O que podemos aprender ao estudar mamíferos de uma longevidade excecional? Uma equipa de cientistas da Harvard Medical School, que integra o investigador José Pedro Castro, agora também do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), recorreu a amostras de tecido jovem de baleia franca do Ártico (também conhecida como baleia-da-Groenlândia), de rato-toupeira-nu e de morcegos de Brandt, que vivem aproximadamente 200, 35 e 40 anos, respetivamente, e identificou assinaturas génicas de cada espécie relacionados com a sua grande longevidade. Posteriormente, e com base nisso, conseguiu identificar compostos farmacológicos que aumentam a longevidade com saúde. O trabalho foi publicado na última edição da prestigiada revista Cell.

“Descobrimos que a principal droga identificada – a KU0063794 – é um inibidor de uma peça central do envelhecimento. Os valores registados são evidentes: aumento do tempo médio de vida em 30 por cento e aumento tempo máximo de vida em cerca de 11 por cento”, explica José Pedro Castro.

“Após a administração desta droga, os ratinhos velhos (de idade comparável a humanos entre 60 a 70 anos) que testámos ficaram mais rápidos, com melhorias em parâmetros relacionados com a visão e com o pêlo principalmente, mas com uma melhoria de saúde global significativa”, acrescenta.

A equipa começou por obter assinaturas génicas de mamíferos de longevidade excecional (Baleia franca do Ártico, rato-toupeira-nu e morcegos de Brandt) e cruzou os dados com as assinaturas de envelhecimento em ratinhos, ratazanas e humanos de várias idades. Após isso, recorreu a esses mesmos modelos de envelhecimento em ratinhos sujeitos a intervenções farmacológicas descritas que aumentam a esperança de vida para perceber se estas intervenções são diferentes dos mecanismos presentes nos animais com elevada longevidade selecionados ao longo da evolução.

O resultado, sublinha o investigador do i3S, “foi surpreendente: percebemos que os animais de longevidade excecional partilham muitos dos mesmos mecanismos moleculares do envelhecimento, o que sugere que muito do que se altera com a idade nos nossos tecidos são mecanismos de adaptação e não apenas algo que começa a correr mal. Agora o caminho é usar compostos que apenas estimulem as vias boas e não as vias que causam dano”.

Para José Pedro Castro, do i3S, o estudo agora revelado “abre caminho, não apenas para uma, mas para várias intervenções terapêuticas possíveis que visem retardar o processo de envelhecimento”. (Foto: i3S)

Este trabalho foi desenvolvido na Harvard Medical School e os próximos passos, garante o investigador do i3S, serão “usar estas assinaturas de longevidade e de envelhecimento para testar novas drogas e encontrar novas soluções terapêuticas sempre com o objetivo de aumentar a longevidade com saúde”.

Para além de tudo isto, “o estudo também demonstrou a maleabilidade do processo de  envelhecimento e do controlo da longevidade” que podem ser, como o investigador avança, “regulados por mecanismos comuns ou por vias de regulação génicas bastante distintas”.

“Esta é uma boa noticia porque abre caminho, não apenas para uma, mas para várias intervenções terapêuticas possíveis que visem retardar o processo de envelhecimento ou estimular vias pró-longevidade”, finaliza José Pedro Castro.