António Soares é o gestor executivo do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) – a segunda maior unidade de I&D na área da Saúde com base na Universidade do Porto – onde está “aos comandos” de uma equipa multidisciplinar que apoia os investigadores em várias frentes (Gestão de Projetos Nacionais e Internacionais, Inovação, Comunicação e Gestão Financeira). Recentemente, foi convidado pela Comissão Europeia (CE) para integrar o restrito grupo de especialistas que avaliam e monitorizam os projetos científicos apoiados pela CE, tarefa a que se dedicará já no próximo mês de maio, em Bruxelas.

Psicólogo de formação, esteve dedicado à prática clínica entre 2006 e 2009, tendo encabeçado a criação do Gabinete de Apoio à Família da Câmara Municipal de Guimarães. Embora apaixonado pelo trabalho direto com os pacientes, aceitou integrar a equipa de docentes da Universidade do Minho, enquanto desenvolveu o seu projeto de doutoramento na área da Psicologia da Saúde.

Em 2010 decidiu colocar a família em primeiro lugar. Pai pela primeira vez, fez uma pausa na carreira e viajou com a família para Barcelona, onde esteve 100% dedicado à educação do primeiro filho – uma experiência que considera ter sido particularmente recompensadora.

Foi a investigação que o trouxe à U.Porto em 2011, onde  começou por integrar um projeto na área da Comunicação Clínica, sob a tutela da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP). Nesse âmbito, teve a oportunidade de “visitar todas as Faculdades de Medicina do país e conhecer a fundo o que é o Ensino Médico em Portugal”. Paralelamente, foi formador no Centro de Simulação Médica do Porto (CESIMED) e membro associado do Centro de Simulação Biomédica da FMUP.

Contudo, foi o convite para integrar o CINTESIS, em 2012, que mudou a tónica da carreira do especialista em Psicologia da Saúde… A partir daí não parou mais. Concluiu uma pós-graduação em Gestão de Projetos na Porto Business School e, à gestão científica da Unidade de Investigação, que cresceu de forma acentuada entre 2012 e 2017 (de cerca de 25 para quase 400 investigadores!), somou a participação no AgeUP Consortium, no PtCRIN (Portuguese Clinical Research Infrastructure Network) e no Health Cluster Portugal. É também especialista da Agência Nacional de Inovação (ANI) e acompanhou a submissão de mais de mais de uma centena de projetos científicos, alguns de dimensão internacional.

Defensor de que “não devemos escolher um trabalho, mas devemos escolher um chefe”, admite que a “carta branca” que lhe foi concedida pelo coordenador do CINTESIS (Altamiro da Costa Pereira) aquando do convite para se juntar à unidade, a possibilidade de fazer coisas “fora da caixa” e a visão única desta Unidade de I&D o mantêm completamente focado neste desafio.

Idade? 38 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Das pessoas que fazem parte dela e da vontade que têm em fazer sempre mais e melhor, com uma incrível capacidade para conjugar a História com a Inovação.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da ambivalência inerente ao modelo de autonomia / centralidade da Orgânica da U.Porto e da sua relação com as instituições (de interface) associadas, o que depois acaba por se traduzir em procedimentos de gestão, por vezes, excessivamente burocráticos e confusos, o que resulta numa relação desigual entre os diferentes intervenientes na vida académica.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Só uma? Apresento duas que já estão aprovadas e tudo: clarificação e implementação de um modelo de gestão académico, com base nos Estatutos da U.Porto e a Contratação dos Doutorados (Decreto-Lei n.º 57/2016).

– Como prefere passar os tempos livres?

Em família e/ou com amigos, à volta de uma mesa a conversar, após uma viagem.

Agora dedico bastante do meu tempo às atividades escolares e desportivas dos meus filhos, e acabo (ainda não percebi muito bem porquê) por me envolver diretamente nas diferentes associações (pais, futebol, hóquei em patins), o que é simultaneamente exigente e recompensador.

– Um livro preferido?

Vou falar em cinco que me marcaram: “As Vinhas da Ira” (John Steinbeck), “Adeus às Armas” (Ernest Hemingway), “A Queda” (Albert Camus), “A Morte de Bunny Munro” (Nick Cave) e “Leite derramado” (Chico Buarque).

– Um disco/músico preferido?

Os meus gostos são muito marcados pela adolescência nos anos 90, pelo que o som Indie continua a orientar tanto as minhas preferências passadas (e.g. Pixies, Rage Against the Machine, Tool, Nirvana, Pearl Jam, Joy Division, Beastie Boys, Sonic Youth, The Smashing Pumpkins, Jeff Buckley, Violent Femmes, Portishead) como as atuais (e.g. Radiohead, Black Keys, Linda Martini, The Gift, Clã, Artic Monkeys). Também gosto bastante de ouvir Fado e Jazz ao vivo e tenho um prazer especial em acompanhar projetos “fora da caixa” como os Ganso ou Conjunto Corona, pois atrai-me bastante a coragem destas bandas em inovar, em arriscar fora do mainstream.

Parafraseando uma citação famosa da Inovação: “as lâmpadas não surgiram por causa da evolução constante das velas de cera”.

– Um prato preferido?

Risotto de camarão (feito por mim) e a maioria dos pratos que se podem encontrar numa adega regional minhota.

– Um filme preferido?

Tenho alguns favoritos (e.g. Pulp Fiction, Platoon, Ferris Bueller’s Day Off, The Goonies, Animal House), mas o último filme que me fez pensar foi o Into the Wild (Sean Penn). Gosto particularmente dos filmes que têm a mão de Alejandro González Iñárritu, de Quentin Tarantino, do Christopher Nolan ou do Judd Apatow. Os filmes do Alfred Hitchcock, do Harold Ramis ou do Jim Abrahams fazem parte do meu imaginário.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 

Bazaruto e Sardenha (realizadas), a Grande Barreira de Coral e Zanzibar (por realizar). Dar a volta ao mundo à boleia em cargueiros, é mais difícil, mas ainda vai ser realizado.

– Um objetivo de vida?

Promover uma maior equidade no tratamento e no acompanhamento das situações, sejam elas de cariz institucional ou interpessoal.

– Uma inspiração?

Inspiro-me sempre naqueles que conseguem fazer muito com muito pouco; é sempre uma lição de humildade.

– O projeto da sua vida…

Acredito que a criança é o pai do Homem e que as competências sociais e humanas são bem mais importantes que as técnicas. Daí que a educação dos meus filhos – com mais enfoque no upbringing do que no education – é o projeto mais importante da minha vida.

– O que falta fazer pelas Unidades de Investigação em Portugal?

 

Continua a faltar o básico: definir-se o que é um investigador, como é que ele pode (e deve) ser remunerado e o que se fazer com o produto do seu trabalho.