Os níveis de colesterol estão a diminuir nos países ocidentais e a aumentar nos de baixo e médio rendimento, particularmente na Ásia, revela um estudo publicado na prestigiada revista Nature, que analisou os níveis de colesterol em 200 países, ao longo de quatro décadas. O Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) participou nesta investigação, que incluiu dados das coortes populacionais EPIPorto e EPITeen.

Liderado pelo Imperial College London, o trabalho agora publicado analisou os valores de colesterol sérico de 102,6 milhões de indivíduos, de 200 países, avaliados entre 1980 e 2018.

A evolução dos níveis de colesterol foi analisada tendo em conta dois grupos: o colesterol HDL, considerado um fator protetor para as doenças cardiovasculares; e o “colesterol não-HDL”, isto é, triglicerídeos e colesterol LDL, que, sendo um marcador de risco cardiovascular, importa que se mantenha dentro dos valores desejáveis.

3,9 milhões de mortes por colesterol elevado

Os resultados do trabalho revelaram que, nas últimas quatro décadas, 3,9 milhões de pessoas morreram, em todo o mundo, devido a níveis elevados de colesterol não-HDL (“mau”) e que metade dessas mortes ocorreram na Ásia (no leste, sul e sudeste do continente).

Constatou-se que, ao longo do período  analisado, houve uma mudança de padrão. Os níveis de colesterol não-HDL caíram acentuadamente nos países de maior rendimento, particularmente no noroeste da Europa, América do Norte, Austrália, Nova Zelândia e Nova Guiné, onde eram mais altos. Por outro lado, aumentaram nos países de baixo e médio rendimento, nomeadamente no leste e sudeste asiático, que apresentavam valores mais baixos no início do período em estudo.

Possíveis explicações…

O artigo agora publicado na Nature não analisa os fatores que explicam esta mudança de padrão, mas poder-se-á referir que o aumento dos níveis de colesterol “mau” registados nos países de baixo e médio rendimento estarão relacionados com mudanças comportamentais  verificadas nas últimas quatro décadas.

Como explica a investigadora do ISPUP, Elisabete Ramos, “nos países de baixo e médio rendimento houve, nas últimas décadas, alterações comportamentais que levaram ao abandono de uma alimentação mais tradicional, o que se traduziu na incorporação de alimentos mais processados na dieta. Além disso, assistiu-se também à redução da atividade física e ao aumento dos níveis de sedentarismo. Estas alterações poderão justificar os elevados níveis de colesterol aí encontrados”.

Já nos países ocidentais, a diminuição dos valores de colesterol “mau” registados, poderá relacionar-se “não com a adoção de comportamentos mais saudáveis, mas sim com o aumento do recurso a tratamento farmacológico para controlar os níveis deste colesterol”, acrescenta a investigadora.

Participação do ISPUP

Embora o estudo tenha também a colaboração de outros investigadores portugueses, o ISPUP facultou os únicos dados da população portuguesa a serem incluídos na investigação da Nature. Foram fornecidos os dados das coortes populacionais EPIPorto, que estuda, desde 1998, os determinantes de saúde da população adulta residente na cidade do Porto, e EPITeen, que investiga, desde 1990, a forma como os hábitos e os comportamentos adquiridos na adolescência se vão refletir na saúde do adulto.

O artigo intitulado Repositioning of the global epicentre of non-optimal cholesterol encontra-se disponível online e é assinado pela rede internacional NCD Risk Factor Collaboration (NCD-RisC), que envolve cientistas de todo o mundo. Dela fazem parte os seguintes investigadores do ISPUP: Ana Azevedo, Ana Henriques, Elisabete Ramos, Joana Araújo, e Nuno Lunet.