De Mondim de Basto para o mundo. Valter Pereira conta com várias experiências internacionais. A última delas levou este antigo estudante da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) até ao Panamá, país onde vive desde outubro de 2020, com a namorada Helena, a desafio da empresa onde já trabalhava, desde 2018, em Amesterdão.

Licenciado em Economia pela FEP, Valter conta com vários “carimbos” num passaporte internacional que já o permitiu trabalhar em países como Malawi, Turquia, Rússia, Emirados Arabes Unidos, Brasil, Colômbia. Está, desde o início da carreira, ligado à auditoria, tendo passado por empresas como a Ernst & Young, Unicer/Super Bock e Mota-Engil, até chegar à Kingspan.

Sempre se intrigou sobre a “a crítica que se faz à falta de produtividade no trabalho em Portugal, em comparação com outros países”. A verdade é que, para Valter, a formação “contribuiu de forma muito positiva para a minha preparação para a entrada no mercado de trabalho”. O “selo” U.Porto “tornava mais fácil ser chamado a entrevistas de emprego na minha área”.

Apesar de recente, a mudança do alumnus da FEP para o Panamá foi acompanhada por todas as alterações e instabilidades causadas pela COVID-19. Passado um ano desde que chegou à Cidade do Panamá, Valter já se habituou ao “calor e a temperatura nunca abaixo dos 20 graus, mesmo de noite”. Talvez lhe esteja “no sangue” este espírito aventureiro, já que também os avós viveram fora, com passagens por Angola, Inglaterra e França. Hoje, sente falta de “jogar futebol com os amigos, coisa que fazia semanalmente em Portugal”.

O regresso? “Não sei quando será”. Antes disso, Valter terá um novo desafio de “a curto prazo”: mudar-se para os Estados Unidos da América, para acompanhar a construção de uma fábrica desde o seu início, num investimento aproximado de 30 milhões de dólares.

Como surgiu a oportunidade de vir para o Panamá?
Em janeiro de 2018 fui trabalhar para o departamento de auditoria interna de um Grupo multinacional irlandês chamado Kingspan, passando a viver em Amesterdão. Em março de 2021 fui convidado para o cargo de Controller Financeiro de uma das divisões do Grupo (Synthesia Technology) na América Latina, cuja sede é localizada no Panamá (por motivos logísticos – facilidade de exportação para qualquer país da América Central e do Sul através do Canal do Panamá – e não por qualquer motivo fiscal “oculto”!).

De que forma a Universidade do Porto teve impacto neste processo?
Em primeiro lugar pela qualidade e exigência do ensino ao longo da minha licenciatura, contribuiu de forma muito positiva para a minha preparação para a entrada no mercado de trabalho. Depois, sempre me apercebi que o facto de ter sido formado pela U.Porto tornava mais fácil ser chamado a entrevistas de emprego na minha área, contribuindo de forma significativa para a progressão que fui tendo ao longo da carreira.

O que te levou a ir para fora?
Sempre gostei muito de viajar e conhecer novos países. O cargo para o qual entrei em 2018 permitiu-me isso. Ainda que em contexto de trabalho, tive sempre a oportunidade de conhecer um pouco as cidades/países por onde passei. Desde 2018 visitei em trabalho países como EUA, Rússia, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Brasil, Colômbia, etc.
Por outro lado, tinha a curiosidade de saber como é trabalhar fora de Portugal, conhecer outras culturas, desenvolver outras línguas, e perceber até que ponto nos comparamos a nível profissional com pessoas de outras nacionalidades. Sempre me intrigou a crítica que se faz à falta de produtividade no trabalho em Portugal, em comparação com outros países.

Há quanto tempo estás fora de Portugal?
Desde janeiro de 2018. Vivi em Amesterdão até julho 2020 e estou no Panamá desde outubro do ano passado.

Valter trabalha no grupo multinacional Kingspan desde 2018. Depois de três anos em Amesterdão, partiu para o Panamá. (Foto: DR)

Como foi a adaptação?
A adaptação foi boa, tanto no caso de Amesterdão como do Panamá, ainda que sejam duas realidades completamente distintas. A minha namorada, Helena, acompanhou-me nesta mudança, o que sem dúvida facilitou as coisas!
Por outro lado, acabei por passar alguns meses da pandemia em ambas as cidades, e deu para perceber as diferenças. No Panamá houve períodos de recolher obrigatório e horas específicas para poder sair à rua para fazer compras em função do último algarismo do passaporte! Na Holanda as restrições foram essencialmente a nível de distanciamento social e normas de higiene, mas nunca de recolher obrigatório.

Valter vive no Panamá com a namorada, Helena. (Foto: DR)

O que gostas mais no Panamá? E menos?
No Panamá, está sempre calor e a temperatura nunca vai abaixo dos 20 graus, mesmo de noite! Tem praias muito bonitas e a temperatura da água, em especial na costa do Atlântico, é espetacular! Mas, por outro lado, tratar de qualquer tema mais burocrático, como obter um cartão de residente, ou até coisas simples como comprar um cartão de telemóvel, é de uma ineficiência inimaginável. Se pensam que os serviços públicos em Portugal não funcionam, venham ao Panamá e vão desesperar!

A vista de casa de Valter na Cidade do Panamá. (Foto: DR)

Um conselho para quem visita a cidade onde vives?
Visitar entre dezembro a abril. Apesar de estar sempre calor no Panamá, o clima divide-se em duas “épocas”. Uma mais seca de dezembro a abril, e outra mais chuvosa que vai de maio a novembro. Nesta última, em qualquer dia podem estar sujeitos a um temporal que não os deixa sair de casa!

De que sentes mais falta? Pensas voltar?
Acima de tudo sinto falta da família e dos amigos. Ainda que, hoje em dia, com a tecnologia à nossa disposição, estou todos os dias em contacto com eles. Sou natural de Mondim de Basto, no distrito de Vila Real, e, como é típico nesta região, tenho na família muitos casos de emigração. Os meus avos paternos viveram em Angola e depois em Inglaterra, o meu avô materno trabalhou em França, etc. O contexto de emigração deles nas décadas de 60/70 não tem qualquer comparação com o meu. Ainda que eu esteja no Panamá, sinto que estou muito mais “próximo” da minha família do que eles nessa altura.
Sinto também muita falta de jogar futebol com os meus amigos, coisa que fazia semanalmente quando estava em Portugal! E, claro, sinto falta de ir ver o Benfica ao Estádio da Luz, coisa que não faço desde 2017!
Tenciono voltar a Portugal, não sei é quando será, até porque a curto prazo tenho previsto mudar-me para os EUA, dentro do Grupo para o qual trabalho atualmente. Veremos o que o futuro trará…

Meg é o mais recente membro da família, aqui em “Causeway Amador”, um ponto turístico na Cidade do Panamá. (Foto: DR)