Experiência está a decorrer na Serra dw Pedrigão, no concelho de Vila Velha de Rodão.

“As máquinas invadiram um vale rural varrido pelo vento no leste de Portugal. Contentores brancos, raios laser varrem as encostas cobertas de eucalipto, no meio dos quais emergem torres meteorológicas de 100 m de altura equipadas com instrumentos científicos para medir as características do vento”. Começa assim, quase em tom poético, o artigo publicado esta semana na prestigiada revista Nature sobre uma experiência de campo que decorre na Serra de Perdigão, no concelho de Vila Velha de Rodão, com a participação de instituições como a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) ou o Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI).

A experiência, identificada como a maior experiência de mapeamento do vento jamais realizada devido à quantidade e variedade de equipamento científico que reúne, tem como objetivo a criação de uma base de dados experimentais de grande qualidade, fundamental para a validação e melhoria dos modelos de circulação do vento próximo do solo. Está tudo relacionado com o projeto NEWA, cujo objetivo principal é a produção de eletricidade a partir do vento, mas cujo impacto se alargou a outros domínios como os fogos florestais, a aviação, a dispersão de poluentes ou o microclima, motivo principal da participação do consórcio americano.

Com a duração de 5 anos (2015-2019), o projeto NEWA conta com a participação de 8 países europeus, e o orçamento global de 13,8 M€. Em Portugal, a entidade responsável pelo financiamento foi a FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia que alocou uma verba de 500 k€. A participação nacional tem como objetivo principal a realização da experiência de campo no âmbito do NEWA, na Serra de Perdigão.

De acordo com José Laginha Palma, professor da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e um dos responsáveis principais, o projeto na Serra de Perdigão é a satisfação de uma necessidade de novo conhecimento científico, de que se esperam grandes benefícios e que irão marcar a atividade da indústria eólica e a investigação sobre escoamentos atmosféricos nos próximos anos.

No artigo da Nature, Jakob Mann, professor da Universidade Técnica da Dinamarca, salienta a importância em conhecer o regime de ventos, porque 10% na variação da velocidade do vento podem reduzir a energia produzida em 30% ou mais no caso de regiões montanhosas ou florestadas. Esta informação é fundamental para instalar os aerogeradores nos locais de maior intensidade de vento e aumentar a sua eficácia. Para o professor Joe Harindra Fernando, da Universidade de Notre Dame (Indiana, EUA), os resultados e conclusões desta experiência serão fundamentais e utilizáveis em muitos outros locais do mundo, de que a orografia na Serra do Perdigão é representativa.

A Serra de Perdigão situada na região centro, ao sul da Serra da Estrela. Perdigão, destacou-se pelas muito boas condições para a realização de uma experiência de campo de grande escala, entre elas a sua orografia (terreno complexo, duas cumeadas paralelas), direções predominantes do vento perpendiculares às cumeadas, informação histórica sobre o vento naquela área e facilidade de acesso.

Os trabalhos de campo iniciaram-se em setembro com a eletrificação, instalação de fibra ótica e infraestruturas para montagem de estruturas metálicas até 100 m de altura, torres meteorológicas, onde são colocadas sensores para medição das características do vento. Alturas superiores são cobertas com recurso a equipamento de medição remota, 28 unidades de tipo variável. Na sua maioria são lidars, com varrimento individual ou coordenado, para medir o campo médio ou instantâneo do vento até centenas de metros na vertical e quilômetros na horizontal, alguns já testados na Serra do Perdigão em 2015.

As primeiras medições ocorreram a 15 de dezembro e os trabalhos podem ser acompanhados através da leitura dos múltiplos blogs de alguns dos investigadores dedicados a este trabalho na Serra de Perdigão, mas o pico da atividade terá lugar entre maio e julho de 2017.

Toda a infraestrutura é de caráter não permanente e após a conclusão das medições (final de 2017) será removida na totalidade, sem qualquer vestígio da sua presença.

Esta experiência de campo, com orçamento global de vários milhões de euros, tem a participação das principais instituições nacionais – à FEUP e ao INEGI juntam-se ainda o IPMA e o LNEG – e mais 18 parceiros (empresas, universidades e laboratórios de estado) europeus e norte-americanos, instituições de referência no estudo das condições de vento e física da atmosfera, a que acresce a colaboração da Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão.