A ocasião convidava a celebrar o passado, mas foi o futuro a marcar o tom das celebrações dos 112 anos da Universidade do Porto, assinalados, no passado dia 22 de março, com a habitual sessão solene do Dia da Universidade.

No tradicional discurso de encerramento, o Reitor da U.Porto aproveitou para destacar alguns dos projetos que prometem marcar o horizonte da Universidade, a curto e médio prazo. A começar por aquele que se projeta nos terrenos da antiga refinaria de Leça da Palmeira, em Matosinhos.

“Está já em fase bastante adiantada, ao abrigo do Fundo para uma Transição Justa, a negociação tendo em vista a instalação de um polo tecnológico e de um centro de inovação. (…) Aí criaremos um novo campus dedicado às engenharias e à ciência, o qual permitirá o crescimento e a afirmação da Universidade como um centro de excelência nos domínios da neutralidade carbónica e climática, das energias limpas e renováveis, da mobilidade sustentável e da economia circular”, anunciou António de Sousa Pereira.

A instalar num “espaço de cerca de 50 hectares”, o novo polo da U.Porto promete estabelecer-se como “uma verdadeira incubadora de talento em setores de intensa especialização, como são a Ciência, a Tecnologia e a Engenharia”.

“Teremos, assim, reunidas condições para que os nossos diplomados nestas áreas estejam ainda melhor preparados para dar respostas às novas necessidades do mercado de trabalho e do atual paradigma económico, promovendo também a produtividade e competitividade do tecido empresarial português”, vincou António de Sousa Pereira.

Uma “oportunidade” chamada PRR

Já depois de enaltecer a “recente aprovação do Plano Estratégico 2030, que há de orientar o crescimento e a consolidação da Universidade do Porto nos próximos anos”, o Reitor destacou outros “investimentos infraestruturais” cuja concretização constitui “uma prioridade absoluta” para a instituição.

Entre as ações em planeamento ou já em curso incluem-se a segunda fase de reabilitação do Estádio Universitário, bem como a instalação de um centro de investigação na Faculdade de Letras ou a “substituição e reforço da infraestrutura da rede WiFi da Universidade”. “Estamos ainda a trabalhar com a Metro do Porto no sentido de criar um novo espaço de estudo e e-learning sobre a estação do Campo Alegre da futura linha rubi do metropolitano”, anunciou António de Sousa Pereira.

No seu primeiro discurso do Dia da Universidade após a reeleição em maio do ano passado, o Reitor relevou ainda as várias obras e projetos que a instituição está a desenvolver com fundos provenientes do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Um “pacote” onde cabe o anunciado plano de reabilitação das residências universitárias da U.Porto, do qual resultará a criação de três novas residências e a requalificação de outras quatro, num investimento que permitirá ” ajudar a fazer face às dificuldades que os nossos estudantes enfrentam em matéria de acesso ao alojamento na cidade do Porto”.

“Contamos abrir já no início do próximo ano letivo a primeira daquelas residências, a da Carvalhosa, na zona de Cedofeita, que contará com 54 novas camas, assegurou o Reitor, garantindo que “tudo isto está a ser feito tendo em especial atenção a necessidade de acautelar a tranquilidade e o conforto dos estudantes”.

Do presente da Universidade faz já parte o ambicioso Programa de Formação Multidisciplinar da U.Porto, que, só este ano letivo, “permitiu a abertura de 66 novos cursos e formações para maiores de 23 anos”, juntamente com o reforço da oferta de licenciaturas nas áreas STEAM.

É também neste programa que se insere a requalificação do edifício Abel Salazar, tendo em vista a instalação de “um espaço de formação multidisciplinar e pós-laboral que permitirá alargar e reforçar a nossa oferta formativa, e avançar na formação contínua e na maior qualificação dos recursos humanos”, projetou o Reitor.

Os efeitos da “bazuca” na Universidade fazem ainda sentir-se no domínio do incentivo à inovação, através da participação em 37 dos 51 projetos aprovados a nível nacional no âmbito das Agendas Mobilizadoras e dos Pactos de Inovação do PRR”. Um dado que, segundo o Reitor, “representa a captação de um investimento institucional de 155,4 milhões de euros destinados à promoção da inovação empresarial e à criação de sinergias de investigação entre o meio académico e a economia nacional”.

“Renovação” é a palavra de ordem

Perante uma plateia composta pelos líderes das principais instituições da cidade e da região e pelo corpo de professores doutorados da U.Porto, António de Sousa Pereira não deixou de elencar os avanços protagonizadas pela Universidade no último ano, em diferentes domínios: no ensino (com a criação do novo Programa de Inovação Educativa); na internacionalização (por via do alargamento da EUGLOH e da crescente participação da comunidade no programa Erasmus+), na investigação (com destaque para a conquista de seis novas bolsas do European Research Council); na relação com as empresas (destacou a ação da UPTEC); na cultura (através do trabalho desenvolvido pela Casa Comum e de iniciativas como o Corredor Cultural); e na promoção de estilos de vida saudáveis (desporto, saúde, alimentação e ambiente).

