Quando, em 2008, ingressou no curso de Bioengenharia da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Ana Luísa Gonçalves não imaginaria que, 12 anos depois de ter chegado à sua “cadeira de sonho”, teria ao pescoço uma das prestigiadas Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência. Mas foi isso mesmo que aconteceu. Aos 30 anos, a jovem investigadora do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da FEUP acaba de ser distinguida pela gigante multinacional de cosméticos por um estudo que pretende avaliar o potencial das microalgas para tratar de forma mais eficiente e sustentável os efluentes industriais.

O mundo das microalgas cruza-se com o de Ana Luísa desde o doutoramento. Desde então, tem desenvolvido uma linha de investigação centrada na aplicação de microalgas no tratamento terciário dos efluentes das indústrias têxtil e da pasta e papel, dois importantes setores económicos nacionais responsáveis por um Valor Acrescentado Bruto (VAB) superior a 6 mil milhões de euros. “As culturas de microalgas consomem luz solar e dióxido de carbono, sem recurso a agentes químicos adicionais, ao contrário dos métodos físico-químicos ou biológicos hoje aplicados”, explica a jovem cientista.

Ana Luísa Gonçalves licenciou-se então em Bioengenharia (Ramo de Engenharia Biológica) pela FEUP em 2012. No ano seguinte, e também na FEUP, iniciou o doutoramento em Engenharia Química e Biológica, centrado na otimização das condições de cultivo de microalgas e cianobactérias em escala laboratorial e piloto para melhorar a captura de CO2 e a absorção de nutrientes do meio de cultura. Antes de concluir o doutoramento, trabalhou ainda como gerente de produção de biomassa húmida da Buggypower, uma empresa de produção de biomassa de microalgas, com sede em Lisboa.

Não surpreende por isso que a “paixão” de Ana Luísa pelas microalgas prometa continuar a crescer nos próximos tempos. “Gostaria de continuar o trabalho que tenho vindo a desenvolver, de forma a explorar as diversas potencialidades destes microrganismos, que acredito que terão um papel fundamental para o desenvolvimento de uma economia mais sustentável e com menores impactos ambientais”, remata.

Mestre em Bioengenharia e doutorada em Engenharia Química e Biológica pela FEUP, Ana Luísa é investigadora do Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE). (Foto: DR)

– Naturalidade?
Martinho do Campo (Santo Tirso).

– Idade?
30 anos

– O que mais a atraiu na Universidade do Porto?
A escolha pela Universidade do Porto foi simples. Foi a minha escolha para estudar e na altura não tive dúvidas: uma das mais prestigiadas do país em termos de qualidade de ensino e com a grande vantagem de ter o curso com o qual me identifiquei logo que li o plano de estudos – Bioengenharia. Mais tarde, quando decidi ingressar no Doutoramento, também não foi difícil escolher porque a qualidade de investigação que se faz na Universidade do Porto também é notória.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?
É uma Universidade dinâmica, que prima pela excelência ao nível do ensino, investigação e inovação.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Promover a integração dos seus investigadores nos quadros da Universidade através do estabelecimento de contratos sem termo.

– Como prefere passar os tempos livres?
Junto da minha família e amigos.

– Um livro preferido?
É difícil eleger apenas um, mas talvez pela mensagem de esperança inerente “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar”, de Luís Supúlveda.

– Um disco/músico preferido?
Tenho vários, de diferentes estilos musicais, mas destaco Rodrigo Leão.

– Um prato preferido?
Qualquer prato de bacalhau, mas principalmente o Bacalhau à Gomes de Sá feito pela minha mãe.

– Um filme preferido?
“Le fabuleux destin d’Amélie Poulain” de Jean-Pierre Jeunet

– Uma viagem de sonho?
Austrália.

– Um objetivo de vida?
Terminar cada dia com a sensação de dever cumprido, quer a nível profissional, mas acima de tudo a nível pessoal.

– Uma inspiração?
Uma inspiração e um exemplo, a minha mãe.