A investigação laboratorial na área da sexualidade humana já há muito tempo que tinha identificado várias respostas do nosso corpo quando excitado sexualmente, nomeadamente o ritmo cardíaco acelerado, pupilas dilatadas e maior afluência de sangue aos genitais. Mas uma colaboração entre cientistas internacionais e a equipa do SexLab – Laboratório de Investigação em Sexualidade Humana, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP) provou que a excitação também pode ser detetada na respiração.

Num estudo publicado recentemente na prestigiada revista científica Scientific Reports, do grupo Nature, foi demonstrado que existem moléculas voláteis muito especificas na respiração de alguém que esteja excitado sexualmente. Concluiu-se que os participantes, quando estavam excitados sexualmente, expiravam menos isopreno e dióxido de carbono, mas aumentavam a concentração de produtos de degradação de neurotransmissores específicos.

De acordo com os investigadores envolvidos, esta descoberta pode futuramente permitir uma nova técnica de avaliação clínica da excitação sexual e, deste modo, melhorar o diagnóstico das disfunções sexuais.

Um traço químico da «hormona da felicidade»

Para este estudo, 12 homens e 12 mulheres foram convidados a assistir a diferentes filmes de dez minutos no SexLab. De forma aleatória, assistiram a documentários sobre viagens pela natureza, filmes de terror, jogos de futebol e filmes eróticos. Enquanto isso, a equipa do SexLab mediu a excitação sexual e, simultaneamente, os investigadores do Instituto Max Planck analisaram a respiração a nível dos compostos orgânicos voláteis.

“A tecnologia, que habitualmente utilizamos no Sexlab, permite-nos registar, em tempo real, a resposta fisiológica dos nossos participantes aos conteúdos que lhes são apresentados. No entanto, esta é a primeira vez que associamos o uso de técnicas analíticas para identificar os compostos voláteis relacionados com a resposta sexual”, explica Mariana Carrito, investigadora pós-doutorada do Sexlab.

Durante os filmes eróticos, registou-se uma variação significativa na quantidade de vários compostos orgânicos voláteis na respiração, nomeadamente na concentração de dióxido de carbono e isopreno.

“O facto de a concentração de dióxido de carbono e isopreno, na respiração, ter diminuído pode derivar do facto de existir mais fluxo sanguíneo nos genitais do que nos músculos e nos pulmões” explica Nijing Wang, a primeira autora do estudo.

“Nos homens, encontrámos fenol, cresol e indol. Estes parecem ser os indicadores típicos de excitação sexual”, adianta ainda a investigadora. Estas substâncias formam-se durante a degradação do aminoácido triptofano, uma substância precursora das moléculas neurotransmissoras serotonina e tirosina, a partir das quais o nosso corpo produz dopamina e noradrenalina, respetivamente.

Sabe-se que estas últimas desempenham um importante papel na resposta de excitação sexual e produzem-se rapidamente no organismo. Entre outros efeitos, permitem um estado mais eufórico durante a excitação sexual. Num dos participantes, os investigadores conseguiram mesmo detetar a dopamina, também considerada a «hormona da felicidade», diretamente no seu hálito.

Contribuir para avaliar as disfunções sexuais

Estudar os compostos orgânicos libertados pela respiração durante a resposta sexual é particularmente relevante sob o ponto de vista clínico. “A possibilidade de determinar, de um modo não invasivo, a excitação sexual de uma pessoa, através da sua respiração, seria um grande avanço para a investigação em sexologia,” afirma Pedro Nobre, o diretor do Sexlab e Professor Catedrático na FPCEUP.

Até agora, a tecnologia utilizada para medir a resposta sexual pressuponha a colocação de sensores diretamente no corpo dos participantes. Mas, segundo Pedro Nobre, a análise da respiração pode facilitar a avaliação da excitação sexual e, em última análise, ajudar no processo de avaliação de disfunções sexuais.

A ideia para o estudo veio do cientista atmosférico Jonathan Williams, de Mainz. A sua equipa já tinha sido capaz de mostrar em estudos anteriores que as pessoas emitem constantemente sinais químicos para o ar através da sua respiração e pele, que se alteram dependendo do seu estado emocional. Por exemplo, numa sala de cinema lotada, identificaram as moléculas voláteis que os espectadores exalavam, particularmente nas cenas mais excitantes.

O estudo foi realizado no âmbito do projeto Horizonte 2020 IMPACT da Comissão Europeia. Foi aprovado pela Comissão de Ética da FPCEUP, tendo sido obtido o consentimento prévio de todos/as os/as participantes no estudo.