Numa altura em que a questão dos plásticos no oceano é um tema quente nas agendas ambientais mundiais, um estudo agora publicado na revista Marine Pollution Bulletin, envolvendo investigadores portugueses do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto, SPEA e MARE, revela que existem, em média, cerca de 230 resíduos de plástico a flutuar por cada quilómetro quadrado do Mar Mediterrâneo oriental.

O lixo marinho flutuante é já conhecido como um problema de poluição global com fortes impactos ambientais. Todos os anos cerca de oito milhões de toneladas de plástico (garrafas, embalagens e outros resíduos) chegam ao oceano, colocando em risco a vida marinha e levando à entrada de contaminantes na cadeia alimentar. Com este ritmo, calcula-se que, em 2050, os oceanos possam ter mais plásticos do que peixe. O plástico visível a flutuar é, contudo, apenas uma pequena fração do plástico que chega ao Oceano, pois estima-se que pelo menos 80% afunde e que exista uma enorme quantidade de plástico microscópico (microplástico <5mm) nas águas marinhas, invisíveis a olho nu.

Neste contexto, o Mar Mediterrâneo, com uma densidade populacional e tráfego marítimo intenso, não fica de fora do problema. Alguns estudos feitos nas zonas ocidental e central do Mar Mediterrâneo já tinham apontado para uma realidade preocupante no que diz respeito à presença de macroplásticos flutuantes. Contudo, pouco ou nada se sabia sobre a zona oriental do Mediterrâneo, altamente qualificada para o turismo e com uma vida marinha muito rica e particular.

Foi nesta perspetiva que um consórcio internacional que envolveu investigadores do CIIMAR, SPEA e MARE (Portugal) e do OceanSea (Espanha) se propôs estudar a quantidade, tipologia, origem e os padrões de circulação dos macroplásticos a flutuar nas águas do Mediterrâneo Oriental. Esta investigação, que utilizou dados de campo e técnicas de modelação matemática, concluiu que existe, em média, cerca de 232 resíduos visíveis de plásticos por cada quilómetro quadrado2, mas, nas zonas mais contaminadas, os valores podem chegar aos 1600 itens por quilómetro quadrado.

Estes números mostram que os valores de macroplásticos flutuantes nesta zona são em média superiores aos valores quantificados no Mediterrâneo Ocidental e Central, o que pode estar relacionado com os padrões de circulação das correntes e a existência de maiores fontes de lixo de origem terrestre nesta região.

Segundo Irene Martins, investigadora do CIIMAR e autora do artigo, “o Mar Mediterrâneo é muito vulnerável à problemática dos macro e microplásticos, uma vez que é parcialmente fechado, apresenta elevada densidade populacional e tráfego marítimo intenso, tornando-se um sistema privilegiado para o estudo sobre os impactos da poluição e a circulação dos plásticos em ecossistemas marinhos”.

A autora alerta ainda para a necessidade de se padronizar os protocolos a nível internacional dos inventários visuais de lixo flutuante marinho, bem como de desenvolver mais estudos sobre presença dos plásticos e microplásticos a diferentes níveis da coluna de água e nos fundos marinhos.

À medida que surgem novas investigações sobre os plásticos no Oceano vai sendo desvendada uma realidade cada vez mais preocupante, que deve ajudar a alertar e motivar a sociedade a todos os níveis, incluindo cidadãos, empresas e governos, para a necessidade de usar e descartar o plástico de uma forma responsável.