Gosta de resolver problemas e não resiste a um desafio. Daí a grande paixão de Ana Paula Pêgo pela Ciência e, em particular, pela promoção da regeneração nervosa com recurso a biomateriais. A mesma área que esta investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) pretende agora ajudar a desenvolver na qualidade de Presidente recém-eleita da Sociedade Europeia de Biomateriais (ESB).

Com um percurso académico menos convencional, Ana Paula Pêgo começou por se licenciar em Engenharia Alimentar na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica. Foi aí que começou a interessar-se em Engenharia Biomédica, área a que dedicou o doutoramento na Universidade de Twente, na Holanda, no campo em que ainda trabalha – química de polímeros e biomateriais -, a desenvolver um projeto para preparar tubos guia para promover a regeneração de lesões do sistema nervoso periférico.

Concluído o doutoramento, seguiu-se uma curta passagem pelo Brain Institute, em Amesterdão, onde iniciou o pós-doc e começou a fazer investigação na área da terapia génica para tratamento de lesões neuronais. EM 2003, ingressou no INEB e, em 2013, passou a líder do grupo «nanoBiomaterials for Targeted Therapies, nBTT», hoje integrado no i3S.

No i3S, Ana Paula Pêgo tem desenvolvido trabalho pioneiro na área dos biomateriais à escala nanométrica associados à regeneração e reparação de tecidos, com particular enfoque na área da regeneração nervosa. Um trabalho que lhe valeu a conquista de vários prémios nacionais e internacionais, nomeadamente o Prémio Santa Casa Neurociências / Prémio Melo e Castro (2015) e o Prémio Albino Aroso (2016).

Em abril de 2021, foi convidada para integrar o Board of Reviewing Editors (Conselho de Editores de Revisão) da revista norte-americana Science, uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo, na qualidade de Editora Associada da revista Biomaterials (revista n.º 1 na área dos Biomateriais).

Ana Paula Pêgo integra igualmente a direção do i3S, onde lidera o pelouro de Estratégia & Criação de Valor, e Professora Associada do Instituto de Ciência Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Faz ainda parte de quatro Redes Europeias de Formação Inovadora Marie Curie (ITN), financiadas pela União Europeia, e lidera um projeto financiado pelo Air Force Office of Scientific Research (EUA).

Apreciadora de viagens, dentro e fora do país, principalmente para locais onde possa praticar mergulho e conhecer novas culturas e tradições, Ana Paula Pêgo é também uma apaixonada por dança. “É aquilo que me relaxa completamente”, confessa.

Ana Paula Pêgo ldiera, desde 2013, o grupo «nanoBiomaterials for Targeted Therapies, nBTT» do i3S. (Foto: i3S)

Naturalidade? Cedofeita, Porto, Portugal

 Idade? 48 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Das pessoas que a constituem: docentes, alunos, investigadores. Há muita gente a realizar trabalho notável, por vezes com poucos recursos e sem o reconhecimento merecido, e que faz com que os nossos alunos saiam com uma formação muito sólida e diferenciadora em qualquer parte do mundo.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da cooperação ainda limitada entre faculdades no que toca a partilha de recursos. Já há alguns exemplos de cursos que são partilhados entre duas faculdades (ex. Bioengenharia), mas podemos fazer mais e melhor.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Para além da promoção da cooperação e partilha de recursos, deveríamos também simplificar alguns dos processos burocráticos. Este último ponto não é apenas característica da UPorto, mas temos que liderar a mudança. Por exemplo, no caso dos alunos de doutoramento contratados através das Innovative Training Networks (ITN), há vários processos que dificultam a integração rápida destes alunos na Universidade, a qual pode acontecer em períodos muito diferentes daqueles estabelecidos pelos programas doutorais.

– Como prefere passar os tempos livres?

A viajar, dentro e fora do nosso país.

– Um livro preferido?

Difícil escolher um. Adoro todos os do Saramago. Prefiro referir o que agora tenho em cima da minha pilha de livros de cabeceira: A Criança em Ruínas, de José Luís Peixoto. Conciliou-me com a poesia.

– Um disco/músico preferido?

Também muito difícil porque adoro música e sou muito eclética nas minhas preferências. Mas um que me acompanha sempre é o Chico Buarque.

– Um prato preferido?

Eu adoro comer e experimentar comidas de diferentes países. A minha cozinha preferida é a tailandesa. Mas a minha comida de conforto é um bom bife com batatas fritas às rodelas.

– Um filme preferido?

Tenho dois… muito diferentes, mas que me marcaram por razões diferentes: Once upon a time in America e When Harry met Sally.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Um périplo pela Nova Zelândia – ainda em sonhos.

– Um objetivo de vida?

Tenho alguns, mas neste contexto: inspirar as gerações futuras de bioengenheiros, mostrando o poder de uma formação que valoriza trabalhar na(s) interface(s), com impacto em tantas áreas do desenvolvimento tecnológico e social.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

A minha Mãe, que me inspira sempre como pessoa e como profissional.

– O projeto da sua vida…

Não tenho apenas um, tenho vários, que vou aferindo com a regularidade necessária. Como aprendemos em gestão de projetos é sempre bom pensar nos desafios que podemos encontrar, riscos e ações de mitigação. Tem sido isso a minha vida. 95% de preparação e 5% de inspiração.

– Uma ideia para promover a investigação da U.Porto a nível internacional?

Continuar o trabalho que já está a ser feito: providenciar aos nossos investigadores as ferramentas para que possam liderar melhores projetos e de maior envergadura; publicar cada vez melhor. É um círculo virtuoso que precisa de ser mantido.