Começamos com uma convocatória invulgar, mas o espetáculo também promete ser pouco convencional: Convocam-se os ventres das mulheres de Portugal. É assim que a Seiva Trupe chama a população para a rua, ou, neste caso, para a Praça Gomes Teixeira, ponto de encontro para o espetáculo que vai à cena na Reitoria da Universidade do Porto a partir das 16h00 do próximo dia 25 de abril.

Ao pensar o espetáculo, o dramaturgo e encenador Tó Maia não pôde esquecer o polémico caso das “três Marias” e a publicação, em 1972, das Novas Cartas Portuguesas que “criticam e denunciam diferentes situações de violência dentro do regime do Estado Novo”, nomeadamente “as discriminações exercidas sobre as mulheres”.

Houve ainda outro momento que fez questão de lembrar: aquele que se viveu a 13 de janeiro de 1975, no Parque Eduardo VII, com a Manifestação do Movimento de Libertação das Mulheres. Episódios que inspiraram a criação de um espetáculo único, que nos pretende levar a refletir não só sobre a atual situação da mulher, mas também sobre outros grupos estigmatizados.

“O percurso da luta das mulheres e de outros grupos historicamente discriminados pela conquista dos seus direitos já vai longo, mas longe está ainda o seu término” afirma Tó Maia.

A partir de excertos literários, artigos de jornais e poemas, vão-se desfiando factos e ficções, que pretendem “estimular a reflecção e a ação no combate a todas e quaisquer formas de preconceito e discriminação de género, raça, orientação sexual, ou outras… ” É chegada a hora de se conjugar, e com caracter de “urgência”, o verbo agir”, apela o dramaturgo.

A homenagem a Maria Teresa Horta

Rodeado dos interpretes Allex Miranda, David Carvalho, Fernando André, Kátia Guedes, Luciana Sanhudo, Mariana Costa e Silva, Maria Tavares e Mário Moutinho (com a participação especial de Sandra Salomé), Tó Maia “criou uma metáfora cheia de metonímias visuais e palavras singulares” diz-nos Castro Guedes, Diretor Artístico da Seiva Trupe. E ainda nos acrescenta temas como o da “Emancipação da Mulher Negra”.

Para tal, o encenador recorreu a vários textos, não deixando de se centrar “nessa figura ímpar que é Maria Teresa Horta“, a quem se presta homenagem “como símbolo vivo das célebres Três Marias das Novas Cartas Portuguesas e intrépidas lutadoras da Causa das Mulheres”. Sendo, ela mesma, “a Causa da Liberdade”.

“Confio na generosidade do público”

Para além de “uma honra”, Castro Guedes considera “uma tremenda responsabilidade terem sido chamados, com um teatro interativo, para integrar o encerramento do Transeuropa 22 “que, este ano, decorre na mais que liberal cidade portuguesa: o Porto”.

O Diretor Artístico da Seiva Trupe confessa que “quando a Fátima Vieira (Vice-Reitora da U.Porto) lançou a ideia e o Álvaro Vasconcelos (Fórum Demos) nos veio desinquietar”, temeu perante o desafio, mas olhando para o que tem pela frente não se arrepende. “Confio neles todos e confio na generosidade do público para nos acompanhar nesta aventura”. Em tom de desabafo, “bendigo a hora em que a Fátima (Vieira) e o Álvaro (Vasconcelos) ousaram ter o fogo sagrado da loucura artística”.

Com entrada livre e gratuita, o espetáculo vai decorrer no Salão Nobre da Reitoria da U.Porto. Mas não se apresse a entrar no edifício histórico. Há uma performance, que antecede a peça. Onde? Precisamente, na Praça Gomes Teixeira.

Integrado na programação do primeiro Casa Comum Fest, Convocam-se os ventres das mulheres de Portugal marca igualmente o encerramento do TRANSEUROPA, um festival artístico, cultural e político transnacional que existe desde 2007 e que tem organizado conferências, workshops, exposições artísticas, performances, exibições, concertos e debates políticos.

Na edição de 2022, a principal cidade é o Porto e o festival foi organizado em cooperação com a Universidade do Porto, a Cooperativa Árvore, o Fórum Demos, a Casa Comum da Humanidade, entre outras instituições.