A médica neurologista, professora e investigadora Paula Coutinho, pioneira da neurogenética em Portugal e uma referência no ensino e investigação em Neurologia na Universidade do Porto, faleceu no passado sábado, 11 de junho, no Porto, aos 80 anos de idade.

Natural de Macieira de Cambra, Paula Mourão do Amaral Coutinho (1941-2022) licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) com 18 valores. Foi estagiária, interna geral e complementar, especialista, assistente, chefe de clínica e de serviço no Hospital Geral de Santo António (HGSA), ao qual se manteve ligada de 1967 a 1998.

Foi, de resto, no HGSA, que iniciou, em agosto de 1966, a aplicação da imunofluorescência na polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), também conhecida como paramiloidose ou por “doença dos pezinhos”.

Consultora clínica no Centro de Estudos de Paramiloidose, Porto (1975-1992), regressou à U.Porto em 1979 para assumir as funções de professora convidada de Neurologia no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), colaboração que manteve até 1998.

Também na U.Porto, integrou, desde a sua criação em 1992, a equipa de investigação da UnIGENe (Unidade de investigação Genética e Epidemiológica em Doenças Neurológicas), que viria a instalar-se no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), hoje integrado no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S). Foi também elemento da equipa clínica do pioneiro Centro de Genética Preditiva e Preventiva (CGPP) do IBMC.

Enquanto investigadora, Paula Coutinho especializou-se no estudo da paramiloidose e da doença de Machado-Joseph, que ajudou a definir como entidade clínica.

Inspirada em figuras de referência como Corino de Andrade e João Resende, “foi a mentora e responsável do rastreio nacional sistemático, de base populacional, das ataxias hereditárias e paraparesias espásticas, efetuado em Portugal durante mais de 12 anos, o qual conduziu à descrição de novas entidades clínicas e genéticas e que ainda hoje continua a ser fonte de valiosa informação para a investigação desses grupos de doenças”, recorda o i3S, numa nota de pesar assinada por Claudio Sunkel, diretor do Instituto, e por Jorge Sequeiros, fundador e diretor do CGPP-IBMC.

Autora ou coautora de dezenas de artigos científicos em publicações de alto fator de impacto, com milhares de citações na literatura, ganhou a primeira edição do Prémio Bial (1993), com a sua tese de doutoramento, intitulada “Doença de Machado-Joseph: tentativa de definição”,

Em 2016, Paula Coutinho foi alvo de uma homenagem pelo CGPP, ocasião em que foi plantada uma magnólia, no jardim entre os dois edifícios do i3S, simbolizando a ligação da clínica à investigação. “A magnólia continua viçosa”, assinala o i3S.

Em 2016, durante a homenagem que lhe foi dedicada pelo Centro de Genética Preditiva e Preventiva, no i3S. (Foto: i3S)

“Uma sumidade mundial na neurogenética”

Também o Reitor da U.Porto reagiu à morte de Paula Coutinho, recordando-a como “uma sumidade mundial na neurogenética, área em que foi pioneira em Portugal.”

“O trabalho de investigação que desenvolveu no âmbito das doenças neurodegenerativas, em particular a paramiloidose e a doença de Machado-Joseph, é considerado uma referência internacional e muito contribuiu para a melhoria do bem-estar de quem padece destes distúrbios neurológicos”, destaca António de Sousa Pereira.

Segundo o Reitor, “a Prof.ª Paula Coutinho prestigiou a medicina e a ciência portuguesas, bem como a Universidade do Porto e os vários institutos de investigação onde trabalhou” e que “iluminou com a sua visão, saber e perseverança”.

“Quem teve o privilégio de conviver e trabalhar com a Prof.ª Paula Coutinho, como é o meu caso, foi certamente inspirado não só pela sua extraordinária dimensão intelectual e científica, mas também pela forte empatia que gerava no contacto pessoal”, finaliza António de Sousa Pereira.

Já o subdiretor do ICBAS, António Mira da Fonseca, referiu-se à morte de Paula Coutinho comouma triste perda” para o Instituto “e para a neurogenética em Portugal”. 

O funeral de Paula Coutinho realiza-se esta segunda-feira, às 10h00, na Igreja da Areosa, no Porto.