Uma investigação desenvolvida pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que, na região Norte, cerca de um em cada dez adultos utentes do Serviço Nacional de Saúde tem obesidade (10,2%) e que a maior prevalência se verifica na faixa etária entre os 65 e 74 anos.

Naquele que é o primeiro estudo português a recorrer aos registos eletrónicos de saúde sobre esta doença crónica, os investigadores identificaram mais de 266 mil adultos com diagnóstico de obesidade no Norte, analisando-os sob o ponto de vista biodemográfico, multimorbilidade (ter dois ou mais problemas de saúde) e utilização de recursos de saúde.

Mais consultas, prescrições e faltas ao trabalho

Os resultados demonstraram que, dependendo da faixa etária, o grupo de indivíduos registados com a codificação referente à obesidade realizou quase o dobro de consultas médicas de Medicina Geral e Familiar e teve praticamente o dobro de gastos com prescrições de medicamentos e exames de diagnóstico do que a população não obesa.

“Os custos que a obesidade representa para a sociedade também se fazem sentir devido às faltas ao trabalho por doença e dificuldades de emprego”, realça a médica de família Rosália Páscoa. A professora da FMUP e primeira autora deste estudo chama a atenção para os dados que revelam que os indivíduos sinalizados como obesos tiveram mais do dobro de ausências ao trabalho por motivos médicos e pelo menos o dobro de dias de doença.

De acordo com os investigadores, a prevalência da obesidade encontrada neste estudo foi inferior à documentada em estudos portugueses anteriores, mas isso não significa que a obesidade esteja a diminuir.

“Podem existir mais pacientes com obesidade que não foram devidamente codificados como tal nos registos eletrónicos, ou seja, até podemos estar perante um subdiagnóstico claro da obesidade, o que retarda o início da intervenção e aumenta o risco de desenvolvimento de outras doenças”, esclarece Rosália Páscoa.

Ainda segundo o artigo publicado no BMC Primary Care, os doentes com obesidade são predominantemente mulheres de meia-idade e as outras doenças mais prevalentes são sobretudo a hipertensão e a diabetes.

Prevenção é o caminho a seguir

Segundo os investigadores, são necessários trabalhos futuros para automatizar a codificação da obesidade para menores de 18 anos – situação que ainda não acontece em Portugal.

“Isto será fundamental para sensibilizar para o problema numa fase precoce, antecipando intervenções no estilo de vida e amplificando o seu impacto na prevenção de problemas associados à obesidade”, defende Carlos Martins, médico de família e investigador do CINTESIS.

Os autores do trabalho sublinham também que o controlo regular do peso “merece especial atenção para ser possível reconhecer a situação o mais cedo possível”, bem como a implementação de estratégicas práticas, “como a criação de um programa específico de consulta com abordagens verdadeiramente direcionadas à obesidade”.

“Os custos substanciais e de vários domínios associados à obesidade enfatizam a necessidade de investimento para abordar este importante problema de saúde pública”, conclui o estudo da autoria dos investigadores Rosália Páscoa, Andreia Teixeira, Teresa S. Henriques, Hugo Monteiro, Rosário Monteiro e Carlos Martins.