Óscar Lopes é considerado um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. (Foto: DR)

Notabilizou-se como ensaísta, linguista e crítico literário e, entre muitos outros epítetos que cabem num percurso singular, foi o primeiro diretor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) no pós-25 de abril. Óscar Lopes é a Figura Eminente da U.Porto 2018, iniciativa que, ao longo do ano, se propõe a celebrar o legado desta personalidade ímpar da história da Universidade e figura central da cultura portuguesa da segunda metade do século XX e início do século XXI.

Promovida pela Reitoria e pela Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), a homenagem surge no seguimento dos eventos evocativos de personalidades eméritas da U.Porto realizados ao longo da última década. Tudo isto através de uma série de ações abertas à comunidade, que, durante vários meses, e em diferentes espaços, pretendem recordar, mas sobretudo celebrar a vida e obra daquele que “foi um humanista e um sábio de muitos saberes”.

“Uma formação multifacetada, cobrindo simultaneamente os domínios da linguística, da música, da história, das línguas clássicas e modernas, da filosofia e da literatura e uma viva curiosidade intelectual conduziram Óscar Lopes ao constante diálogo interdisciplinar, com múltiplos saberes (lógica, neurociência, física, matemática)”, apresentam Isabel Pires de Lima e Fátima Oliveira, professoras da FLUP e comissárias da iniciativa.

São esses vários aspetos de “uma personalidade multifacetada” que vão ser lembrados e retratados já a partir de 4 de abril, em “Óscar Lopes, o Saber de Muitos Saberes”, título da exposição evocativa que estará patente até 27 de abril, na Sala de Exposições Temporárias da Reitoria. Com entrada livre, esta exposição documental estará organizada em “seis núcleos, onde se poderão ver exemplares de muitos livros, artigos, cartas, fotografias e outros documentos relativos às diferentes facetas do Prof. Óscar Lopes, que foram cedidos em grande parte pela sua família”. Associados a cada núcleo estarão excertos de textos ou de entrevistas Óscar Lopes, havendo ainda espaço para uma secção com depoimentos gravados de antigos alunos seus. Para visitar de segunda a sexta-feira, entre as 10h00 e as 13ho0, e das 14h00 às 18h00.

Após este momento inaugural, o programa da Figura Eminente 2018 prossegue na noite de 3 de maio (21h30), na Faculdade de Engenharia, com um concerto pela Orquestra Sinfónica da FEUP. Um mês depois, a 7 de junho (16h00), a FLUP recebe a visita de Inês Duarte, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e coautora da Gramática da Língua Portuguesa, que ali dará uma conferência sobre “Óscar Lopes e a Linguagem: O Olhar de um Cientista”.

É também na Faculdade de Letras, alma mater de Óscar Lopes, que vai ter lugar o que promete ser dos momentos altos do programa de comemorações. Será a 2 de outubro e, durante todo o dia (10h30 às 18h00), vai juntar o filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço a vários outros ensaístas, escritores e professores universitários na área da literatura para uma jornada de debate dedicada ao tema “Óscar Lopes: o Poder Seminal da Palavra”.

O programa encerra a a 22 de novembro, pelas 18h00, na Reitoria da U.Porto, palco escolhido para uma conferência a duas vozes sobre “Óscar Lopes: Música e Literatura”. A protagonizá-la estarão o musicólogo Mário Vieira de Carvalho e o maestro José Luís Borges Coelho, Doutor Honoris Causa da U.Porto e fundador do Coral de Letras da Universidade do Porto, que atuará no final da sessão.

O programa completo da homenagem pode ser consultado aqui.

Sobre Óscar Lopes

Óscar Lopes dirigiu os destinos da FLUP entre 1974 e 1976. (Foto: DR)

Natural de Leça da Palmeira, onde nasceu a 2 de outubro de 1917, Óscar Lopes (1917- 2013) licenciou-se em Filologia Clássica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A paixão pela história, pela literatura e pela pedagogia encaminhou-o para uma carreira de professor do ensino secundário, que incluiu passagens pelo Liceu Nacional de Vila Real e pelos liceus Alexandre Herculano e Rodrigues de Freitas, no Porto.

Num trajeto onde o ensaísta e o professor caminham lado a lado com o ativista político (foi militante do Partido Comunista Português, do qual fez parte do comité central), Óscar Lopes foi  impedido de lecionar no ensino superior antes do 25 de abril, por motivos políticos. Após a Revolução, ingressa na Faculdade de Letras da U.Porto como professor catedrático, cabendo-lhe liderar os destinos da instituição até 1976. Até à sua jubilação, em outubro de 1987, foi também vice-reitor da Universidade (1974-1975) no reitorado de Ruy Luís Gomes, tendo sido responsável pela criação do Centro de Linguística da U.Porto.

Paralelamente à carreira académica, Óscar Lopes foi um intelectual marcante e interventivo, tendo produzido uma vasta obra ensaística nos domínios da crítica e historiografia literárias assim como no domínio da Linguística. Com o historiador António José Saraiva, escreveu  a “História da Literatura Portuguesa”, obra que continua a ser uma referência fundamental no ensino daquela disciplina.

O valor da sua obra foi várias vezes reconhecido, em vida, com algumas das mais importantes distinções nacionais no campo da cultura. Pelos seus trabalhos de ensaio e crítica recebeu o prémio Rodrigues Sampaio da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e o prémio Jacinto do Prado Coelho(1985). Em 1989 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, e, em 2006, com a Ordem da Liberdade. Faleceu a 22 de março de 2013, aos 95 anos de idade.