Alexandro Autiero, italiano de gema, acaba de representar a Licenciatura em Ciências do Meio Aquático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto, no VIII Simpósio Internacional de Ciências do Mar, em Las Palmas, Canárias (Espanha). Mas se este já seria, por si só, um motivo de destaque, trata-se apenas do “fim” de uma história que atravessa fronteiras e desafia todas as barreiras…

A mesma história que começou há 27 anos, numa pequena cidade perto de Bolonha, e que levaria Alexandro – ou Alex, como prefere ser chamado – até à Universidade de Pádua, instituição onde concluiu a Licenciatura em Línguas e Tradução (Inglês, Português e Espanhol). Foi durante este período que ganhou uma bolsa Erasmus para estudar na Universidade do Algarve (UAlg), onde fez o último ano da licenciatura.

Esta foi uma experiência que, costuma dizer, lhe “abriu as portas a Portugal inteiro”. Afinal, foi durante a estadia no Sul que se apaixonou pelo surf, desporto a que continua a dedicar boa parte dos tempos livres. Para além disso, foi “uma oportunidade de conhecer lugares incríveis” e, sobretudo, de conhecer a Licenciatura em Ciências do Meio Aquático (CMA) do ICBAS. Mas já lá vamos.

Terminada a estadia na UAlg, regressou a Pádua para acabar a tese e alguns exames. No entanto, a cabeça e o coração ficaram sempre em Portugal. Tanto que, pouco depois de se ter licenciado, voltou para o nosso país, vindo então parar ao Porto, em março de 2018. Depois de um verão a trabalhar, ingressou no Mestrado de Tradução da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Um passo lógico, dir-se-ia. Só que o destino tinha mais uma surpresa guardada.

A cada dia que passava, Alexandro Autiero alimentava o sonho de fazer uma licenciatura na área da biologia marinha, e prova disso era o tempo que despendia a ver a documentação que um estudante estrangeiro necessitava para ingressar numa faculdade portuguesa. Por fim, chegou o dia em que tomou a decisão de mudar a sua vida e começar tudo de novo. Deixou o mestrado na FLUP e arranjou um trabalho numa empresa portuguesa, ao mesmo tempo que estudava para poder passar no teste de entrada para Ciências do Meio Aquático no ICBAS.

Para o estudante italiano, estudar tudo de novo, matérias completamente diferentes, “foi complicado, pois “trabalhava de dia, e literalmente, estudava de noite”. A par disso, também a recolha da documentação se revelou tarefa árdua. Mas, superadas todas as adversidades, ingressou no ICBAS através do concurso para maiores de 23 anos.

Finalmente, em 2019, iniciou a Licenciatura em Ciências do Meio Aquático, curso que terminou recentemente, passando a ser o primeiro italiano a fazê-lo no ICBAS.

Três anos depois de ter entrado no ICBAS, Alexandro Autiero é o primeiro italiano a concluir a Licenciatura em Ciências do Meio Aquático no Instituto. (Foto: DR)

O esforço compensou e, durante o terceiro ano desta licenciatura, ganhou outra bolsa de mobilidade Erasmus + para estudar na Faculdade de Ciências do Mar da Universidad de Las Palmas de Gran Canaria (Espanha). Uma vivência que recorda como “uma experiência incrível”, tanto do ponto de vista dos novos conhecimentos adquiridos, como da paisagem que encontrou

Nas Canárias, Alexandro Autiero teve ainda a possibilidade de desenvolver a sua tese final de curso, integrado num grupo de investigação muito importante – EOMAR-ECOAQUA – liderado pelas oceanógrafas Alicia Herrera e Ico Martinez. Neste trabalho, que apresentou recentemente no VIII Simpósio Internacional de Ciências do Mar, procurou estudar e alertar para os efeitos tóxicos dos microplásticos na dieta dos peixes zebra.

Quatro anos, muitos quilómetros percorridos e muitas horas de estudo depois, a pergunta impõe-se. Valeu a pena? Alexandro não hesita: Voltaria a fazê-lo mil vezes!”.

(Foto: DR)

Naturalidade? Correggio , Bolonha (Itália)

Idade? 27 anos

– De que mais gostas na Universidade do Porto?

Da proximidade entre professores e estudantes.

– De que menos gostas na Universidade do Porto?

Da falta de integração com o resto da comunidade académica. Sendo estrangeiro, isto não foi nada fácil.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Mais coesão e ajuda para os estudantes internacionais (não Erasmus).

– Como preferes passar os tempos livres?

Muito surf e desporto!

– Um livro preferido?

On the road, de Jack Kerouac.

– Um disco/músico preferido?

Negrita (grupo italiano).

– Um prato preferido?

Pizza Margherita.

– Um filme preferido?

Into the wild.

– Uma viagem de sonho?

Patagónia e Antártica, rumo ao descobrimento da natureza.

– Um objetivo de vida?

Conseguir fazer algo bom para os nossos oceanos, fazendo com que as pessoas consigam adotar um estilo de vida que possa reduzir o impacto ambiental e fazendo com que as pessoas entendam a importância que a natureza tem.

– Uma inspiração?

Os meus pais, como enfrentam a sua vida.

– O projeto da tua via?

Viver “CO2 free”, tentando reduzir ao máximo o meu impacto ambiental. Tentando evitar gastos não necessários tanto em roupa, como em aparelhos tecnológicos, consumir comida sazonal e, se calhar numa casinha em madeira ao lado do meu melhor amigo, o Oceano.

– Uma ideia para promover uma maior ligação entre a Universidade e a comunidade?

Mais comunicação e eventos.