Anabela Cordeiro da Silva (ao centro), coordenou este novo estudo do i3S sobre a Leishmaniose.

O parasita que provoca a Leishmaniose tem uma mão cheia de estratégias para enganar o sistema imunológico. Os investigadores do i3S acabam de descobrir que lípidos libertados pelo parasita modulam a resposta de umas células do sistema imunológico envolvidas no processo inflamatório, as designadas células iNKT.

Conhecer a forma pela qual microrganismos infecciosos podem escapar à resposta imune é essencial para se desenvolverem abordagens de prevenção e tratamento das infecções. A infeção com o parasita Leishmania é muito comum em animais nalgumas regiões de Portugal, principalmente em cães, obrigando a cuidados profiláticos. Embora não existam muitos registos de infeção primária em humanos no nosso país, o panorama é mais crítico em países como o Brasil ou a Índia. Nos anos mais recentes, e com o risco de aumento desta infecção em virtude do aquecimento global, várias abordagens têm sido desenvolvidas, quer de rastreio, quer de tratamento. Mas “nunca é demais conhecer as estratégias adoptadas por estes microrganismos por poderem ser úteis para desenvolver métodos mais eficazes de combate, ou para serem aplicadas noutras áreas ao serviço da saúde”, afirma Anabela Cordeiro da Silva, coordenadora do estudo.

Células infectas com Leishmania.

Segundo a investigadora, a maior parte da atenção tem sido dada às moléculas proteicas da superfície do parasita e sabe-se que muitas modelam o sistema imunológico. Mas este trabalho centrou-se nos compostos que a Leishmania liberta para o meio durante a infecção, e o que é que esses compostos, nomeadamente lípidos, fazem em benefício do parasita. Quando se expõem as células iNKT a lípidos libertados pelo parasita a atividade e proliferação destas células é drasticamente diminuída. Fátima Macedo, cuja equipa de investigação se dedica ao estudo de linfócitos T específicos para lípidos incluindo as células iNKT destaca o clima favorável existente no i3S para o estabelecimento de sinergias científicas. A equipa de Fátima Macedo identificou recentemente um lípidos endógeno capaz de inibir a atividade das células iNKT e sublinha a importância do presente estudo descrever um mecanismo semelhante realizado por lípidos do parasita Leishmania.

Sobre aplicações desta descoberta, os investigadores referem que conhecer em detalhe os mecanismos que os agentes infecciosos utilizam para contornar as nossas defesas naturais é importante, não só para imaginar novas abordagens terapêuticas de doenças infeciosas, como abre possíveis novos caminhos para o tratamento de doenças inflamatórias e autoimunes. Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto NORTE-01-0145-FEDER-000012 , cofinanciado pelo Programa Operacional Regional do Norte (NORTE 2020), através do Portugal 2020 e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).