“O que queres ser quando fores grande?” A pergunta que quase todas as crianças ouvem ao longo da infância costuma dar azo a respostas tão ambiciosas quanto as capacidades imaginativas do momento. No caso de Bia Santos Silva, a estudante finalista da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) deu por si a recordar, há dias, a memória da resposta que deu em criança: “Quero ser piloto”.

No entanto, os anos foram passando e a série “Dr. House” deixou Bia Santos Silva a imaginar como seria a vida dentro de um hospital, acabando por perceber que queria vestir a bata branca e tratar da melhor forma possível os seus futuros doentes. Praticamente a meio do curso de medicina que já estava a frequentar, um salto de paraquedas realizado no seu aniversário deu-lhe a adrenalina suficiente para querer voltar ao sonho de criança e aventurar-se no mundo da aviação.

Atualmente no último ano do Mestrado Integrado da FMUP, Bia Santos Silva já concluiu a parte teórica do curso de piloto na Escola de Aviação Nortávia e ultrapassou, recentemente, as trinta horas de voo. Sendo duas áreas exigentes, a futura médica e piloto faz da organização, disciplina, resiliência e paciência os “segredos” para conseguir alcançar a “linha ténue de equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional”.

Comparando as duas áreas, a jovem estudante consegue enumerar mais pontos que as aproximam do que aquilo que as separa. O facto de cada voo e cada paciente serem únicos, e de existirem diretrizes e guidelines que orientam o procedimento em cada situação, aliado ao “desafio inerente ao inesperado”, tornam a medicina e a aviação “duas profissões verdadeiramente interessantes”.

“Não há um voo igual a outro, não há uma forma exata de manobrar um avião porque a meteorologia é sempre uma condicionante, assim como em medicina não há um paciente exatamente igual, nem uma só forma de o abordar e tratar, pois o paciente é tido em conta em todos os seus contextos e circunstâncias”, acrescenta Bia Santos Silva.

Com a ambição de poder exercer as duas profissões no futuro, reconhece, porém, a “grande exigência” e o facto de ambas carregarem uma “enorme responsabilidade associada ao peso de outras vidas”. Na opinião da estudante de Medicina, “estar rodeada das pessoas certas”, de quem recebe “todo o apoio e carinho”, tem sido fundamental para «voar» rumo a todas as ideias e projetos.

Bia Santos Silva é estudante finalista da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). // DR

– Naturalidade? Porto

– Idade? 23 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

A Universidade do Porto tem uma qualidade de ensino e formação de excelência. Os seus docentes são referências nas suas áreas e há um vasto leque de oportunidades à disposição dos estudantes, sendo estes, sem dúvida, os seus pontos fortes. Destaco também o excelente ambiente que é vivido na comunidade académica, quer pelas suas tradições intrínsecas, como a praxe, mas também entre professores, alunos e toda a comunidade educativa. Tenho o maior orgulho em ter sido formada enquanto pessoa e profissional nesta casa e escola médica de excelência que é a mui nobre Medicus Facultis.

 – De que menos gosta na Universidade do Porto?

Apesar das políticas atuais da universidade para estudantes que procuram outro tipo de formação terem vindo a tornar-se mais favoráveis, continuam, ainda assim, muito restritivas. A extensão, até certo limite, dos ECTS permitidos a um estudante para realizar unidades curriculares noutras Unidades Orgânicas da Universidade do Porto é algo, a meu ver, limitativo à priori.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

No seguimento do que referi anteriormente e enquanto atual estudante da academia, gostaria que a universidade procurasse tornar-se menos restritiva, burocraticamente falando. Que fomentasse uma maior abertura e compreensão para com alunos que procuram currículos mais diferenciados.

– Como prefere passar os tempos livres? 

Adoro um jantar com uma boa companhia. Um passeio à beira-mar. Adoro ambientes intimistas com os meus amigos. Uma longa conversa com a minha mãe. Gosto de ler. Gosto de viajar. De conhecer coisas novas. Em resumo, gosto de aproveitar os meus tempos livres a criar memórias, a conhecer sítios agradáveis…

– Um livro preferido?

