Nasceu na Tailândia, doutorou-se no Brasil, passou pela Alemanha e pelos Estados Unidos, mas foi em Portugal e no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) que Anake Kijjoa se notabilizou, ao longo das últimas décadas, como nome de referência nacional e internacional na área da Química de Produtos Naturais. A mesma que, aos 70 anos (ou 60+10…), continua a fazer brilhar os olhos do agora professor jubilado do ICBAS: “a Química é uma parte fundamental da nossa vida! Sem ela nada seria possível…a Biologia, a Medicina, …tudo!”, refere no seu sotaque característico.

Licenciado em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de Chulalongkorn ( Banquecoque, Tailândia) em 1975, Anake Kijjoa doutorou-se pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo (Brasil) em agosto de 1980. Seguiram-se os pós-doutoramentos no Institut de Pharmazeutische Biologie, University of Heidelberg, Germany (em 1986) e no Department of Chemistry, the Florida State University, Tallahassee, EUA (em 1988).

Antes, já o seu destino se havia cruzado com Portugal, onde chegou no início da década de 80 para dar aulas na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). Em 1984, muda-se para o ICBAS, onde ascende rapidamente a Professor Associado (1990), com agregação desde 1993. Professor Catedrático desde 1994 e Diretor do Departamento de Química desde 2000, é ainda investigador responsável do grupo “Química de Produtos Naturais e Atividade Biológica” do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR).

Autor de mais de 185 artigos de trabalho de investigação em revistas científicas internacionais “peer reviewed” e de nove capítulos de livros com circulação internacionais, Anake Kijjoa é editor associado das revistas Marine Drugs e Brazilian Journal of Pharmacognosy e membro do corpo editorial de várias revistas científicas internacionais. Presidiu e integrou  a comissão científica e organizadora de vários Congressos internacionais, incluindo a “6th European Conference on Marine Natural Products”, realizada no Porto, em 2009.

Recebeu diversos prémios, incluindo o prémio “The Thai Professional Award”, atribuído em 2008 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ambiente da Tailância, como reconhecimento pelas “contribuições extraordinárias” para o desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia naquele país. Em novembro desse ano, foi agraciado com o título “Doutor Honoris Causa” pela Universidade de Burapha (Tailândia) e no ano a seguir (em julho) pela Universidade de Kasetsart (Tailândia).

De Portugal para o mundo

Um verdadeiro “embaixador” entre a Tailândia, de onde é natural, e Portugal, país que o “adotou” há mais de 40 anos, Anake Kijjoa promove ainda hoje, no departamento de Química do ICBAS, uma celebração anual do ano novo tailandês – o “Songkran” -, na qual não faltam os rituais típicos tailandeses.

Fiel às suas raízes, foi também o principal dinamizador do acordo de cooperação (MOU) assinado entre a U.Porto e várias universidades da Tailândia e da Turquia, do qual resultou  o recrutamento de vários estudantes tailandeses e dos países do sudeste Asiático para fazerem doutoramento e mestrado no ICBAS e noutras faculdades da U.Porto.

Pelas suas mãos passaram ainda teses de Mestrado e Doutoramento, bem como investigadores de pós-doutoramento em Química de Produtos Naturais oriundos de países como a Albânia, Brasil, Cambójia, Marrocos, Myanmar, ou a Síria. Orientou também vários estudantes dos programas Erasmus e Erasmus Mundus e foi avaliador internacional de teses de mestrado da Faculdade de Ciências da Universidade de Cairo (Egito) e teses de Doutoramento da Faculdade de Ciência da University of Mauritius (Maurícia).

Conhecido pela pontualidade “britânica” que exige aos seus estudantes, é “doutorado” na arte de bem receber aqueles que o procuram. Que o digam os estudantes que convida para passar o Natal com a sua família, de forma a que se “sintam” em casa!…

Anake Kijoa dirige o departamento de Química do ICBAS há mais de duas décadas. (Foto: DR)

Naturalidade? Pathumthani, Tailândia

Idade? 60+10 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da pluralidade e do internacionalismo.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Das faculdades estarem espalhadas pela cidade e não juntas no mesmo campus.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Cada Faculdade deveria ter o seu próprio centro de investigação para permitir mais a interação entre corpo docente da faculdade e os seus estudantes.

– Como prefere passar os tempos livres?

Passear os cães.

– Um livro preferido?

A Promised Land, de Barack Obama

– Um disco/músico preferido?

Georges Moustaki.

– Um prato preferido?

Rojões à moda do Minho.

– Um filme preferido?

The Man Who Would Be King.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?- Machu Picchu

 Um objetivo de vida?

Envelhecer com saúde física e mental.

– Uma inspiração?

Abraham Lincoln.

-O projeto da sua vida?

Continuar ajudar e ensinar os mais jovens com a minha experiência.

– Uma ideia para promover uma maior ligação entre a investigação da Universidade e a Comunidade?

A investigação que pode proporcionar o bem-estar à sociedade.

– Um conselho para quem inicie agora o seu percurso de investigação/docência?

Não trabalhem para subir na carreira ou para ter fama, mas para se sentirem felizes e úteis.

– Que lição retira deste seu percurso como pessoa ao longo destes anos?

Errar é professor.

– O que lhe faz sorrir dos anos que passou no ICBAS?

A abertura de espirito e a solidariedade humana.