Um grupo de investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde alerta para o facto de a maioria dos pacientes afetados por hidradenite supurativa não estar a receber tratamento adequado.

Num trabalho publicado no International Journal of Dermatology, os investigadores daquela Unidade de I&D sediada na Universidade do Porto estimam que mais de 90% dos pacientes portugueses com esta doença de pele crónica possam não ter sido ainda identificados ou tratados, assumindo que a hidradenite supurativa afeta 1% da população (como indicam vários estudos europeus).

A hidradenite supurativa “é uma doença inflamatória crónica que atinge a pele e que se caracteriza pela presença de abcessos muito dolorosos, purulentos e, por vezes, com odor desagradável, que surgem sobretudo nas zonas das pregas da pele (axilas, virilhas e área perianal) e podem persistir durante anos”, explica João Vasco Santos, médico e investigador do CINTESIS. Esta patologia pode surgir em qualquer idade, mas é mais frequente em adultos jovens, sobretudo entre o sexo feminino. “Trata-se de uma doença crónica que afeta significativamente o paciente do ponto de vista físico e do ponto de vista psicológico”, nota o investigador.

Carmen Lisboa, investigadora do CINTESIS e professora da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), explica que existem duas razões para que esta doença esteja tão severamente subdiagnosticada e subtratada em Portugal: “em primeiro lugar, muitos doentes sentem-se constrangidos e envergonhados com esta doença e não recorrem ao médico. Em segundo lugar, porque os médicos têm dificuldade em realizar o diagnóstico desta patologia”.

Não existe um teste clínico que permita diagnosticar de forma clara a hidradenite supurativa. O diagnóstico é realizado através da avaliação dos sintomas dos pacientes. “Tratando-se de uma doença pouco abordada no ensino médico, importa-nos alertar a comunidade clínica para que redobre a atenção para com os sintomas desta doença e para que referenciem os casos para a especialidade de Dermato-venerologia, sempre que existam suspeitas de hidradenite”, alertam os investigadores.

“A hidradenite supurativa deve ser tratada tão precocemente quanto possível e de forma multidisciplinar”, sublinha Carmen Lisboa. Existem tratamentos tópicos e sistémicos que devem ser utilizados de forma conjunta com o controlo de fatores de risco como a obesidade, a diabetes, a hipertensão e o tabagismo, por exemplo. A cirurgia, que consiste na remoção de tecido cutâneo e subcutâneo afetado, está indicada e é proposta de acordo com doença caso-a-caso.

“É importante controlar a doença com os tratamentos existentes para que se reduza a realização de cirurgias altamente mutilantes, com enxertos de pele extensos”, alerta João Vasco Santos, lembrando que o número de cirurgias realizadas em Portugal nestes pacientes tem aumentado.

Num estudo publicado na revista científica Dermatology, a mesma equipa de investigação reporta que entre 2000 e 2014 se registaram 1551 hospitalizações de 1177 pacientes com esta doença. De acordo com João Vasco Santos, “o número de novas hospitalizações de doentes com hidradenite supurativa quase duplicou entre 2000 e 2013”.

Os resultados evidenciaram que cerca de 80% dos pacientes hospitalizados foram submetidos a cirurgia. “Cerca de 20% dos pacientes foram internados mais do que uma vez, no decorrer desta patologia, sendo que 2,2% registaram pelo menos quatro hospitalizações”, salienta o investigador do CINTESIS, esclarecendo que os pacientes estudados representam um grupo com doença com gravidade de moderada a grave

Os investigadores apontam também a necessidade de serem realizados estudos epidemiológicos adequados que permitam aferir o número real de pacientes com esta doença em Portugal e no resto da Europa.

Para além de João Vasco e Carmen Lisboa, a equipa de investigação incluiu Caterina Lanna, Altamiro da Costa-Pereira e Alberto Freitas, coordenador dos trabalhos científicos.