A docente e investigadora Margarida Bastos, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP),foi uma das especialistas mundiais em biocalorimetria convidadas para escrever um artigo sobre os avanços na técnica de calorimetria de titulação isotérmica (ITC, na sigla em inglês) para a revista Nature Reviews Methods Primers.

Trata-se de uma técnica que começou a ser aplicada à Bioquímica na década de 80. Permite medir o calor trocado em processos de interação entre diferentes moléculas (fármacos, péptidos, etc) com proteínas, enzimas, ou membranas lipídicas.

“No ITC temos um composto em solução no vaso calorimétrico – uma proteína, por exemplo – que é titulado com uma outra molécula também em solução, contida numa seringa”, explica Margarida Bastos.

Nos últimos anos, a docente tem vindo a usar esta técnica principalmente para obter informação sobre o comportamento de péptidos antimicrobianos, uma alternativa aos antibióticos atuais, em membranas que mimetizam as nossas células ou as das bactérias.

Na vanguarda da investigação em biocalorimetria

O seu conhecimento na utilização desta técnica levou ao convite para participar neste artigo, que a descreve, assim como os avanços nesta área. Para a docente e investigadora, é um reconhecimento do seu trabalho e da ciência que se faz na FCUP. E não é para menos. Em Portugal, a FCUP foi sempre pioneira no domínio da calorimetria. Primeiro, pela mão de Manuel Ribeiro da Silva, Professor Catedrático da FCUP, que trouxe esta técnica para o nosso país, e mais tarde, pela própria Margarida Bastos, que iniciou, em 1991, os estudos de biocalorimetria.

“Um dos aspetos fundamentais de um Nature Review Methods Primers é reunir uma equipa de especialistas conhecidos mundialmente numa determinada área para poder dar aos leitores uma perspetiva global sobre os assuntos abordados”, explica Margarida Bastos.  A investigadora foi convidada por Adrian Velásquez-Campoy, cientista espanhol da área da biocalorimetria, da Universidade de Zaragoza responsável por formar esta equipa internacional.

No artigo, os especialistas abordam como é que esta técnica está a ser utilizada e o que está disponível presentemente em termos de equipamento e tratamento de dados.

A docente do departamento de Química e Bioquímica da FCUP trouxe da Suécia, nos anos 90, para o agora denominado Laboratório de Solução, um protótipo de um calorímetro para a técnica ITC, que ainda hoje é utilizado. O seu tamanho contrasta com um mais recente, o VP-ITC, de muito menores dimensões, que está no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, tendo sido comprado em parceria entre o IBMC e o grupo de Química-Física da FCUP.

“Na biologia, os equipamentos de ITC têm de usar volumes muito pequenos e ser muito sensíveis, porque os materiais biológicos são muito caros e difíceis de obter com elevada pureza”, explica.

A investigadora Margarida Bastos utiliza, também, um equipamento mais recente e de pequenas dimensões, que está no i3S.

Sobre Margarida Bastos

Investigadora no Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto (CIQUP) e docente da FCUP, doutorou-se em Termoquímica em 1991 pela Universidade de Lund, na Suécia. No seu regresso continuou a fazer investigação em biocalorimetria, tendo fundado na FCUP o primeiro laboratório desta área em Portugal.

Ao longo dos anos tem vindo a dar formação em Portugal e a nível internacional nas várias técnicas de biocalorimetria. O seu trabalho de investigação tem tido enfoque na interação de fármacos com membranas lipídicas.

Em 2016, foi editora do livro “Biocalorimetry: Foundations and Contemporary Approaches”, da Taylor & Francis.