Uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde alerta que é possível diminuir substancialmente as taxas de hospitalizações evitáveis por diabetes, utilizando-se os recursos humanos existentes nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) “de forma diferente”.

“Apesar do forte avanço do cuidado às pessoas com diabetes ao longo dos anos no país, este estudo considera que é possível melhorar a eficiência dos recursos humanos em muitos dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) portugueses”, afirma André Ramalho, investigador da FMUP e do CINTESIS e primeiro autor do trabalho, publicado no International Journal of Health Policy and Management.

Os investigadores compararam indicadores de qualidade relacionados com a diabetes em 54 ACeS que desenvolvem atividades similares, mas que apresentam diferenças significativas e uma “grande variabilidade dos níveis de eficiência dos cuidados”.

Segundo este estudo, coordenado pelos professores Alberto Freitas (FMUP/CINTESIS) e Paulo Santos (FMUP/CINTESIS), com os atuais recursos humanos, se incluirmos fatores como o rácio de doentes por médico, a prevalência da diabetes, a proporção de doentes mais velhos, a proporção de diabéticos com menos de 65 anos com glicemia controlada e o grau de controlo da diabetes na estrutura organizacional dos Cuidados de Saúde Primários, os ACeS “tecnicamente ineficientes” podem melhorar os seus resultados em até 50% em média.

“Uma maior eficiência nos Cuidados de Saúde Primários pode contribuir para uma redução dos internamentos hospitalares e, assim, ajudar a diminuir os custos evitáveis em saúde”, acrescenta o estudo.

Comparar para melhorar

Para os autores, “estes resultados podem ser utilizados pelos responsáveis dos Cuidados de Saúde Primários e pelos decisores políticos, que deverão fazer benchmarking, isto é, comparar as suas práticas com os seus pares regionais com maiores níveis de eficiência”.

Este trabalho mostra ainda “uma nova abordagem sobre os internamentos evitáveis, que pode ser estendida a muitas outras condições sensíveis aos cuidados primários, além da diabetes”.

“A alocação de profissionais às diferentes necessidades e prioridades de saúde em cada ACeS, a complexidade da lista de utentes de cada médico e os aspetos relacionados com questões demográficas e socioambientais são fatores fundamentais nesta equação, tendo em conta que os cuidados de saúde primários constituem a principal porta de entrada do sistema de saúde em Portugal”, indicam os investigadores.

Este trabalho foi desenvolvido pelos investigadores da FMUP e CINTESIS André Ramalho, Júlio Souza, Pedro Castro, Mariana Lobo, Paulo Santos e Alberto Freitas.