Concretizações entre muitas outras que, para o Reitor, apenas reforçam a urgência  de uma “renovação” da Universidade e do Ensino Superior, de forma a melhor enfrentarem “os desafios do futuro”.

“Não deixaremos, para isso, de participar no processo de revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, finalmente iniciado pelo Governo”, posicionou-se António de Sousa Pereira, acrescentando que “é nossa obrigação estar à altura da discussão que agora se inicia, pugnando não apenas pelo cumprimento das promessas feitas, e nunca cumpridas, mas também pela existência de um efetivo regime de autonomia reforçada, crucial para dar resposta aos desafios atuais e dos anos vindouros”.

Numa perspetiva mais interna, o Reitor vincou também a importância de se “debater o mais desassombradamente possível o modelo de governação das universidades, e da Universidade do Porto em concreto, de modo a torná-lo mais justo, mais claro e mais democrático”.

Nas palavras de António de Sousa Pereira, “é chegado o momento, pois, de rever o Estatuto da Carreira Docente Universitária (…), permitindo a renovação do corpo docente sem deixar de premiar o mérito e a excelência dos extraordinários professores e investigadores que aqui trabalham ao serviço da comunidade”.

Uma reforma necessária no ensino

O futuro do ensino superior em Portugal esteve também em foco na intervenção de António Sampaio da Nóvoa, o orador convidado deste ano do Dia da Universidade, que não deixou passar a oportunidade de refletir sobre a necessidade de reformar o Ensino Superior. “A sala de aula é importante? Sim, mas não chega. Há mais vida para além dos nossos anfiteatros”, lembrou o Reitor Honorário da Universidade de Lisboa.

“A transmissão de conhecimento entre gerações é fundamental, a relação pedagógica humana entre o mestre e o discípulo é insubstituível, mas as universidades esqueceram-se da sua dimensão intrageracional, esqueceram-se do valor da cooperação entre pessoas  de uma mesma geração. A educação superior tem de atender a estas duas dimensões: inter e intrageracionais…”, destacou Sampaio da Nóvoa, num discurso em que apelou a um ensino mais focado nos estudantes e ao rompimento com os métodos de ensino mais antigos e menos humanistas.

“Os estudantes são a alma da Universidade, e por isso é tão importante que tenham uma presença forte e inteira na vida da instituição”, finalizou.

O discurso de Sampaio da Nóvoa foi aplaudido de pé pela audiência presente no Salão Nobre da Reitoria. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Além de António Sampaio da Nóvoa, também o Presidente do Conselho Geral, Fernando Freire de Sousa, fez questão de salientar o “apelo a que saiamos  da zona de conforto e encontremos formas  eficazes de sermos parte das transformações do mundo”.

“Sucede hoje estarmos a completar 112 anos, um  número que, subconscientemente, nos remete para a ideia de emergência”, reforça o Presidente do Conselho Geral.

Luís Braga da Cruz, Presidente do Conselho de Curadores, salientou por sua vez a “complexidade” da sociedade vigente, num discurso marcado pelo apelo à formação e qualificação dos diferentes agentes da comunidade académica.

Pelo púlpito da cerimónia do Dia da Universidade 2023 passaram ainda Ana Gabriela Cabilhas e Hugo Castro Mendonça, na qualidade de representantes dos estudantes e dos trabalhadores da U.Porto, respetivamente.

E se a recentemente reeleita Presidente da Federação Académica do Porto (FAP) fez um discurso centrado na necessidade de ouvir os estudantes e na necessidade de lutar por um ensino mais justo, mais livre e mais centrado nos valores atuais, já o representante dos trabalhadores no Conselho Geral aproveitou a oportunidade para reforçar a importância de valorizar os trabalhadores da academia, de forma a dotá-los de oportunidades iguais.

Premiar a excelência

A Sessão Solene do Dia da Universidade 2023 foi também o momento para celebrar o méritos dos membros da comunidade que mais se destacaram no último ano em diferentes vertentes.

Dos Prémios Incentivo, entregues aos melhores estudantes de primeiro ano de licenciaturas e mestrados integrados, passando pelo Prémio Excelência na Investigação Científica, ou pelo Prémio Cidadania Ativa, a U.Porto reconheceu, mais uma vez, os melhores entre os melhores.

A cerimónia contou com a participação de 18 dos 20 estudantes distinguidos com o Prémio Incentivo 2023. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Ponto alto da cerimónia foi também a proclamação das oito novos Professores Eméritos, reconhecimento reservado a professores jubilados e reformados que se destacaram pelos seus altos serviços prestados à U.Porto.

Recorde abaixo alguns dos momentos da Sessão Solene do Dia da Universidade 2023.