A poetisa Ana Luísa Amaral, investigadora e professora aposentada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), faleceu durante a noite desta sexta-feira, dia 5 de agosto, vítima de doença prolongada.

Considerada uma das mais notáveis poetisas portuguesas da atualidade, homenageada com vários prémios literários nacionais e internacionais, Ana Luísa Amaral nasceu em Lisboa há 66 anos (1956).

Muito cedo acabaria por adotar o Porto e Leça da Palmeira como residência, mas também palco de um percurso académico e literário amplamente reconhecido em Portugal e além fronteiras.

“Eu nasci em Lisboa, cresci em Sintra, vim para o norte e ao início detestei. Mas o Porto é a minha cidade. É a cidade que me acolheu, uma cidade maravilhosa”, dizia, há pouco mais de uma semana, durante a sessão de apresentação da Feira do Livro do Porto 2022, onde seria – e será – a autora celebrada.

Numa nota de pesar publicada em reação à morte de Ana Luísa Amaral, o Reitor da Universidade do Porto recorda a docente e escritora como “uma autora extraordinária, uma académica distinta e uma cidadã empenhada”.

“A sua obra literária irá certamente garantir que o nome de Ana Luísa Amaral perdurará para todo o sempre, mas quem teve o privilégio de a conhecer de perto terá a memória de uma pessoa generosa e uma ativista dedicada às causas da igualdade e da solidariedade social”, reforça António de Sousa Pereira.

Também o Presidente da República lamentou a morte de Ana Luísa Amaral, que definiu como uma escritora “veementemente do seu tempo”.

“Escapando à homogeneidade um pouco fictícia das ‘gerações’, Ana Luísa Amaral não deixou de ser veementemente do seu tempo; diversificando os seus trabalhos, produziu uma incindível unidade”, considerou Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando que “nenhum roteiro da poesia portuguesa das últimas décadas ficará completo sem Ana Luísa Amaral, não pelas semelhanças com outros, mas pelas singularidades”.

Já o primeiro-ministro, António Costa, enalteceu a poetisa como “uma das maiores vozes da poesia portuguesa contemporânea”. Uma opinião partilhada pelo Ministro da Cultura, para quem Ana Luísa Amaral era e continuará a ser “uma das vozes mais lúcidas e inteligentes da nossa literatura”.

“Alguém com um percurso que, com a poesia no centro, servirá sempre de inspiração e exemplo”, conclui Pedro Adão e Silva.

Uma escritora reconhecida no seu tempo

Autora de mais de três dezenas de livros de poesia, teatro, ficção e literatura infantil, Ana Luísa Amaral tem obra publicada em países como Inglaterra, Brasil, França, Espanha, Suécia, Itália, Holanda, Colômbia, Venezuela, México e Estados Unidos da América, estando ainda representada em diversas antologias portuguesas e estrangeiras.

Uma carreira literária que lhe valeu diversas distinções nacionais e internacionais, nomeadamente o Prémio Literário Casino da Póvoa (2007), o Prémio de Poesia Giuseppe Acerbi (2007), o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (2008), o Prémio Rómulo de Carvalho/António Gedeão (2012), o Premio Internazionale Fondazione Roma: Ritratti di Poesia (2018), o Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho (2018), o Prémio Literário Guerra Junqueiro (2020), o Prémio Vergílio Ferreira (2020), o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, ou o Prémio Literário Francisco de Sá de Miranda (2021).

No trabalho da escritora,  interessava-lhe, sobretudo a observação do quotidiano “e o transcendente”, sendo que este “transcendente também faz parte do quotidiano”, como dizia. Em junho de 2021, numa reação à atribuição do XXX Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, o mais importante reconhecimento da poesia em espanhol e português, a escritora confessava-se “muito feliz” por tudo o que o prémio representa, nomeadamente por ser o reconhecimento de todo o seu trabalho e todos os anos dedicados ao que, para si, era “sempre uma necessidade”: a escrita.

É então todo este percurso que será celebrado, de forma póstuma, na edição deste ano da Feira do Livro do Porto, que irá decorrer de 26 de agosto a 11 de setembro, nos Jardins do Palácio de Cristal.

“Lisboeta de nascença, lecense e portuense de adoção, [Ana Luísa Amaral] é das mais notáveis poetas, tradutoras e académicas portuguesas”, destacava, em janeiro passado, a Câmara Municipal do Porto, sobre uma escolha para a qual contribuíram as “múltiplas facetas” da homenageada: “a de poeta, leitora, tradutora, feminista convicta, estudiosa, apaixonada, educadora, intelectual e comunicadora”.

Uma referência nos estudos feministas

Licenciada em Germânicas e doutorada em Literatura Norte-Americana pela FLUP, Ana Luísa Amaral acabaria por desenvolver nesta faculdade a sua atividade académica nos domínios de Literatura e Cultura Inglesa e Americana. Encontrando-se atualmente aposentada da docência, exercia as funções de membro da Direção do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, no âmbito do qual dirigia o grupo internacional de pesquisa Intersexualidades.

Estudiosa da obra de Emily Dickinson e referência internacional no campo dos Estudos Feministas, conta com uma importante obra realizada no campo académico, da qual se destaca o ensaio Dicionário da Crítica Feminista, em coautoria com Ana Gabriela Macedo.

O corpo de Ana Luísa Amaral estará em câmara ardente a partir das 17h00 deste sábado, 6 de agosto, na Capela do Corpo Santo, em Leça da Palmeira. O funeral realiza-se este domingo, às 11h15, no Tanatório de Matosinhos.