São seis filmes para ver nestes dias/noites em que se festeja a Revolução dos Cravos, a liberdade e o pleno exercício de uma cidadania democrática.  Juntos, perfazem o ciclo de cinema “Memória, Cidadania e Liberdade”, que vai decorrer nos meses de abril e maio, na Casa Comum da Universidade do Porto (à Reitoria).

Organizado pela Reitoria da U.Porto e pelo CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, o ciclo arranca a 25 de abril, pois claro, com a exibição de Revolução de Maio (1937), de António Lopes Ribeiro. Esta longa metragem portuguesa, filme de propaganda ideológica do Estado Novo, será comentado por Joana Canas Marques e Pedro Alves.

Considerado o mais emblemático filme de propaganda ideológica a favor da ditadura do Estado Novo, Revolução de Maio pensado e financiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional dirigido pelo grande ideólogo cultural do regime, António Ferro. O protagonista, César Valente, é um jovem agitador de simpatias comunistas, vindo do exílio, que quer sabotar o regime. Enquanto é vigiado pela polícia política para apanhar todos os seus cúmplices, o jovem apaixona-se por Maria Clara e com ela vai perceber as mudanças económicas e sociais que o país teve desde 1933. Dá-se então uma espécie de “milagre” e César acaba por renegar o comunismo e aderir entusiasticamente à causa salazarista.

No dia 30 de abril, passa Uma Abelha na Chuva (1971), de Fernando Lopes. Esta adaptação cinematográfica do romance homónimo de Carlos Oliveira tem como protagonistas um casal, Maria dos Prazeres (Laura Soveral) e Álvaro Silvestre (João Guedes), que vivem num meio rural e cujo casamento está longe de ser um modelo de felicidade e apenas mantém uma unidade aparente, embora opressiva e complexa. O filme será comentado por Clara Sottomayor e Jorge Gato.

No dia 6 de maio, vamos poder ver Cinco Dias, Cinco Noites (1996), de José Fonseca e Costa. A partir do romance homónimo de Álvaro Cunhal, escrito sob o pseudónimo Manuel Tiago, Fonseca e Costa filma o drama dos opositores políticos ao regime salazarista durante os anos 40 que tentam clandestinamente passar a fronteira para o exílio. Rui Sá e Gaspar Martins Pereira serão os “comentadores de serviço”.

Cinco Dias, Cinco Noites (1996), de José Fonseca e Costa

Dia 13 de Maio, o ciclo apresenta O Meu Coração Ficará no Porto (2008), de Jorge Campos. Este documentário aborda a passagem de Humberto Delgado pelo Porto, em Maio de 1958 durante a candidatura à Presidência da República. Produzido pelo Instituto Politécnico do Porto, o documentário mistura fotos e imagens da época com outras mais atuais e conta com a participação da filha e do neto de Delgado, além de outros protagonistas e testemunhas da época. Comentam o filme Adrião Cunha, Pedro Bacelar de Vasconcelos e o próprio realizador.

Dia 20 de maio,  vamos ficar com Bom Povo Português (1975), de Rui Simões. Este documentário histórico descreve a agitada situação política e social entre 0 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975, o período mais conhecido por PREC. É uma visão comprometida com uma visão política, o que é assumido pelo realizador quando afirma que a equipa de realização «ao longo deste processo, foi ao mesmo tempo espectador, ator, participante, mas que, sobretudo, se encontrava totalmente comprometida com o processo revolucionário em curso». Estamos a falar de um “cinema militante” ou de “intervenção” que usa o cinema como uma arma. E, por isso, o debate plural que se segue por parte de comentadores políticos de um geração mais nova assume um enorme interesse. Os comentadores são Carlos Guimarães Pinto, José Soeiro e Tiago Barbosa Ribeiro.

O ciclo encerra no dia 27 de maio, com a apresentação de S. Jorge (2016), de Marco Martins. Trata-se de um filme sobre a tragédia social provocada pela crise económica financeira em 2011, em Portugal.

Jorge, o protagonista interpretado por Nuno Lopes (vencedor do prémio de melhor ator do Festival Internacional de Veneza, em 2016) é um jogador de boxe em decadência que se encontra sem trabalho, sem dinheiro, cheio de dívidas e com um filho a seu cuidado. Vai aguentando várias humilhações e encontra trabalho como cobrador de dívidas de quem, como ele, se encontra também em situações desesperadas. Filme realizado de forma crua, aborda sem condescendência ou sentimentalismos as consequências sociais da crise e as inúmeras e variadas violências que daí decorreram. Comentam o filme Manuel Pizarro e Sérgio Aires.

S. Jorge (2016), de Marco Martins. Passa dia 27 de maio.

Revisitar Portugal a partir do cinema

O conjunto de filmes permite múltiplas declinações sobre a liberdade e a cidadania, partindo da recuperação da memória e do imaginário do Estado Novo para o olhar de cineastas contemporâneos sobre temas como a luta pela liberdade, a clandestinidade o papel da mulher na família e o seu estatuto na sociedade, o processo revolucionário e a desigualdade social. Mas falar-se-á sobretudo de Cinema e da sua capacidade inigualável para ler e dar a ver os sinais do tempo e revela-se o papel do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM) da Cinemateca Portuguesa.

Todas as sessões de cinema serão seguidas de debate e contam com a presença de convidados com uma visão plural sobre as temáticas abordadas. O objetivo é partir da memória cinematográfica para analisar o Portugal dos séculos XX e XXI.

A curadoria do ciclo pertence a Jorge Campos (ESMAE) e Maria João Castro (ESMAE; CITCEM).

Todas as sessões têm início às 21h00. A entrada é livre.