Em pequena queria estudar os primatas, mas a vida levou-a para outros voos até conhecer o mocho-do-princípe (Otus bikegila). Foi durante o mestrado em Biodiversidade, Genética e Evolução da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) que Bárbara Freitas, jovem investigadora de 26 anos, se cruzou com esta espécie que ajudou a descrever em dois estudos publicados recentemente

Nessa altura, conseguiu uma bolsa da National Geographic Society que financiou várias semanas de trabalho de campo em São Tomé e Príncipe. “Usei dados genéticos, morfológicos e bioacústicos para demonstrar que, de facto, esta espécie é diferente das outras”, conta. E o que a distingue é o seu canto único. “Uma nota curta “tuu” repetida cerca de uma vez por segundo, podendo lembrar o canto de insetos”, descreve o colega de investigação, Martim Melo. Foi lá que recolheu uma série de gravações que lhe permitiram desenvolver um método automático para encontrar vocalizações dessa espécie em particular e assim trabalhar na sua monitorização.

Terminada a dissertação realizada no Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), em Vairão, a alumna da FCUP, também licenciada em Biologia, rumou a Montpellier (França), em 2020, para um estágio Erasmus +. No Centro de Ecologia Evolutiva e Funcional, teve a oportunidade de aprofundar o seu trabalho.  

(Foto: Martim Melo)

No ano seguinte, começou a trabalhar como bolseira de doutoramento da FCT, no Museu Nacional de Ciências Naturais, em Madrid e também no Laboratório de Evolução e Diversidade Biológica, em Toulouse. Atualmente está a investigar o papel do canto nos processos de especiação de aves insulares, usando como sistema de estudo aves da ilha de La Palma (Canárias) e Reunião.

Apaixonada pela natureza e pela divulgação científica, Bárbara Freitas participou em iniciativas como o “Pint of Science” e “Cartas com Ciência”.

(Foto: Martim Melo)

– Idade? 26 anos.

– Naturalidade? Santa Maria da Feira, Portugal

– De que mais gosta na U.Porto?

A minha ligação à Universidade foi principalmente através da Faculdade de Ciências, do CIBIO e do Museu de História Natural e da Ciência, por isso o meu feedback tem por base a minha passagem por estas instituições. No geral, senti que havia uma enorme vontade e motivação por fazer mais e melhor, e um ótimo ambiente de trabalho.

– De que menos gosta na U.Porto?

Sinto que, para além da distância física entre as várias faculdades e centros de investigação, existe também uma distância temporal: as faculdades tendem a exceder-se nos formalismos, burocracias e hierarquias, não acompanhando nem aproveitando o desenvolvimento dos centros de investigação. Além disso, parece não haver uma promoção ativa de colaborações entre os vários polos/centros de investigação.

– Uma ideia para melhorar a U.Porto?

Penso que deveria haver um maior estímulo para a inovação e uma maior promoção de colaboração entre as várias faculdades e centros de investigação, por exemplo para projetos de investigação, ou integração de investigadores no programa docente.

– Como prefere passar os tempos livres?

Gosto bastante de fazer caminhadas na Natureza, praticar desporto e fazer jantaradas em casa com amigos ou família.

– Um livro preferido?

É difícil escolher só um quando existem muitos e tantos outros por ler. Alguns deles são ‘O estrangeiro’ e ‘A Morte Feliz’ de Albert Camus e ‘Patagónia Express’ de Luís Sepúlveda.

– Música preferida?

A resposta a esta pergunta está em constante oscilação. Neste momento não consigo escolher uma entre ‘Black Flowers’ de Yo La Tengo, ‘The Lightning’ de Arcade Fire ou ‘Perth’ de Bon Iver.

– Prato preferido?

Uma sobremesa, seja ela o crumble de maçã da Marta, o bolo gelado dos meus pais, asdadelvingers’ que o Martim leva para o campo, ou o pastel de nata do Bar da Teresa. O que eu gosto mesmo são as memórias desses momentos!

– Um filme preferido?

Mais uma vez, é difícil escolher só um, mas sem dúvida ‘Into the wild’ (2007), ‘Life as a House’ (2001) e ‘The Butterfly Effect’ (2004) estão na lista de preferidos.

– Uma viagem de sonho?

Se me perguntam azul mar ou verde montanha, prefiro sempre a segunda opção. E porque para conhecer a montanha há que caminhar, gostava muito de explorar os vários trilhos nos Pirenéus e Picos d’Europa e fazer o Tour du Mont Blanc. Explorar a Amazónia está na lista há bastante tempo também, mas exige um planeamento mais delicado.

(Foto: DR)

– Um objetivo por concretizar?

A meia maratona já está, um dia terá de ser a maratona completa.

– Uma inspiração?

Quando era mais pequena, Jane Goodall, o que me levou a querer estudar primatas, mas depois percebi que cada um de nós deve seguir as suas próprias paixões.

Percebi também que às vezes as pessoas que estão mais perto de nós são as inspirações mais práticas, que nos inspiram cada dia e nos impactam tanto quanto os ‘grandes clássicos’. E para esta lista não faltam nomes.

– Um projeto de vida?

Ser feliz a fazer o que gosto, seja isso o que for e quando for, e de preferência bem-sucedida, seja lá o que isso significa. Prefiro não fazer projeções de vida a longo prazo…

– Maior conquista a nível profissional?

Estou agora a começar, por isso não tenho muitas conquistas para escolher, mas ‘o caminho faz-se caminhando’ e sem dúvida que fazer parte da equipa do projeto do mocho-do-príncipe e publicar a descrição de uma nova espécie foi um motivo de grande celebração.