Desde pequena que queria ser cientista e o assunto ficou logo arrumado no 5.º ano. Nessa altura, as imagens que via nas notícias sobre o HIV, em que apareciam investigadores, todos equipados, no laboratório, a fazer experiências, ajudaram Ana Sofia Ribeiro a decidir o seu futuro: seria investigadora e queria encontrar a cura para a SIDA…

O caminho seguido não foi exatamente esse, mas o gosto pela investigação em Saúde e em prol dos doentes sempre foi o seu foco. Aos 13 anos foi viver durante um ano para Moçambique, onde o pai estava a trabalhar. “Foi um ano desafiador, num país estranho, muito diferente de Portugal, mas a experiência de viver numa cultura tão diferente contribuiu muito para o meu crescimento pessoal”, reconhece a hoje investigadora do grupo «Cancer Metastasis» do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), recentemente distinguida com o Prémio “Liga Inovação”, promovido pelo Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC-RNR).

Mas já lá vamos… Quando chegou a altura de decidir o curso, Ana Sofia Ribeiro optou por Bioquímica, na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), por ser “o único com uma grande componente prática e cuja saída para a investigação estava mais patente na descrição do curso”. No final da licenciatura, fez Erasmus em Wageningen, na Holanda, e, de regresso ao Porto, ingressou no mestrado em Oncologia Médica, na Faculdade de Medicina (FMUP). Seguiu-se o doutoramento em Biomedicina, também na FMUP, no âmbito do qual iniciou o seu trabalho de investigação em cancro da mama.

Obteve depois uma bolsa de pós-doutoramento para trabalhar no Ipatimup, um dos institutos fundadores do i3S. Durante esse tempo, as suas principais contribuições científicas estão relacionadas com a descoberta dos mecanismos moleculares mediados pela proteína P-caderina, no processo de invasão e metastização de células do cancro da mama. Em 2016, integrou o grupo Epithelial Interactions in Cancer, no i3S. Desde então, Ana Sofia Ribeiro lidera uma nova linha de investigação no grupo centrada na compreensão dos fatores moleculares envolvidos na metastização cerebral.

Em particular, a cientista portuense tem centrado a sua investigação na comunicação parácrina entre as células tumorais e o nicho pré-metastático do cérebro. Tem igualmente estado envolvida no desenvolvimento de novas ferramentas experimentais para estudar este processo. “O meu grande objetivo é gerar conhecimento que possa levar ao desenvolvimento de abordagens experimentais inovadoras para estudar a doença metastática”, confessa.

É nessa ambição que se enquadra o projeto «Secretoma Tumoral», que valeu a Ana Sofia Ribeiro a conquista do Prémio “Liga Inovação”, promovido pelo Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC-RNR), em colaboração com a Bioportugal. O objetivo passa por desenvolver uma plataforma única de secretoma tumoral de doentes oncológicos para ajudar a identificar precocemente doentes com maior probabilidade de desenvolverem cancro de mama metastático.

Apesar de ser na Ciência que sente que pode ter um verdadeiro impacto na vida das pessoas, Ana Sofia Ribeiro tem muitos outros interesses e atividades: realiza com frequência atividades nas escolas primárias, para estimular a ciência nas crianças; gosta de viajar; adora cozinhar, em particular sobremesas (dedica-se à arte da chocolataria); e de juntar a família e os amigos à volta da mesa. Vem de uma família grande (31 primos direitos e outros tantos segundos primos) e, talvez por isso, sempre quis ter uma família grande. Tem três filhos. Que são a sua prioridade.

Ana Sofia Ribeiro foi recentemente distinguida pela Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC-RNR) com um prémio de 5 mil euros. (Foto: DR)

Naturalidade? Porto

Idade? 40 anos

– Do que mais gosta na Universidade do Porto?

Gosto das pessoas que fazem parte da Universidade do Porto. Gosto da diversidade e a qualidade do ensino, que prepara de forma sólida os seus alunos. Na verdade, esta preparação é largamente reconhecida a nível internacional (eu senti isso quando fiz Erasmus na Holanda).

– Do que menos gosta na Universidade do Porto?

Da ainda pouca cooperação entre faculdades, tanto a nível de projetos de investigação, como na partilha de recursos. Além disso, também há uma grande dificuldade de integração eficaz de investigadores provenientes dos centros de investigação.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Na minha opinião, a Universidade do Porto poderia ganhar imenso se tirasse melhor proveito da excelente massa crítica de investigadores a ela associados. Para isso, seria importante promover mais atividades que proporcionem a interação dos membros da UP.

– Como prefere passar os tempos livres?

Adoro viajar, ir à praia e brincar com os meus filhos. Mas das coisas que mais me enche a alma é fazer grandes almoçaradas/jantaradas com a família e amigos. Adoro cozinhar, em particular sobremesas, e nos últimos anos tenho-me dedicado à arte do chocolate. Adoro criar novos sabores e testar novas receitas.

– Um livro preferido?

No global leio policiais (qualquer um da Agatha Christie) e romances históricos.  Mais recentemente li e adorei o livro “D. Manuel I”, da Isabel Stillwel e o livro “Dispara, já estou morto”, da Júlia Navarro.

– Um disco/músico preferido?

Ouço de tudo um pouco, no entanto as maiores referências que tenho são os Queen e os Beatles. Mas devo confessar que o álbum “Get a grip”, dos Aerosmith, tem um lugar especial, pois foi o meu primeiro CD, estava eu em Moçambique, e por isso todas as músicas trazem consigo memórias profundas dessa época.

– Um prato preferido?

É difícil escolher, pois eu adoro cozinhar, comer e experimentar pratos novos. Mas posso eleger umas boas pataniscas (de bacalhau ou feijão verde) com um arroz malandrinho de tomate/ espinafres, ou um suculento bife Wellington.

– Um filme preferido?

Atualmente sou mais de séries do que de filmes. Mas o “Música no coração” é sempre um clássico que adoro rever.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)? 

Sou uma felizarda, pois posso dizer que já realizei algumas das minhas viagens de sonho. A mais recente foi à Austrália e à Nova Zelândia. No entanto, um sonho por concretizar seria regressar a Moçambique com a minha família e poder revisitar e reviver memórias felizes com os meus filhos.

– Um objetivo de vida?

Conseguir transmitir aos meus filhos os valores que tanto aprecio e que me foram incutidos pelos meus pais. O meu maior objetivo é dar-lhes as ferramentas para que consigam fazer as escolhas certas no seu percurso. No fundo, o que desejo é sejam adultos responsáveis, realizados e imensamente felizes.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

Os meus avós que, na sua simplicidade, trabalharam e lutaram arduamente para que os seus filhos concretizassem os seus sonhos. A minha mãe pela doçura, energia, força e generosidade. O meu pai pela sua astúcia, perspicácia, sentido prático, descomplicado, pelo seu espírito conciliador, mas acima de tudo pela forma como via e vivia a vida.

– O projeto da sua vida…

A nível pessoal, o meu projeto de vida é a minha família e a educação dos meus filhos. Profissionalmente, sinto que a minha missão é partilhar e colocar o meu conhecimento e a minha investigação ao dispor dos doentes. Quero mesmo desenvolver projetos que respondem às dúvidas dos doentes e que podem ter um real impacto na vida destas pessoas.

– Uma ideia para promover a investigação da U.Porto a nível internacional?

Melhorar as parcerias da UP com universidades e laboratórios internacionais, promovendo programas de troca de estudantes pós-graduados e investigadores.