Que doença é esta? Como é que o vírus se transmite e o que fazer em caso de sintomas? E como evitar a sua transmissão entre os principais grupos de risco. Estas foram algumas das principais dúvidas e preocupações dos portugueses durante o primeiro mês da pandemia de COVID-19, de acordo com um estudo conduzido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP)

Tendo como base as perguntas submetidas pelos cidadãos em fóruns abertos ao público para esclarecimento de dúvidas sobre a COVID-19, entre os dias 4 de março e 3 de abril de 2020. os investigadores concluíram que o teor das questões colocadas foi evoluindo ao longo do mês, acompanhando o decurso da pandemia e as medidas implementadas pelo Governo.

O amplo número de perguntas sobre formas de transmissão e prevenção da doença, poderá demonstrar que a informação veiculada pelas autoridades de saúde não chegou de forma efetiva à população.

As dúvidas e preocupações dos cidadãos

Esta investigação, recentemente publicada na revista Patient Education and Counseling, analisou um total de 293 questões colocadas no Fórum do ISPUP sobre a COVID-19, no fórum do jornal PÚBLICO, no fórum da Rádio Renascença e no Ask Me Anything criado pela Rádio Renascença na rede social Reddit, e no fórum do Porto Canal.

Durante o primeiro mês da pandemia, as dúvidas submetidas pelos cidadãos estiveram mais centradas na doença e no vírus, nomeadamente, na sua forma de transmissão, sintomas, diagnóstico, tratamento e letalidade. Também surgiram dúvidas sobre formas de prevenir a transmissão da patologia e sobre o que fazer no caso de existirem sintomas.

Quanto às preocupações, observou-se que estavam mais relacionadas com a proteção de grupos de risco, com formas de evitar a transmissão da doença, durante as atividades do dia a dia, e em saber como proceder em caso de isolamento e quarentena.

O teor das questões colocadas foi evoluindo, durante o período analisado, em função do decurso da pandemia no país e das medidas restritivas que foram sendo implementadas pelo Governo.

Possíveis explicações

O artigo sublinha que, apesar de ser normal existirem dúvidas, preocupações e questões por esclarecer, num contexto de incerteza como o de uma pandemia, o amplo número de dúvidas que emergiram nos fóruns sobre questões “básicas” relacionadas, por exemplo, com a transmissão e prevenção da doença, poderá demonstrar que a informação veiculada pelas autoridades de saúde sobre estas matérias não chegou de forma efetiva à população.

De facto, apesar dos esforços encetados pelas autoridades de saúde na produção de vários materiais para o esclarecimento dos cidadãos sobre a pandemia, a estratégia seguida poderá ter falhado em alcançar toda a população, especialmente os grupos que têm baixos níveis de literacia e que não têm acesso à Internet.

Da mesma forma, equaciona-se a hipótese de os portugueses terem tido conhecimento dos materiais produzidos pelas instituições governamentais, mas, talvez por falta de confiança nestes organismos, terem procurado validar a informação recebida junto de outras entidades.

Sublinha-se, no entanto, que a colocação de várias perguntas pelos cidadãos neste tipo de fóruns poderá também estar relacionada com a necessidade de confirmar ideias e perceções ou clarificar rumores e fake news.

“É normal que os cidadãos tenham dúvidas e preocupações”

Para Teresa Leão, uma das autoras do estudo, coordenado por Henrique Barros, “é perfeitamente normal que os cidadãos tenham dúvidas e preocupações perante uma nova doença e que as queiram colocar, especialmente num contexto de pandemia. Também é natural que as autoridades de saúde levem algum tempo a esclarecer as dúvidas da população e que, mesmo existindo materiais informativos sobre o tema, numa primeira fase permaneçam questões por esclarecer”.

“Ainda assim, consideramos que há espaço para melhorar, pois percebemos, através das várias questões que foram colocadas, que havia informação sobre aspetos essenciais que não estava a chegar à população. É importante que os cidadãos tenham acesso a informação, que a sintam como credível e que as estratégias de comunicação sejam suficientemente persuasivas para levarem as pessoas a mudar os seus comportamentos”, acrescenta a investigadora.

O estudo designado What doubts, concerns and fears about COVID-19 emerged during the first wave of the pandemic? foi também assinado pelas investigadoras Mariana Amorim e Sílvia Fraga e encontra-se disponível AQUI.