Durante três dias, cerca de 900 estudantes da U.Porto passaram pelo IJUP para divulgarem e debaterem os seus trabalhos científicos. (Fotos: Egidio Santos/U.Porto)

Ao longo do último ano, Bruno dedicou-se a perceber o que leva cada vez mais estudantes da Universidade do Porto a consumir suplementos alimentares. Ao mesmo tempo, Márcia vivia fascinada pelas ilustrações de Leonardo da Vinci, e Alexsandro “ginasticava” nas comparações entre ginástica rítmica e artística. Tudo isto enquanto Diana observava atentamente os gatos “residentes” no Porto… Quatro jovens, quatro motivações distintas, mas todas com lugar no IJUP’2019, o evento que, durante três dias, abriu as portas e os corredores da Reitoria da U.Porto a centenas de estudantes de 1º, 2º ciclo ou Mestrado Integrado, com a “missão” de revelar a melhor investigação jovem produzida na Universidade.

“Já são 12 edições, mais de 5000 apresentações ao longo destes anos. A deste ano é uma das maiores de sempre, com 900 participantes e cerca de 500 apresentações em dois tipos de formatos”. Foi com estes números que Pedro Rodrigues, vice-reitor para a Investigação, Inovação e Internacionalização da U.Porto, abriu, a 13 de fevereiro, as hostilidades de mais uma edição do Encontro de Investigação Jovem da U.Porto. O que se seguiu foi uma “maratona” de Ciência, onde os jovens investigadores puderam seguir o formato de “apresentação oral de 20 minutos”, ou o de “apresentação em póster, em que os trabalhos são apresentados de uma maneira mais informal”. No final de cada apresentação houve ainda espaço para momentos de discussão e de esclarecimento, onde cada estudante pôde “defender” os resultados do seu trabalho.

Foi o que fez Bruno Drumond, estudante do mestrado em Nutrição Clínica da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP), que trouxe ao IJUP um trabalho sobre o consumo de suplementos alimentares entre os estudantes da U.Porto. “Enquanto atleta de natação que sempre fui, sempre lidei imenso com os suplementos. E verificava que, de acordo com as fontes que tinha, as informações acabavam por ser um bocado contraditórias”, explica.

Foi ainda na licenciatura em Ciências da Nutrição que Bruno decidiu estudar os hábitos de consumo destes suplementos por parte dos estudantes da U.Porto. Os questionários que realizou revelaram que mais de um quarto dos estudantes inquiridos consome suplementos, com uma frequência de 3 vezes por dia e um gasto médio mensal associado a rondar os 20 euros. “No sexo masculino, é mais uma questão de estética e força, e no sexo feminino é mais uma questão cognitiva, para o aumento da concentração”, explica o estudante. Do trabalho resultou ainda um dado “preocupante” – a fonte mais utilizada pelos estudantes para se informarem sobre este assunto foi a internet, em blogs ou fóruns, o que motiva um lamento do jovem investigador: “o nutricionista ainda não é uma profissão tão valorizada quanto devia.”

No que toca à participação no IJUP, Bruno mostra-se muito entusiasmado com a oportunidade para dar a conhecer os frutos do seu trabalho, no entanto afirma que “as pessoas que investigam, às vezes, ficam na dúvida se o trabalho é suficientemente bom para ser publicado”. É nesse sentido que aproveita para elogiar este encontro de investigadores: “É uma excelente iniciativa, porque, normalmente, nós não temos oportunidade de expor inicialmente o nosso trabalho com outros colegas que estão no mesmo patamar” e aqui, perante os pares, não têm por que se sentir “coagidos”, mas sim com vontade de partilhar “o mesmo gosto pela investigação e pela descoberta.”

Quem já se sente muito à vontade neste tipo de eventos é Alexsandro de Lima, de 22 anos, estudante brasileiro do curso de Ciências do Desporto da FADEUP. “Sou congressista no Brasil, então é um meio bem típico para mim, bem tranquilo.” É também por isso que  reconhece a necessidade de os investigadores apresentarem o seu trabalho, porque é assim que “a gente consegue perceber o senso crítico de outras pessoas e perceber: nossa, eu preciso melhorar um pouco nisso!”. Para os jovens investigadores que o rodeiam, “seja da graduação, ou da licenciatura ou a começar a doutorar”, o IJUP “serve também para estabelecer possíveis parcerias e recolher contactos úteis”, sugere.

A investigação de Alexsandro coligiu dados sobre as atletas de ginástica rítmica e de ginástica artística da Universidade do Porto e do Boavista FC, a fim de poder comparar o “equilíbrio estático” das atletas de cada uma das modalidades. E o que descobriu é que “as meninas da rítmica são bem mais assimétricas do que as meninas da artística”, isto é, existe uma “diferença de equilíbrio entre pé preferido e pé não preferido nas meninas da rítmica”, o que se explica “pelo tipo de treino, pela forma como elas treinam ou pela influência do ballet.” O jovem investigador garante, aliás, que se dispusesse de uma maior amostra de atletas, “essa correlação sairia reforçada”.

