Paulo Pereira não tem mãos a medir por estes dias. Depois de conduzir a seleção nacional de andebol à sua melhor classificação de sempre – 6.º lugar –  no Campeonato Europeu de Andebol, o antigo estudante da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) e vencedor do Prémio Mérito Excelência da Gala do Desporto da U.Porto 2019, acaba de ser eleito o melhor treinador do Ano na 24.ª Gala da Confederação do Desporto de Portugal.

“[O prémio] resulta do trabalho de muita gente (…) staff, atletas, clubes que trabalham bem para depois que esse reconhecimento seja feito”, começa por revelar o selecionador, em conversa com o Notícias U.Porto.

O orgulho pelos feitos recentes da Seleção está todo lá. Bem como a humildade. “Trabalhamos durante anos e esperamos, sonhamos que algum dia isto possa acontecer. Mas não nos podemos entusiasmar muito. Eu vou continuar a trabalhar da mesma forma como até aqui”.

Paulo Pereira, 54 anos, comanda a Seleção Nacional de Andebol desde outubro de 2016. (Foto: Federação de Andebol de Portugal)

A relação de Paulo Pereira com a Universidade do Porto começou em 1986, quando o então jovem natural de Amarante ingressou como estudante na Faculdade de Desporto. Uma história que teve de interromper por três anos para integrar o serviço militar. Regressou em 1990 e terminou o curso em 1995 enquanto jogava andebol e tinha uma atividade remunerada fora do desporto. “Depois chegou uma altura em que tive que decidir, e deixei de jogar aos 27, 28 anos, deixei essa a atividade a e comecei a dar aulas”, recorda.

Passados cerca de 13 anos, o já professor de Educação Física decidiu então correr o risco de pedir uma licença sem vencimento de curta duração, que acabaria por não ser ser concedida. Há males, contudo, que vêm por bem. “Desde aí, há cerca de 15 anos, que sou profissional de andebol e não estou nada arrependido”, diz.

Com um percurso intercalado entre Portugal (foi campeão nacional pelo FC Porto) e o estrangeiro, com passagens por Tunísia e Angola, Paulo Pereira assumiu o comando da Seleção em outubro de 2016. A glória acabaria por chegar três anos – e dois apuramentos falhados para Europeus e Mundiais – depois, com a qualificação para a fase final do Europeu, 14 anos depois da última presença.

Em setembro de 2019, a U.Porto atribuiu na Gala do Desporto a Paulo Pereira o galardão de Mérito Excelência. (Foto: CDUP-UP)

Conciliar o curso e o desporto

À semelhança do como Paulo viveu enquanto  estudante da U.Porto, também na equipa que brilhou na Áustria, Noruega e Suécia existem alguns estudantes atletas, oito dos quais participaram nas Universíadas (2015) e Mundial Universitário (2014). O selecionador acredita que é possível conciliar os dois mundos. “Um atleta pode tirar um curso, nem que seja com mais tempo. Não tem que tirar em 5 anos, pode tirar em 7 ou 8, que é o que acontece muitas vezes. É possível, mas com muita organização e prioridades”.

O antigo estudante da U.Porto realça que “em determinados momentos é duro, mas é perfeitamente possível, desde que as pessoas queiram, se dediquem e façam um esforço extra que um aluno normal não faz. Se calhar têm menos noites de copos, mas também têm, agora há prioridades e momentos para tudo. Esta gente tem de se organizar de uma forma mais eficaz para depois atingir as metas a que se propõe”.

Paulo Pereira visitou recentemente o Estádio Universitário do Porto, onde passou algum tempo da sua vida académica.

Para os estudantes atletas universitários, Paulo Pereira deixa ainda uma mensagem: “Para se conseguirem objetivos quase impossíveis, a primeira coisa é nós termos uma paixão enorme por aquilo que fazemos, se não a tivermos é quase impossível atingir objetivos. (…) Um aluno universitário que pratique um desporto, sobretudo um desporto profissional, não é uma pessoa igual às outras, nem pode ser. Por isso, a paixão é a primeira coisa que tem que existir!”

O sucesso da seleção

Certo é que, com as vitórias alcançadas por Portugal sobre algumas das seleções mais imponentes no mundo do Andebol, como a França, Suécia, Bósnia e Hungria, o antigo estudante da U.Porto está agora “nas boca do mundo”.  De 9 a 26 de janeiro, o país acompanhou e vibrou com o Europeu de Andebol, feito que Paulo Pereira acredita ter acontecido porque “há coisas que são comuns a todas as modalidades. Uma delas é representar o país com o grau de compromisso que nós tivemos. (…) Quando as pessoas veem o nosso grau de compromisso, além de emocionados ficam impressionados e dão-nos os parabéns”.

E o telefone não tem parado nos últimos dias. “Recebemos os parabéns de muita gente, não só do Presidente da República que me ligou 4 ou 5 vezes durante o campeonato, como do Fernando Santos, do Renato Garrido, (..) do próprio secretário de estado, o Vítor Pataco, que estiveram sempre presentes. Toda a gente ficou impressionada com a nossa prestação, mas sobretudo não era com o ganhar e perder. Era com a forma de como nós competimos”, remata o treinador.

O selecionador explica o sucesso no Europeu deveu-se a “um grupo de atletas com um carácter excecional” e “comprometidos com representar Portugal” (Foto: Federação de Andebol de Portugal)

Quando questionado sobre a gestão de emoções entre os jogadores perante os resultados que foram alcançando, o selecionador não lhes poupa elogios. “Nós temos um grupo de atletas com um carácter excecional, querem ganhar e estão comprometidos com representar Portugal. E depois nós tratamos de que todos se centrem muito no processo e não no resultado, no sentido de cada um saber bem o que tem que fazer, de conhecer bem os nossos rivais”, explica.

Com a classificação no EURO 2020, Portugal alcançou a presença no Torneio Pré-Olímpico, que será disputado em França, no qual sairão apurados para os Jogos Olímpicos de Tóquio, os dois primeiros classificados do grupo. O primeiro jogo será a 17 de abril frente à Tunísia, vice-campeã de África, e, no dia seguinte, defronta a Croácia, vice-campeã da Europa, seguindo-se o último jogo do grupo com a França.