Em tempos de pandemia causada pela COVID-19, um elevado número de investigadores da Universidade do Porto tem dado o seu contributo, respondendo aos apelos que surgem de todos os lados. Anabela Cordeiro foi uma dessas investigadoras. Em apenas 24 horas, o Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP), do qual é diretora, produziu 5000 tubos de meios de transporte contendo o líquido que garante o transporte das famosas zaragatoas utilizadas nos testes à COVID-19, e que estavam a rarear nos hospitais.

O espírito ativo e empreendedor é, de resto, uma das características que melhor define esta licenciada em Ciências Farmacêuticas pela FFUP (1990), cujo percurso profissional desde muito cedo seguiu rumo à investigação, especificamente na área da Imunologia. A vocação revela-se aliás quando, ainda no 4.º ano da Ciências Farmacêuticas da FFUP, se lança na investigação científica no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), sob orientação do Professor Emídio Gomes.

É igualmente em 1990 que inicia o Mestrado em Imunologia do ICBAS, sob a orientação da recentemente desaparecida Professora Maria de Sousa. Completada a componente teórica, parte para o Instituto Pasteur, em Lille, para realizar a componente laboratorial, sob a orientação de André Capron. Entre 1991 e 1997, vive entre a FFUP e o Instituto Pasteur de Paris, conjugando a função de assistente no Laboratório de Bioquímica da FFUP, onde lecionou Imunologia e Biologia Molecular, com o Doutoramento em Imunologia. Em 1997, regressa definitivamente a Portugal para a defesa da tese.

Como professora auxiliar, inicia o seu grupo de investigação integrado na equipa do Professor Alexandre Quintanilha. Em 2006, já como Professora Associada com agregação em Imunologia, constitui o seu grupo de investigação em Doenças Parasitárias no IBMC, atualmente integrado no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S). É aí que se vem destacando pelos seus estudos sobre a Leishmaniose, que já lhe valeram, entre outras distinções, a conquista da 10.ª edição do NOVO BANCO Concurso Nacional de Inovação (antigo Prémio BES Inovação), um dos mais importantes galardões nacionais no campo da investigação científica e da inovação.

Atualmente, e para além da atividade como docente e investigadora, assume a direção do Laboratório de Microbiologia da FFUP. Foi nessa condição que surgiu a possibilidade de entrar no combate à pandemia através da produção em massa de meios de transporte utilizados nos testes para despiste de COVID-19. E se num primeiro momento o objetivo foi dar resposta a uma solicitação concreta do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), rapidamente novos pedidos surgiram de outras Unidades Hospitalares como Vila Nova de Gaia, Penafiel e Santa Maria da Feira, e com eles a produção diária de milhares de meios de transporte.

Naturalidade?  Vila Franca, Viana do Castelo

Idade? 53 anos

De que mais gosta na universidade do porto?
Da liberdade que tenho de trabalhar naquilo que mais gosto: ensino na área em que investigo (Imunologia) que foi uma escolha desde muito cedo.

De que menos gosta na Universidade do Porto?
De ainda ser uma comunidade muito “inbred”, característica que está muito patente na seleção de novos colaboradores e até mesmo na progressão de carreira.

Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Uma maior abertura internacional principalmente a nível do ensino graduado e pós-graduado.

Como prefere passar os tempos livres?
Ao ar livre, em terra no campo ou no mar a velejar.

Um livro preferido?
A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera

Um disco/músico preferido?
Solos de Flauta, de Jethro Tull

Um prato preferido?
Polvo à lagareiro

Um filme preferido?
Uma mente brilhante, de Ron Howard

Uma viagem de sonho?
Ao continente africano, que ainda não conheço.

Um objetivo de vida?
Realizar algo importante para os mais desfavorecidos, um novo fármaco ou uma nova vacina para as doenças negligenciadas.

Uma inspiração?
O companheiro da minha vida.

Como encara o futuro da investigação na universidade do porto?
Com muita preocupação pela falta de apoio aos novos talentos que não são absorvidos pela Universidade para fazerem aquilo que mais sabem que é ciência de alta qualidade e transmiti-la às gerações vindouras.