Fez toda a sua formação em Bioquímica na Universidade do Porto e desde 2018 que vem aplicando o que aprendeu ao serviço de quem mais precisa. Com várias missões humanitárias no “currículo”, foi a vontade de ajudar no combate à pandemia, a par da “paixão por viajar e de conhecer contextos, culturas e pessoas diferentes” que, em outubro de 2020, levou Inês Rodrigues até São Tomé e Príncipe. A experiência durou meio ano, o suficiente para se render à “incrível beleza natural” do país, mas também à “generosidade das pessoas” e à sua “simplicidade na forma de viver a vida”.

Licenciada em Bioquímica pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS e pela Faculdade de Ciências (FCUP) em 2012, foi ainda na U.Porto que Inês Rodrigues finalizou o Mestrado na mesma área (2014), tendo feito o estágio curricular no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC). Mais tarde, foi bolseira de investigação no Instituto de Inovação e Investigação em Saúde (I3S).

Foi então que decidiu “aplicar” o interesse pelo trabalho humanitário e as várias experiências de voluntariado em que participou, tanto em Portugal como a nível internacional. Ligada à organização Médicos sem fronteiras (MSF) desde 2018, participou em missões humanitárias na Guiné-Bissau e na Líbia, como especialista em Saúde Pública. Até que surgiu a oportunidade de integrar uma equipa de especialistas voluntários das Nações Unidas – com o apoio da Agência Francesa para o Desenvolvimento (PNUD) – para apoiar São Tomé e Príncipe no combate à pandemia da COVID-19.

Durante os mais de seis meses que passou em África, Inês Rodrigues deu apoio aos técnicos de laboratório à COVID-19, mas também suporte aos técnicos na colheita e análise de amostras de SARS COV 2 e de outras patologias como tuberculose e HIV. Um “desafio” que não poderia deixar de abraçar. Não só porque a sua formação base “é uma mais valia na parte laboratorial da pandemia”, mas também porque “poderia dar a minha contribuição com as experiências que já tive”.

Mas mesmo longe, Inês não esquece também o papel da Universidade na construção do seu percurso profissional e realização pessoal. Foi ali que abraçou a possibilidade de estudar em São Paulo (Brasil) ao abrigo do programa Erasmus Mundus. Foi também na U.Porto que participou como voluntárias em vários eventos científicos e culturais, ou que defendeu as cores da seleção universitária de andebol. Contas feitas, “o dinamismo, a qualidade e as inúmeras oportunidades de desenvolvimento pessoal e de carreira são algo que me faz destacar esta Universidade e dizer com entusiasmo e orgulho que fui aqui estudante!”.

Quanto a regressar a Portugal, é algo que, para já, não está no horizonte da alumna da U.Porto. “Portugal será sempre o meu porto de abrigo. Volto sempre para descansar, mas assim que me sinto preparada, volto à aventura!”. E a próxima está quase a começar. Em agosto, Inês Rodrigues parte para o Iémen com os Médicos sem Fronteiras para apoiar dois hospitais daquele país.

“Sou apaixonada por África. Aqui o tempo é levado de outra forma”

– O que te motivou a ir para São Tomé e Príncipe?

Sempre tive interesse pelo trabalho humanitário e desde muito cedo tive diferentes experiências de voluntariado tanto em Portugal como a nível internacional.

Comecei a trabalhar com a organização Médicos sem fronteiras (MSF) em 2018 e desde então tenho feito missões humanitárias como gestora do laboratório. Estive na Guiné-Bissau mais de um ano e depois na Líbia. O meu interesse pela área da Saúde Publica ganhou cada vez mais relevância e posteriormente fiz uma especialização em Saúde Publica e desenvolvimento.

No âmbito da resposta ao COVID, surgiu esta oportunidade de trabalhar no laboratório Nacional de referência em São Tomé e Príncipe, ao abrigo das Nações Unidas no sentido de ajudar o país na resposta à pandemia e de fortalecer a parte laboratorial. Como gosto de desafios, e sendo esta uma oportunidade num continente que tanto gosto, África, foi fácil aceitar o desafio.

– Como foi a adaptação?