Foi há um ano que Alexsandro decidiu mudar-se para o Porto, para “unir o útil ao agradável”. Tenho vários professores que se formaram aqui, mestres e doutores, então foi muita influência deles.” Por outro lado, revela que a “vontade de fazer as malas” e vir conhecer a Faculdade de Desporto era também já um desejo antigo. Questionado sobre a experiência na U.Porto e na cidade, sorri e confessa: “Valeu muito a pena. Acho que a experiência foi maravilhosa. Eu só tive a aprender e enriquecer a minha vida, tanto cultural como académica.” De facto, aproveita para recomendar a experiência de intercâmbio a todos os estudantes, “porque isso a gente leva para a vida.”

Para a vida ficará também a experiência de Márcia Venâncio no IJUP 2019. “Fascinada” por Leonardo Da Vinci, foi aos trabalhos do Mestre da Renascença na área da ilustração anatómica que a jovem bióloga dedicou o trabalho da cadeira de História da Ilustração da pós-graduação em Ilustração Científica, que frequenta na Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP).

“Ele descobriu diversas coisas sobre, por exemplo, o coração, sobre vasos que faziam parte do coração e sobre válvulas. Estes trabalhos que ele fazia eram muitos rigorosos em termos de ilustração e também [em termos] dos apontamentos que tirava, só que na altura ele não usava nomes técnicos, eram trabalhos descritivos”, explica Márcia, para quem as ilustrações de Da Vinci “atualmente só não seriam ilustrações válidas em termos estéticos, porque agora as ilustrações usadas para os trabalhos científicos têm mais rigor.Da Vinci não tinha o intuito de divulgar. Eram ilustrações que ele fazia para tentar perceber como as coisas funcionavam.”

A diversidade da obra de Da Vinci é outra das ideias vincadas no estudo da investigadora. “Como homem do Renascimento,  interessava-se por diversos temas”, o que explica o facto de que “muitos dos seus trabalhos tenham ficado incompletos. Como se interessava por várias áreas, acabava por deixar alguns trabalhos” incompletos. “Uma senhora até me veio fazer uma pergunta, convencida que era um trabalho sobre literatura!”, conta Márcia, para quem a participação no IJUP já não é uma novidade. No ano passado, a proposta era menos… artística: “’Macroinvertebrados de praias arenosas’, um pouco diferente”, acrescenta, rindo. 

Terceiro dia do IJUP. Sempre que as apresentações orais param para intervalo, os participantes aglutinam-se no corredor que acolhe todas as apresentações em póster e há uma delas que parece chamar a atenção de várias pessoas que passam. É a de Diana Vasconcelos, que nos últimos meses se dedicou à observação do comportamento dos gatos em ambiente urbano. “As pessoas veem aqui as fotos dos gatos e querem logo saber o porquê disto, querem saber como é uma pessoa estar lá a ver, e querem saber se há muitos, se há poucos, se eles se deixam tocar.”

Ao longo de vários momentos do dia, de manhã à noite, Diana observa o comportamento dos gatos em três colónias, em pontos da cidade do Porto. A localização das colónias de gatos é determinada pela quantidade e pela frequência de acesso a alimento, bem como pelos abrigos que encontram em contexto urbano: “Como são um bocado mais esquivos e gostam de se afastar um bocado da população, temos notado que eles estão mais na zona do alimento e nas zonas mais resguardadas.”

E o que difere afinal os gatos dos cães? “Colónias de cães é mais difícil hoje em dia encontrar, porque eles não são tão fixos como os gatos, gostam de andar de um lado para o outro a procurar alimento, e também porque hoje em dia são mais frequentemente recolhidos para associações de proteção.” Ao contrário dos gatos, que sobrevivem e se organizam em função da comida que encontram nos caixotes do lixo ou da caridade dos habitantes locais.

Diana admite que “os resultados ainda são um bocado preliminares”, porque o estudo exige um período de observação mais alargado, mas esta é uma das áreas de estudo preferidas desta estudante de Biologia da FCUP, que também confessa o objetivo de se dedicar por inteiro à investigação. “Gostava de trabalhar nesta área da parte comportamental, da etologia, ou também na parte genética. Eu estou muito virada para os mamíferos, portanto gostava muito de estudar primatas no futuro”. Mas o presente passa mesmo pelos gatos e pela U.Porto. Quanto ao IJUP, fica a certeza: “É uma grande oportunidade para nós…”