Bruno Guimarães foi o grande vencedor da edição deste ano da vertente pedagógica do Prémio de Cidadania Ativa da Universidade do Porto, um galardão que visa distinguir os estudantes que se tenham destacado pelo seu papel cívico extracurricular. A distinção foi atribuída ao doutorando da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e investigador do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde pelo desenvolvimento do HarriFlash, uma aplicação que ajuda os futuros médicos a prepararem-se para a Prova Nacional de Seriação, cuja classificação dá acesso à especialidade médica.

“Houve sangue, suor e lágrimas, mas obtivemos um sucesso que superou largamente as nossas expectativas, com mais de 6 mil downloads. Mais de 98% da população que fez o exame em 2017 e que vai fazer o exame em 2018 utiliza ou já utilizou o HarriFlash”, regozija-se o premiado.

Natural de Argoncilhe, em Santa Maria da Feira, Bruno Guimarães é fã confesso de Rock e Heavy Metal, teve uma banda e chegou a dar concertos, como baterista. Foi a primeira pessoa da família a seguir o Ensino Superior. Fez o curso de Medicina na FMUP, onde já tinha dado nas vistas no projeto VIMU – Plataforma Online de Apoio à Aprendizagem em Anatomia, e onde está a fazer o doutoramento em Medicina.

“Sempre me interessou o grande contraste entre a evolução tecnológica a nível médico e a maneira como aprendemos e ensinamos Medicina. A nível universitário, ainda há uma perspetiva muito vertical do ensino, com o professor como figura central. O ideal seria ter uma abordagem multimodal, em que a perspetiva convencional fosse complementada com novos métodos de aprendizagem”, explica. E acrescenta: “No doutoramento quero explorar isso: como é que temáticas como a educação médica, a informática e as novas ferramentas digitais podem relacionar-se para aumentar e melhorar a experiência dos estudantes. O conhecimento adquirido no âmbito do doutoramento foi a base para a criação do HarriFlash e é um exemplo de como a educação e a tecnologia podem relacionar-se”.

Atualmente a frequentar o internato da especialidade de Medicina Física e Reabilitação no Centro Hospitalar de Entre-Douro e Vouga, Bruno Guimarães considera que esta é uma área “fantástica”, onde pode oferecer qualidade de vida a todo o tipo de doentes. “É muito gratificante ajudar um doente que teve um AVC a recuperar padrões de marcha e a funcionalidade, permitindo que volte, por exemplo, a escovar os dentes ou a fazer a sua higiene pessoal”, diz.

Como jovem empreendedor, é com orgulho que fala da Adhara, a empresa spin-off do CINTESIS, que deu origem ao HarriFlash. Além desta aplicação, já tem na calha novos produtos para contextos pedagógicos, sempre com o objetivo de ajudar os estudantes no seu processo de aprendizagem. O que será no futuro: investigador, médico ou empresário? “Não quero fixar-me só num papel. A variedade é a especiaria da vida. Se colocarmos um pouco de cada, vamos ter um prato muito mais saboroso”, conclui.

– Naturalidade? Santa Maria da Feira

– Idade?  28 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Há três coisas de que gosto. A primeira é a qualidade do corpo docente. A segunda é a oportunidade de formação na área desejada, numa fase inicial, mas também de alargar horizontes e fazer a melhor translação do contexto formativo para o contexto da sociedade civil e empresarial. O terceiro ponto é a diversidade de oferta de ensino, quer no 1º, quer no 2º e 3º ciclos.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Por vezes, a articulação entre os serviços não é a melhor. Por outro lado, penso que a Universidade do Porto, ao nível do 2º e 3º ciclo, não deveria limitar a possibilidade dos estudantes se inscreverem em vários cursos ao mesmo tempo (atendendo ao limite máximo 60 créditos anuais). Esta restrição, numa fase mais avançada da formação, não favorece a aquisição desejável de diferentes competências.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

A principal ideia é favorecer a translação do conhecimento da fase formativa para a sociedade civil, através de uma rede nacional e europeia que possa potenciar a investigação, bem como as startups e spin-offs que surgem no contexto universitário.

– Como prefere passar os tempos livres?

Procuro fazer desporto. Gosto de correr, de jogar futebol, de ler e adoro viajar e ouvir música.

– Um livro preferido?

É uma pergunta difícil, mas gosto muito de “Anna Karenina”, de Lev Tolstoi, de “Cem Anos de Solidão” e de “Crónica de Uma Morte Anunciada”, de Gabriel García Márquez, São livros fantásticos.

– Um disco/músico preferido?

Os Metallica têm um lugar especial no meu coração. O álbum “Master of Puppets”  é um clássico perfeito, imbatível.

– Um prato preferido?

Gosto de comer bem e de beber um bom copo de vinho. Pratos preferidos? Um bom arroz de marisco ou uma espetada de marisco são fantásticos.

– Um filme preferido?

Adoro “O Padrinho”. Acho que é um filme fantástico. “Laranja Mecânica” também é, sem dúvida, um filme sensacional.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Adorava ir ao Brasil e, em particular, ao Rio de Janeiro, se o clima social fosse um pouco mais favorável do que é atualmente. Aliás, adorava ir a todos os países que têm relação com Portugal, em particular que partilham a nossa Língua.

– Um objetivo de vida?

Quero ser feliz e realizar-me em várias dimensões. A nossa vida é constituída por vários vasos que nós temos de regar, como os vasos da família nuclear e da família que escolhemos. Em termos profissionais, muito humildemente, gostava de contribuir para que a futura geração seja melhor.

– Uma inspiração?

A nível pessoal, poderia mencionar várias pessoas… os meus pais e a minha namorada, que são a minha força motora. Em termos profissionais, seria incorreto da minha parte mencionar um nome em particular. Em termos utópicos, tenho um fascínio um Nikola Tesla, provavelmente a mente mais brilhante que já tivemos na Ciência. Admiro a sua personalidade e a sua motivação para trabalhar, às vezes confundida com obsessão.

– Planos para o futuro?

Pretendo concluir o processo formativo na especialidade médica de Medicina Física e de Reabilitação, concluir o doutoramento, assegurar a continuidade do projeto de investigação e constituir, em termos profissionais, bases sólidas para que possa haver uma translação daquilo que se investiga para o público através da empresa Adhara.