A adaptação foi boa. Cada cultura tem as suas particularidades e o desfio é moldarmo-nos e adaptarmos. Mas julgo adaptar-me bem a qualquer contexto e as prévias experiências em África, quer em trabalho ou lazer, também que ajudaram a adaptar e perceber mais rapidamente a cultura e as pessoas em São Tomé e Príncipe. A paixão por África também me ajudou a adaptar. Aqui o segredo é descomplicar e ser flexível.

– O que te motivou a ir para fora?

Sempre tive a paixão por viajar, de conhecer contextos, culturas e pessoas diferentes. Por isso, a oportunidade de poder aliar estas premissas à minha profissão foi sem dúvida algo me que fez arriscar e ir além-fronteiras. Gosto da adrenalina de encarar novos desafios e fico incomodada com a rotina.

– Como surgiu a oportunidade de trabalhar num organismo das Nações Unidas?

A minha prévia experiencia no continente africano bem como as experiencias na área de gestão e fortalecimento laboratorial, em contexto humanitário, tornaram-se importantes para esta oportunidade surgir.

Estava na Líbia a trabalhar quando a pandemia do COVID-19 foi declarada e, estive por isso na sua resposta na parte laboratorial no projeto onde estava. A oportunidade de trabalhar nas Nações Unidades surgiu da necessidade de encontrar alguém com experiência na resposta à pandemia que pudesse dar apoio ao laboratório de referencia, o único laboratório no país que faz o diagnóstico do COVID-19.

– De que forma a Universidade do Porto teve impacto no teu percurso?

Foi na Universidade do Porto onde fiz a minha licenciatura e o mestrado em Bioquímica. Durante a Licenciatura, surgiu a oportunidade de ir para o Brasil no âmbito do programa Erasmus Mundo, durante 7 meses. Aqui foi a minha primeira grande experiência internacional que me fez abrir horizontes e querer arriscar mais. Nesta experiencia, tive também a oportunidade de fazer trabalho voluntario nas Favelas de São Paulo, trabalho este que me despertou vontade de querer trabalhar na parte humanitária.

A Universidade do Porto foi assim impulsionadora e deu-me ferramentas para muitas decisões profissionais que fiz ao longo do meu percurso ate aqui.

– De que é que gostas mais em São Tomé e Príncipe? E menos?

Sou apaixonada por África. Aqui o tempo é levado de outra forma. A descontração e simplicidade na forma de viver a vida é sem dúvida algo a destacar. Em São Tomé, é incrível a beleza natural, quer seja na praia ou na floresta. O outro ponto forte da ilha é o clima e a generosidade das pessoas que vamos encontrando ao longo destas aventuras e nos abrem as portas de sua casa para um almoço ou jantar.

Sem dúvida que nestes contextos há sempre a parte cultural que é preciso ser interiorizada. O leve da ilha e a descontração associada à parte cultural é algo que me custou a assimilar dado estar habituada a outro ritmo de trabalho.

– Um conselho para quem visita São Tomé e Príncipe?

São Tomé e Príncipe é para mim um país de eleição para turismo. É composto por duas ilhas: São Tome e a ilha do Príncipe. Apesar de haver muitos problemas sociais para resolver, fraco acesso à saúde, e muitos outros problemas associados a um país em desenvolvimento,  este país prima pela riqueza em praias paradisíacas, uma terra fértil onde é possível ver plantações de cacau, café ou baunilha; umas estradas rodeadas de verde, que nos leva a viajar no tempo e estar em constante contacto com a natureza, uma forte parte histórica, com as bonitas Roças que ainda é possível visitar ou ainda com a ilha de sonho do Príncipe, com praias incríveis e terras ainda muito virgens .

– Do que é que sentes mais falta de Portugal?

Portugal será sempre o meu porto de abrigo. Principalmente sinto falto do meu Porto. Quando estou fora sinto falta da família, dos amigos, de andar nas ruas do Porto a deambular e observar o que se passa, das caminhadas até Matosinhos ou da nossa comida tão boa e característica. Em alguns contextos, sinto a falta do nosso café com o pastel de nata…

– Pensas voltar para Portugal?

Para já não penso muito nisso. Volto sempre a Portugal entre missões durante um período, para descansar, mas assim que me sinto preparada, volto à aventura! Às vezes quero mais estabilidade mas, por outro lado, torna-se um “vicio” estas missões em conhecer realidades novas.