Cerca de metade dos docentes do Ensino Superior em Portugal apresenta fadiga elevada e exaustão durante a pandemia de COVID-19. A conclusão é de um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto (P.PORTO, InED), com coordenação de Ivone Duarte e Carla Serrão.

O estudo indica que mais de metade dos docentes estavam, por vezes ou mesmo muitas vezes, particularmente sensíveis, intolerantes, agitados, com dificuldades em relaxar ou em acalmar.

Ao todo, 37% dos docentes sofreram burnout associado à atividade profissional, que se refere a um prolongado estado de fadiga físico e exaustão psicológica percecionado como decorrente do exercício da atividade profissional.

Cerca de um quarto dos docentes referiu ainda sintomas de ansiedade e/ou de depressão e 60% dos inquiridos referiram dificuldades em adormecer ou em dormir sem interrupções.

Este estudo mostra igualmente que, durante a pandemia, 96% dos professores do Ensino Superior deram aulas à distância, sendo que o Zoom foi a plataforma mais usada. No entanto, 77% não tinham qualquer experiência prévia de ensino à distância.

“Instituições devem dar resposta a necessidades”

As investigadoras responsáveis pelo estudo notam que “a situação pandémica obrigou a uma abrupta adaptação, com múltiplas exigências e desafios sociofamiliares e profissionais”.

“A incerteza, a necessidade de dar resposta a desafios emergentes, a baixa literacia digital, a ausência de formação e de experiência de ensino através de plataformas online e a ausência de apoio de equipas de tecnologia educacional, que não tiveram mãos a medir, são algumas variáveis que podem explicar estes dados”, concluem.

Ao todo, 355 docentes do continente e ilhas participaram neste inquérito online, que decorreu entre 19 de junho e 30 julho. Os docentes auscultados eram sobretudo do sexo feminino (66,5%). Perto de 68% tinha mais de 15 anos de experiência docente e 85% davam aulas em instituições públicas. Mais de 82% das respostas eram relativas à região Norte do país.

Face a estas conclusões, as coordenadoras do estudo avisam: “É urgente que as instituições de Ensino Superior proporcionem soluções imediatas na resposta a necessidades quer instrumentais, quer socioemocionais a este grupo em particular”.

A equipa já havia realizado um estudo que analisou o impacto da pandemia em profissionais de saúde e deve centrar-se agora na análise das perceções dos docentes relativamente ao “Ensino remoto de emergência”, designadamente quanto às suas vantagens e desvantagens, as preocupações e as soluções.