Rui Appelberg Gaio LimaProfessor Catedrático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e figura de referência nos domínios da microbiologia e da imunologia em Portugal, faleceu no passado dia 8 de agosto, aos 60 anos de idade.

Licenciado em Medicina (1984) e doutorado em Microbiologia (1992) pelo ICBAS, Rui Appelberg (1960-2020) iniciou o percurso como docente do Instituto em 1984, enquanto monitor. Em 2002, fez as provas de Agregação, ascendendo, um ano depois, a Professor Catedrático. Ao longo dos seus mais de 35 anos de carreira no ICBAS, foi docente de várias disciplinas ligadas à Microbiologia, Imunologia e Infeção, tendo estado ligado aos departamentos de Biologia Molecular (do qual foi responsável) e de Imuno-Fisiologia e Farmacologia.

Autor de mais de uma centena de artigos científicos publicados em revistas internacionais, Rui Appelberg desenvolveu também uma intensa atividade de investigação nas áreas da microbiologia e da imunologia, tendo-se notabilizado na identificação dos mecanismos imunitários de proteção contra infeções micobacterianas e a imunopatologia resultante dessas infeções.

Parte desse trabalho foi realizado no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) – atualmente integrado no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto -, onde dirigiu o seu próprio grupo de investigação até 2015. Orientou ainda dezenas de teses de doutoramento e foi co-orientador de vários estudantes de diferentes universidades.

Para além do reconhecimento nacional e internacional que reuniu entre os seus pares, recebeu igualmente múltiplas distinções pelas suas realizações científicas. Entre elas incluem-se o Prémio Pfizer, que conquistou por três vezes (em 1991, 1994 e 1997), o Prémio Roussel (em 1990 e 1994), o Prémio Fundação Engº António de Almeida e o Prémio Abel Salazar, ambos em 1985. Foi também “Associate Editor” do prestigiado “The Journal of Immunology” e membro do corpo editorial da revista Infection and Immunity.

O investigador portuense conquistou pela primeira vez o Prémio Pfizer em 1991, feito que repetiria em 1994 e 1997. (Foto: DR)

“Uma figura maior” do ICBAS

Numa nota de pesar publicada no seu website, o ICBAS lembra Rui Appelberg como “uma figura maior da nossa Escola, cujo legado científico se encontra bem vivo em várias gerações de investigadores”.

Fora da sala de aula e do laboratório, Rui Appelberg revelava-se também um adepto confesso de pontes antigas e de BTT, mas, sobretudo, apreciava “o ar livre e o desafio da procura”. É de, resto, essa “admiração pelo saber” e pelo “processo pelo qual se tinha chegado a esse conhecimento e que achava por bem transmitir aos estudantes” que é recordada por Maria Strecht Almeida, professora do Departamento de Biologia Molecular do ICBAS.

No mesmo testemunho, a docente destaca o “espírito hipercrítico” do “imunologista que sobressai quando se explora a dinâmica da área de investigação em imunologia em Portugal”e “que discretamente contribui para a centralidade do ICBAS nesse domínio”.

Manuel Vilanova, docente, tal como Rui Appelberg, do Departamento de Imuno-Fisiologia e Farmacologia do ICBAS e coordenador do grupo de investigação em Imunobiologia do i3S, recorda o antigo colega como “alguém que aprendi a respeitar pela sua erudição científica e pela sua capacidade pedagógica. (…) Possuidor de um saber transversal, vasto, sólido, dificilmente encontraria melhor exemplo para a ideia que tenho de Professor Catedrático”. E conclui: “Sendo uma personalidade maior, não necessitava de o afirmar”.