É muito difícil escolher só um. Adoro ler e tenho imensa pena de, atualmente, não o conseguir fazer com mais frequência. Ultimamente, as minhas leituras têm-se resumido aos slides de estudo para a Prova Nacional de Avesso, ao Pad Pilot e ao POH do Cessna 152. Mas gosto de livros de não ficção, com os quais temos outra perceção do mundo e vamos formando muito da nossa cultura. Não prescindo, contudo, de ficção. Sou apaixonada pela escrita de Saramago. O “Ensaio sobre a cegueira” e “As intermitências da morte” talvez tenham sido os que terminei mais rápido e cuja leitura mais me cativou. Dos últimos que li, destaco também “A insustentável leveza do ser”, de Milan Kundera e “o Jogo das contas de vidro” de Herman Hesse, pela profundidade com que abordam temas corriqueiros.

– Um disco/músico preferido?

Adoro vários estilos musicais, pelo que seria impossível escolher só um, mas o novo disco da Adele e Jazz talvez sejam o que mais tenho ouvido nos últimos tempos. A par de vários podcasts.

– Um prato preferido? 

Uma pergunta extremamente difícil. Sou amante de boa comida. Mas marisco é algo que o meu palato nunca rejeita.

– Um filme preferido?

Não sou grande fã de filmes, terminam rápido demais, antes que eu me possa sentir inebriada na narrativa. Em contraste, adoro séries. “Suits”, “Dr. House” (claro), e “The Queen’s Gambit” são as que já repeti.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 

Não creio que tenha uma viagem de sonho. Tive a sorte de poder viajar desde muito pequena para vários países, pelo que já não tenho este conceito de viagem de sonho muito presente. No entanto, gostaria, sem dúvida, de conhecer o restante!

– Um objetivo de vida?

Essencialmente, conseguir saciar esta minha vontade em abarcar tudo a todo o momento e querer sempre mais. É uma sensação que mal consigo explicar, é um borbulhar de ideias, sonhos e objetivos por cumprir que, na minha conceção, já deviam ter sido realizados ontem. Quero tirar prazer em tudo o que realizar e deixar perpetuado um legado que, espero, vir a ser uma fonte inspiração para os que me rodeiam e para a família que pretendo construir.

– Uma inspiração?

Não sinto que seja inspirada por uma só pessoa, mas por uma coleção de momentos com as pessoas com quem vou contactando. No entanto, a minha mãe tem sido a minha maior e constante inspiração. Em medicina, tive oportunidade de contactar com excelentes profissionais, dos quais retirei grandes ensinamentos, enquanto profissional e pessoa. E devo-o, em grande parte, ao meu tutor e orientador, o Prof. Dr. Ricardo Horta, e a um especial mentor, o Dr. António Vieira. Também na aviação, os meus instrutores, quer da parte teórica quer de voo, em especial, o Diogo Bento e o Pedro Matos, os meus instrutores de voo até à data, têm moldado muito o tipo de piloto em que me vou tornar. A estes e a todas as pessoas que já se cruzaram na minha vida, expresso o meu maior agradecimento, porque de todas elas retirei algo que moldou a pessoa que sou hoje.

– O projeto da sua vida…

Acho que o projeto da minha vida vai-se contruindo em função das minhas prioridades em cada momento e penso que ainda estou numa fase em que tenho vários percursos e oportunidades em aberto, pelo que seria precoce da minha parte tê-lo já definido. Espero enveredar em marcantes projetos profissionais e, quem sabe, poder eventualmente responder a esta pergunta com mais certezas, se ela me for feita, novamente, daqui a uns cinco anos…

– Que planos ambiciona para o futuro? 

Num futuro próximo, espero atingir todas as metas a que me propus no tempo adequado, sendo estas o término dos dois cursos, com sucesso. Espero poder exercer ambas as áreas, poder construir as minhas próprias oportunidades profissionais e concretizar todas as ideias e projetos que, de momento, borbulham apenas nos meus pensamentos. Ambiciono que tudo o que venha a construir seja motivo de grande brio pessoal e sucesso. Além da parte profissional, ser mãe é um dos grandes planos da minha vida. Gostaria de construir uma família grande, talvez por ser filha única. O futuro enche-me de expetativas e, confesso, de muita ansiedade também. No entanto, aguardo, expectante, o que me reserva…