP), da Madeira – não treina em pista desde março do ano passado. Poder participar e, ainda ganhar com as cores da U.Porto, “foi um alento, e acima de tudo, com as ausências que tivemos, foi um sentimento de sacrifício, mas muito compensador”, confessa.

Mas se a carreira da atleta adiou alguns dos projetos da médica veterinária, nem por isso Cláudia Alves Rodrigues deixa de subir a fasquia em ambas as facetas. Depois de entrar no ICBAS em 2009/2010, acabou por desistir do curso para se dedicar ao atletismo. Regressaria ao ensino para se formar em Enfermagem Veterinária no Instituto Politécnico de Bragança, em 2018. No mesmo ano, voltou a “casa” para concluir o Mestrado Integrado em Medicina Veterinária do ICBAS.

Um sonho que, estando prestes a concretizar-se, deixará Cláudia “deveras feliz”. E mais feliz ficará quando cumprir o objetivo de “ter uma quinta pedagógica, desenvolver um projeto de Asinoterapia ou algo dentro da terapia assistida”. E até já escolheu os futuros “clientes”: “Serei muito feliz, qualquer que seja a espécie, mas não escondo a preferência pelos asininos [burros] e pequenos ruminantes [ovelhas, cabras, entre outros)”.

A futura veterinária ambiciona desenvolver um projeto de Asinoterapia, orientado para a terapia de burros. (Foto: DR)

Naturalidade? Nascida em Lisboa, criada em São Miguel, Açores.

Idade? 31.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

O título de excelência, a exigência e estar inserida numa das cidades mais bonitas do mundo.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da falta de apoio aos estudantes-atletas. A exigência que considero uma vantagem também se torna por vezes desvantagem porque nos é exigido um grau de aprendizagem muito elevado, principalmente nesta fase da pandemia.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Uma maior interacção instituição-aluno, mais e melhores apoios para que o desporto possa efetivamente ser reconhecido como um complemento fundamental e não apenas um ‘hobby’ a partir do momento em que ingressamos, um papel mais ativo na integração do aluno deslocado, em causas sociais como o abandono escolar. No ICBAS, em particular, penso que seria muito proveitoso haver um papel ativo entre o curso de medicina Veterinária e o abandono animal através, por exemplo, de uma maior cooperação entre o nosso ensino e o Canil do Porto.

– Como prefere passar os tempos livres?

A treinar, viajar, a ler, ver filmes e bons momentos com a família e amigos.

– Um livro preferido?

Vários. Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, a História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar, de Luís Sepúlveda, e o Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry.

 – Um disco/músico preferido?

É difícil a escolha, mas possivelmente Unknown Pleasures, dos Joy division.

– Um prato preferido?

Tenho dois amores, francesinha e pizza!

– Um filme preferido?

The Great Gatsby e Seven Pounds.

– Uma viagem de sonho?

Realizada, sem dúvida ao Donkey Sanctuary, em Sidmouth (Inglaterra). Por realizar, diria uma volta em caravana aos Estados Unidos.

– Um objetivo de vida?

Ser feliz.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

João Brandão Rodrigues, Hélder Quintas, a associação AMICA, The Donkey Sanctuary e, dentro do desporto, Naide Gomes e claro.. Cristiano Ronaldo.

– O projeto da sua vida….

Ter uma quinta pedagógica, desenvolver um projecto de Asinoterapia ou algo dentro da terapia assistida.

– Uma ideia para promover uma maior ligação entre a Universidade e a comunidade?

Apesar da situação crítica que passados neste momento que nos impossibilita de podermos interagir mais, penso que podíamos ser mais ativos no âmbito do apoio social, multiplicar as atividades de voluntariado, interagir mais com as escolas, principalmente as secundárias de forma a mostrar e demonstrar os nossos cursos para lá das mostras da U.Porto. Isto passaria, como referi, por cooperar mais com instituições de cariz social e animal, promover formações e workshops das diversas áreas dadas pela Universidade para a comunidade, ou integrar ‘Bancas da U.Porto’ em eventos culturais e sociais de forma a dar ainda mais visibilidade e divulgação de quem somos e o que temos para oferecer.