“Internacional e inclusiva”. É assim que José Iria, de 33 anos, fala da instituição que o acolheu durante todo o seu percurso académico, de 2006 a 2019. Começou no Mestrado Integrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e terminou com um doutoramento em Sistemas Sustentáveis de Energia, passando ainda pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) como investigador em projetos de escala nacional e internacional.

Foi precisamente com a sua tese final de investigação do Programa Doutoral que se tornou um dos vencedores da edição 2020 do Prémio APREN, promovido pela Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) no âmbito da temática da eletricidade de origem renovável, levando para casa um cheque no valor de 1000 euros.

Natural de Chaves, é agora investigador na Australian National University, em Camberra, capital da Austrália, onde se dedica ao desenvolvimento de ferramentas computacionais para suportar o planeamento e a operação de sistemas de energia.

“A Austrália é um ótimo caso de estudo para cientistas interessados em estudar a operação de sistemas distribuídos de energia, pois tem mais de 2.7 milhões de instalações de painéis fotovoltaicos que geram, em certas horas do dia, a energia necessária para alimentar a maior parte da carga de um estado no país. Isto traz novos desafios para a gestão do sistema de energia.”, avança o alumnus, que trabalha com parceiros industriais na procura de novas soluções para a área.

Mas, mesmo do outro lado do globo, nada o faz esquecer a sua primeira casa. “Fiz muitos amigos de diferentes nacionalidades na FEUP e na U.Porto e aprendi muito com eles. Esta passagem pelos meios académico e de investigação no Porto contribuiu significativamente para o meu crescimento profissional e pessoal e, por isso, fico grato às instituições que me acolheram”, confessa José Iria.

Os tempos livres são passados a praticar desporto, viajar, fazer mergulho e caminhar. “Sou um grande adepto de atividades ao ar livre. A Austrália é o país perfeito para caminhadas e mergulho, com uma beleza extraordinária e única.” Mas as saudades, essas, sentem-se a quilómetros de distância, em especial da família, amigos e, claro, do bacalhau, “cozinhado das mil e uma maneiras possíveis”.

Seja na Oceânia ou no continente europeu, o grande objetivo de vida de José Iria mantém-se: continuar “a ser feliz a investigar” e a produzir conhecimento para transformar a sociedade num mundo melhor para todos.

José Iria em Uluru, Austrália. (Foto: DR)

O que te motivou a ir para Camberra?

Mudei-me para a capital da Austrália em outubro de 2019, depois de acabar o doutoramento. Os trabalhos desenvolvidos no INESC TEC e no meu doutoramento abriram-me as portas para trabalhar no estrangeiro, nomeadamente nas áreas das ciências computacionais e sistemas de energia. Na altura, tive várias propostas para trabalhar na Europa, EUA e Austrália, tanto na indústria como no meio académico. Acabei por decidir por continuar a trabalhar no meio académico, na Australian National University, porque a ciência é a minha paixão profissional. A universidade ofereceu-me muito boas condições de trabalho, como por exemplo a liberdade total para explorar as minhas ideias na minha área de especialidade, que é a otimização de sistemas de energia.

Como foi a adaptação?

A adaptação nunca é fácil, principalmente quando é para um país onde não se conheces ninguém, estás a mais de um dia de avião da família e dos amigos e enfrentas problemas burocráticos e diferenças culturais. Eu cheguei à Austrália no início dos incêndios de 2019/2020, nunca vi algo igual na minha vida… parecia que estava em Marte! Na altura, os meus amigos diziam que tinha escolhido mal. Depois dos incêndios, veio a pandemia COVID-19, que parecia uma praga. Mas agora está tudo a voltar ao “normal”.

De que forma a Universidade do Porto teve impacto no teu percurso?

O meu percurso académico começou na FEUP em 2006, quando ingressei no curso de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, e acabou em 2019 com um doutoramento em Sistemas Sustentáveis de Energia. O meu doutoramento (2014-2019), feito no âmbito do Programa Doutoral que também envolve o MIT, bem como os projetos nacionais e europeus em que trabalhei no INESC TEC (2012-2019), permitiram-me colaborar com investigadores de todo o mundo e dar a conhecer o meu trabalho internacionalmente. O INESC TEC é uma instituição de referência na Europa na área dos sistemas de energia e ajudou-me muito a crescer como cientista. A minha mudança para a Australian National University não teria sido possível sem o INESC TEC e a FEUP/Universidade do Porto.

De que é que gostas mais em Camberra? E menos?

A qualidade de vida em Camberra é boa, os salários são altos e o balanço entre a vida profissional e pessoal é bom. A maioria das pessoas trabalha para o governo, e até é comum optar por trabalhar apenas em part-time. O que eu mais gosto em Camberra é a natureza que caracteriza a cidade. É muito verde e tem imensa vida selvagem, tal como cangurus e muitos pássaros de diferentes cores.

A Austrália é um país que vale a pena visitar, principalmente para os amantes da natureza. Tem paisagens arrepiantes, vida marinha e florestas extraordinárias… Definitivamente algo que constaria na lista de uma viagem de sonho, nomeadamente a Great Barrier Reef (Grande Barreira de Coral).

A mergulhar na Grande Barreira de Coral. (Foto: DR)

Um conselho para quem visita a Austrália?

Visitem os parques naturais, nomeadamente as Blue Mountains, Uluru e a Great Barrier Reef.  Estes parques naturais são de uma beleza única.

Do que é que sentes mais falta de Portugal?

Da família e dos amigos que deixei em Portugal.

Pensas voltar para Portugal?

Quero voltar o mais rápido possível a Portugal para visitar a minha família, que não vejo há dois anos devido às restrições pandémicas implementadas pela Austrália. Em termos profissionais, tudo é possível. Mas não tenho planos para voltar ao meu país no curto prazo.