O patologista Manuel Sobrinho Simões, Professor Catedrático do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da U.Porto (Departamento de Patologia) e fundador e diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) – atualmente integrado no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), –  foi a personalidade escolhida pelo Presidente da República para presidir à Comissão Organizadora das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas 2017.

A cidade do Porto será o palco das cerimónias oficiais, divididas por dois dias – 9 e 10 de junho. Mas as comemorações estendem-se este ano até ao Brasil, junto das comunidades portuguesas de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Antes do arranque das celebrações, o Notícias U.Porto trocou algumas impressões com Sobrinho Simões sobre o evento, mas também sobre as suas memórias do Brasil e o papel da Universidade na defesa dos valores e da cultura portuguesa.

– Qual a importância de comemorar o País no dia em que se presume ter falecido Luís Vaz de Camões?

Penso que foi uma boa escolha pois não só Luís de Camões não terá falecido a 10 de junho de 1580, como Portugal seguramente não morreu nessa altura, apesar dos Filipes.

– Enquanto cidadão médico, investigador e professor universitário, como recebeu o convite para presidir às comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas deste ano?

Confesso que fiquei orgulhoso, mais por ser um portuense entusiástico do que pelas características académico-profissionais que refere. Agora lá que também fiquei com receio de “dar barraca”, passe o calão, lá isso fiquei.

– Este ano o Brasil foi também escolhido como local da celebração. Que comentário lhe merece esta circunstância e que memórias lhe evocam o facto de decorrer no que é conhecido como “país-irmão”?

Sou orgulhosamente portuense e muito amigo do Brasil e das suas gentes. As minhas memórias são enviesadas pelo meu percurso profissional e, por isso, entendo esta festa luso-brasileira sobretudo no sentido da Medicina e da Patologia, os mundos que conheço melhor. Estou seguro que experiências semelhantes existem em muitos outros domínios, das ciências básicas às engenharias, das ciências sociais à cultura, da economia ao mundo empresarial, mas vou centrar-me na medicina. Estive mais de 30 vezes no Brasil, em estadias de duração muito variável, sozinho, com a família, ou com colaboradores. Fui o Secretário do primeiro congresso internacional organizado em Portugal em que a patologia brasileira e os patologistas brasileiros foram formalmente convidados a participar. O Congresso realizou-se em Lisboa, em 1980, e ficou marcado pela morte trágica do primeiro-ministro Sá Carneiro num acidente aéreo. Apesar desse começo terrível o processo colaborativo entre as duas comunidades de patologistas, de Portugal e do Brasil, foi-se desenvolvendo e no Congresso da Sociedade Europeia que organizámos, no Porto, em 1989, tivemos já uma participação substancial dos colegas brasileiros. A partir daí – leia-se, a partir de 1990 – as relações intensificaram-se com a vinda para o Porto durante semanas, meses ou anos, de centenas de estagiários brasileiros e a ida ao Brasil de muitos médicos e técnicos da Faculdade de Medicina do Porto e do Ipatimup. A atestar a qualidade desta colaboração e para além dos aspetos importantíssimos da formação de internos e de especialistas, temos algumas centenas de artigos científicos luso-brasileiros publicados em revistas de elevada exigência editorial, “ganhámos” muitos prémios e conseguimos uma penetração notável no mundo da patologia da América Central e do Sul.

– Que papel atribui à Universidade do Porto enquanto eixo de afirmação e disseminação da cultura e valores que as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas também pretendem assinalar?

Mais do que um eixo, a Universidade do Porto é um dos polos fundamentais de uma rede que inclui a Câmara Municipal, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região do Norte e as grandes instituições culturais, académicas, científicas, assistenciais e desportivas do Norte em geral e do Porto em particular. Esta rede é uma espécie de tecido onde tudo se passa. Desde o que vem de fora – e a integração, tanto dos migrantes Erasmus, como dos Refugiados, é um “must” – até ao que se cria e dissemina a partir de dentro, seja conhecimento, sabedoria, afetividade